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GUERRA DOS JUROS
Presidente afirma não poder desmoralizar decisões de órgão do BC
Críticas atrapalham queda dos juros, diz Lula a Alencar
Sérgio Lima - 26.mai.03/Folha Imagem
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu vice, José Alencar, conversam em evento do Fome Zero |
KENNEDY ALENCAR
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva pediu ao seu vice, José Alencar, durante conversa de 40 minutos ontem na Base Aérea, em Brasília, que modere em definitivo as
críticas aos juros altos e que tenha
paciência porque o governo estaria confiante de que a taxa básica
de juros, hoje em 26,5%, cairá em
breve. Lula, porém, não marcou
data para a queda.
Oficialmente, o vice teria ido à
Base Aérea receber Lula porque
não teria cumprido a obrigação
protocolar de fazê-lo em São Paulo, praxe em viagens internacionais devido à transmissão interina do cargo. Lula chegou da Europa segunda-feira à noite e ficou em São Paulo.
Segundo a Folha apurou, num
clima afetuoso Lula foi franco ao
dizer que as declarações de Alencar em tom duro contra a política
econômica só dificultavam os planos de queda dos juros.
Disse que ele e o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, já
trabalham nos bastidores pela diminuição, mas que não poderão
desmoralizar o Copom (Conselho
de Política Monetária), órgão do
BC (Banco Central) que fixa os juros básicos da economia. É a segunda vez que Lula pede para o
vice abrandar suas críticas. No
mês passado, Palocci disse ao presidente que em junho ou julho haveria condições para a queda dos
juros básicos.
No encontro na Base Aérea, Lula disse ainda a Alencar que não
estava chateado e que ambos, por
serem amigos, devem enfrentar
juntos as dificuldades do governo.
O vice prometeu evitar entrevistas
polêmicas sobre juros até a próxima reunião do Copom. Disse ao
presidente que não teve a intenção de afrontá-lo, ao dar entrevista segunda-feira pedindo "decisão política" para baixar os juros.
Lula comprou a versão de Alencar. O presidente, apesar de ter ficado contrariado, gosta do vice e
não pretende tratá-lo de modo
duro. Já os ministros José Dirceu
(Casa Civil), Antonio Palocci Filho (Fazenda) e Luiz Gushiken
(Comunicação de Governo), que
formam com Lula a cúpula do governo, estão mais contrariados do
que o presidente.
Acreditam que Alencar, com as
declarações, joga o desgaste todo
para Lula, fica com a fama de lutar
por uma "boa causa" e pressiona
o governo a marcar uma data para a redução dos juros.
Dirceu, por exemplo, acha que
Alencar passou dos limites, porque, ao se despedir de Lula uma
semana antes, dissera que não daria entrevistas enquanto estivesse
no exercício da Presidência.
Após o encontro, o presidente
foi para o Palácio da Alvorada,
onde se reuniu com ministros e
auxiliares. Já Alencar retornou
para seu gabinete no Palácio do
Planalto. Demonstrou estar bem-humorado durante o dia e não
modificou sua rotina de audiências com políticos e empresários.
Durante o dia, em encontros
privados, Alencar repetiu suas
opiniões sobre os juros e teria dito, segundo relatos, que a economia está "encabrestada pela lógica
de mercado". Em audiências, disse querer que todos entendam
que não está defendendo os interesses de suas empresas.
"Eu não estou trabalhando em
causa própria porque minhas empresas são aplicadoras de recursos, não tomadoras de recursos. E
olha que não tem nada que renda
mais que esses juros. A cada três
anos o capital dobra, numa mão
segura e garantida que é o governo", disse Alencar, segundo relatos do senador Aelton Freitas (PL-MG), seu suplente, e outros dois
empresários mineiros.
À noite, ao deixar a Vice-Presidência, às 20h50, Alencar negou
indiretamente que Lula tenha pedido a ele para amenizar as críticas à política de juros. Questionado sobre como havia sido a conversa, afirmou que "não teve nada
daquilo que vocês [jornalistas]
gostariam que tivesse".
Segundo Alencar, em vez de fazer qualquer tipo de repreensão,
Lula o surpreendeu oferecendo o
avião presidencial para ele ir hoje
de manhã a Salvador. "Vocês vão
falar que ele deve ter posto alguma coisa no avião para o avião
cair, já que ele não gosta de mim",
brincou o vice.
Alencar reúne hoje a bancada
do PL na Câmara e no Senado em
um jantar no Palácio do Jaburu. O
jantar servirá como um ato de
apoio do partido ao vice. O PL diz,
porém, que o evento estava marcado desde meados de maio, sem
ter relação com a crise.
Colaborou OTÁVIO CABRAL, do Painel
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