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Para Dirceu, vice fortalece os radicais
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Além da consideração pessoal
por José Alencar, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva decidiu
usar um tom afetuoso ao pedir
moderação ao seu vice a fim de
evitar uma crise de proporções
maiores no governo. O ministro
da Casa Civil, José Dirceu, estava
preparado para a guerra.
Dirceu não gostou de saber que
Alencar pediu ao ministro dos
Transportes, Anderson Adauto
(PL), que não tivesse apego ao
cargo. O ministro leu como uma
declaração de que Alencar subiria
ainda mais o tom das críticas aos
juros altos.
No momento em que tenta debelar focos de rebelião na base do
governo, o comportamento de
Alencar, na visão de Dirceu, dificulta seu trabalho. A ameaça velada de saída de Adauto, por exemplo, poderia abrir uma crise com
o PL, partido que tem 33 deputados federais e que é muito influenciado por Alencar.
Mais: na visão de Dirceu, Alencar dá combustível para as críticas
dos radicais petistas e do grupo de
30 parlamentares do PT que lançou um manifesto na semana passada contra a política econômica.
Afinal, se o vice pode criticar, por
que outros não podem?
Como Dirceu, com aval de Lula,
tem optado por punir os rebeldes,
deixar Alencar continuar a criticar o governo seria suicídio político, crê o ministro da Casa Civil.
Daí a decisão de Lula de pedir, pela segunda vez, que o vice abrandasse suas críticas.
Ciente da contrariedade de Dirceu, com quem conversou sobre o
"imbróglio Alencar" após sua
chegada ao Brasil, Lula optou por
falar francamente com o vice, mas
de forma conciliatória.
Lula não deseja fazer "marolas",
na expressão de um auxiliar, no
momento em que mais precisa
reunir forças políticas para aprovar as reformas tributária e previdenciária no Congresso.
Apesar de avaliar que Alencar
faz as críticas como porta-voz empresarial -o vice é dono de empresas-, Lula acha que, na segunda-feira, ele foi induzido a cair
numa jogada do vice-presidente
do Senado, Paulo Paim (PT-RS),
para obter espaço na mídia.
Paim visitou Alencar e o incentivou a falar com os repórteres.
Foi nesse contexto que foi dada a
entrevista coletiva na qual o vice
pediu interferência "política" para baixar os juros.
O comportamento de Paim levou Dirceu a pedir que o ministro
da Previdência, Ricardo Berzoini,
não o recebesse em audiência na
terça-feira. Foi um recado a Paim
e aos petistas que bombardeiam
as reformas. Se insistirem, o governo os hostilizará.
(KENNEDY ALENCAR)
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