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ABC DA POLÍTICA
"Estou provando que não preciso falar inglês para ser respeitado", diz Lula, ao auto-elogiar sua política externa
Petista propõe união de "pobres" contra G8
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva defendeu ontem que os
países em desenvolvimento se
unam e estabeleçam "política de
troca" que os farão mais "respeitados" pelas nações desenvolvidas. Disse ainda que tem demonstrado ser desnecessário dominar
uma língua estrangeira para se relacionar com chefes de Estado.
"Estou provando que não preciso falar inglês para ser respeitado
no mundo. Tenho que falar português. Tenho que falar, pura e
simplesmente, a língua de 175 milhões de brasileiros para ser respeitado no mundo", disse Lula, ao
auto-elogiar a política externa do
seu governo, durante o 8º Congresso da CUT, que se realizado
em São Paulo.
Segundo o presidente, antes da
eleição, os "preconceituosos" diziam: "Como é possível o Lula governar um país, se ele não sabe falar inglês? Como é que ele vai conseguir conversar com o [George W.] Bush [presidente dos EUA],
conversar com o Tony Blair [primeiro-ministro inglês]?" A declaração arrancou aplausos da platéia de sindicalistas.
Durante discurso para cerca de
2.000 delegados cutistas, Lula fez
comentários sobre sua participação no encontro do G8 (que reúne
os sete países mais industrializados e a Rússia), em Evian (França). O presidente brasileiro e
mandatários de 11 países em desenvolvimento participaram do
chamado "diálogo ampliado"
com as nações mais ricas.
"Não precisamos ser convocados pelo G8 para falar das nossas
reivindicações. Sozinhos, temos
força suficiente para estabelecer
entre nós uma política de troca, e,
quando fizermos isso, o G8 vai
nos chamar e nos respeitar muito
mais", disse o presidente. Ele reproduzia uma proposição que, segundo afirmou, transmitiu aos presidentes da China (Hu Jintao),
da Rússia (Vladimir Putin), da
África do Sul (Thabo Mbeki) e da
Índia -na realidade, referia-se ao
premiê indiano, Atal Vajpayee.
Em encontros com esses líderes,
Lula pediu maior cooperação
Sul/Sul, ou seja, entre os países do
hemisfério, e sugeriu que se faça
no Brasil a próxima cúpula do
G15, grupo diplomático do qual
essas nações fazem parte.
Aos sindicalistas, o presidente
voltou a enfatizar a necessidade
da integração entre os países da
América Latina.
Lembrando o início de sua vida
sindical, na década de 70, Lula declarou: "O primeiro boletim [informe dos metalúrgicos] que fiz
na vida mostrava que um trabalhador sozinho era um graveto fácil de quebrar. Mas um monte de
gravetinhos juntos era um feixe
de lenha tão forte, que ninguém
conseguiria quebrá-lo. A América
do Sul e a América Latina vão se
unir para se tornar um feixe difícil
de ser quebrado".
O presidente afirmou também
que a "integração" dos países em
desenvolvimento é a forma mais
fácil de fazer com que as nações ricas atendam determinadas reivindicações do grupo, como o fim
do subsídio aos produtos agrícolas. Fez piada ainda sobre as diversas vezes em que se emocionou publicamente e afirmou que
não é um negociador frágil:
"Quem me conhece sabe que não
sou de chorar em reunião. Sou de
chorar de emoção no meio de vocês".
(JULIA DUAILIBI e PLÍNIO FRAGA)
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