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São Paulo, quinta-feira, 05 de junho de 2003

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Para Dirceu, vice fortalece os radicais

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Além da consideração pessoal por José Alencar, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu usar um tom afetuoso ao pedir moderação ao seu vice a fim de evitar uma crise de proporções maiores no governo. O ministro da Casa Civil, José Dirceu, estava preparado para a guerra.
Dirceu não gostou de saber que Alencar pediu ao ministro dos Transportes, Anderson Adauto (PL), que não tivesse apego ao cargo. O ministro leu como uma declaração de que Alencar subiria ainda mais o tom das críticas aos juros altos.
No momento em que tenta debelar focos de rebelião na base do governo, o comportamento de Alencar, na visão de Dirceu, dificulta seu trabalho. A ameaça velada de saída de Adauto, por exemplo, poderia abrir uma crise com o PL, partido que tem 33 deputados federais e que é muito influenciado por Alencar.
Mais: na visão de Dirceu, Alencar dá combustível para as críticas dos radicais petistas e do grupo de 30 parlamentares do PT que lançou um manifesto na semana passada contra a política econômica. Afinal, se o vice pode criticar, por que outros não podem?
Como Dirceu, com aval de Lula, tem optado por punir os rebeldes, deixar Alencar continuar a criticar o governo seria suicídio político, crê o ministro da Casa Civil. Daí a decisão de Lula de pedir, pela segunda vez, que o vice abrandasse suas críticas.
Ciente da contrariedade de Dirceu, com quem conversou sobre o "imbróglio Alencar" após sua chegada ao Brasil, Lula optou por falar francamente com o vice, mas de forma conciliatória.
Lula não deseja fazer "marolas", na expressão de um auxiliar, no momento em que mais precisa reunir forças políticas para aprovar as reformas tributária e previdenciária no Congresso.
Apesar de avaliar que Alencar faz as críticas como porta-voz empresarial -o vice é dono de empresas-, Lula acha que, na segunda-feira, ele foi induzido a cair numa jogada do vice-presidente do Senado, Paulo Paim (PT-RS), para obter espaço na mídia.
Paim visitou Alencar e o incentivou a falar com os repórteres. Foi nesse contexto que foi dada a entrevista coletiva na qual o vice pediu interferência "política" para baixar os juros.
O comportamento de Paim levou Dirceu a pedir que o ministro da Previdência, Ricardo Berzoini, não o recebesse em audiência na terça-feira. Foi um recado a Paim e aos petistas que bombardeiam as reformas. Se insistirem, o governo os hostilizará.
(KENNEDY ALENCAR)


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