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REGIME MILITAR
Presidente da Comissão de Direitos Humanos considera um "vexame"; cabe recurso da decisão
Ministro do STM arquiva caso Riocentro
free-lance para a Folha
O caso Riocentro foi arquivado
ontem pelo ministro Carlos Alberto Marques Soares, do STM
(Superior Tribunal Militar). Ele
determinou o arquivamento sob
o argumento de que, do ponto de
vista jurídico, não há mais nada a
ser feito.
O presidente da Comissão de
Direitos Humanos, deputado Nilmário Miranda (PT-MG), considerou a decisão do ministro um
"vexame" para o STM. "É lamentável. O país inteiro sabe que o
Riocentro foi uma farsa."
A comissão foi responsável pelo
último pedido de reabertura do
caso, em julho do ano passado.
Nilmário Miranda adiantou que
vai pedir à procuradora da Justiça
Militar, Adriana Lorandi Ferreira
Carneiro, que entre com recurso
contra a decisão do tribunal.
A procuradora tem cinco dias
para recorrer da decisão. Se fizer
isso, o caso será analisado em plenário pelos 12 ministros do STM.
No entender do ministro-relator, Marques Soares, a Lei da
Anistia e a emenda constitucional
26, que ampliou os efeitos dessa
lei, não permitem que o caso seja
reaberto. Lembrou que um julgamento do tribunal, em 88, anistiou todos os envolvidos por crimes políticos no regime militar
(1964-1985).
O tribunal declarou, na época,
que os militares envolvidos não
poderiam ser punidos, por estarem contemplados pela Lei da
Anistia. "A anistia extingue o crime", diz o texto da decisão de
Marques Soares.
Em um despacho de 20 páginas,
o ministro-relator ressaltou a importância histórica da reabertura
do caso. Lembrou que em outras
três vezes a reabertura foi barrada, mas decidiu: "Mesmo diante
de novas provas, nada poderá se
fazer".
Ontem, informado pela Folha
da decisão do STM, o coronel
Wilson Machado reagiu com ironia. "Não aceitaram a denúncia?
Não me diga!". E completou:
"Acho bom, mas não sei o que isso significa na minha vida. Eu
nunca me preocupei com esse caso, apesar de me sentir incomodado algumas vezes".
O coronel Machado trabalha
em Brasília, no Quartel-General
do Exército, e era um dos militares que estava no Riocentro, local
do atentado a bomba, 19 anos
atrás, em 30 de abril de 81.
O atentado a bomba aconteceu
durante um show de música popular em comemoração do Dia
do Trabalho, quando o país vivia
a chamada abertura política.
Uma das bombas explodiu na
casa de força do centro de convenções do Rio. A outra explodiu
dentro de um Puma onde estavam Machado e o sargento Guilherme do Rosário. O sargento
morreu com a explosão da bomba e Machado ficou gravemente
ferido.
Com a decisão do ministro
Marques Soares do STM de arquivar o processo, deixou de ser reconhecida também a representação criminal contra o coronel
Wilson Machado (capitão na época do atentado).
Ele era o único personagem que
em tese ainda corria o risco de ser
condenado por omissão. Em documento ao qual a Folha teve
acesso, o ex-procurador-geral da
Justiça Militar Kleber Coêlho definiu a conduta de Machado ao
STM como "anuência omissiva",
ao descrever a participação de seis
militares -três generais, dois coronéis e um sargento.
Segundo Coêlho, Machado tinha a obrigação de evitar a morte
do sargento Guilherme do Rosário, ou seja, de impedi-lo de manipular bomba dentro de seu carro,
o Puma onde houve a explosão.
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