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São Paulo, quinta-feira, 05 de junho de 2003

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ABC DA POLÍTICA

"Estou provando que não preciso falar inglês para ser respeitado", diz Lula, ao auto-elogiar sua política externa

Petista propõe união de "pobres" contra G8

DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem que os países em desenvolvimento se unam e estabeleçam "política de troca" que os farão mais "respeitados" pelas nações desenvolvidas. Disse ainda que tem demonstrado ser desnecessário dominar uma língua estrangeira para se relacionar com chefes de Estado.
"Estou provando que não preciso falar inglês para ser respeitado no mundo. Tenho que falar português. Tenho que falar, pura e simplesmente, a língua de 175 milhões de brasileiros para ser respeitado no mundo", disse Lula, ao auto-elogiar a política externa do seu governo, durante o 8º Congresso da CUT, que se realizado em São Paulo.
Segundo o presidente, antes da eleição, os "preconceituosos" diziam: "Como é possível o Lula governar um país, se ele não sabe falar inglês? Como é que ele vai conseguir conversar com o [George W.] Bush [presidente dos EUA], conversar com o Tony Blair [primeiro-ministro inglês]?" A declaração arrancou aplausos da platéia de sindicalistas.
Durante discurso para cerca de 2.000 delegados cutistas, Lula fez comentários sobre sua participação no encontro do G8 (que reúne os sete países mais industrializados e a Rússia), em Evian (França). O presidente brasileiro e mandatários de 11 países em desenvolvimento participaram do chamado "diálogo ampliado" com as nações mais ricas.
"Não precisamos ser convocados pelo G8 para falar das nossas reivindicações. Sozinhos, temos força suficiente para estabelecer entre nós uma política de troca, e, quando fizermos isso, o G8 vai nos chamar e nos respeitar muito mais", disse o presidente. Ele reproduzia uma proposição que, segundo afirmou, transmitiu aos presidentes da China (Hu Jintao), da Rússia (Vladimir Putin), da África do Sul (Thabo Mbeki) e da Índia -na realidade, referia-se ao premiê indiano, Atal Vajpayee.
Em encontros com esses líderes, Lula pediu maior cooperação Sul/Sul, ou seja, entre os países do hemisfério, e sugeriu que se faça no Brasil a próxima cúpula do G15, grupo diplomático do qual essas nações fazem parte.
Aos sindicalistas, o presidente voltou a enfatizar a necessidade da integração entre os países da América Latina.
Lembrando o início de sua vida sindical, na década de 70, Lula declarou: "O primeiro boletim [informe dos metalúrgicos] que fiz na vida mostrava que um trabalhador sozinho era um graveto fácil de quebrar. Mas um monte de gravetinhos juntos era um feixe de lenha tão forte, que ninguém conseguiria quebrá-lo. A América do Sul e a América Latina vão se unir para se tornar um feixe difícil de ser quebrado".
O presidente afirmou também que a "integração" dos países em desenvolvimento é a forma mais fácil de fazer com que as nações ricas atendam determinadas reivindicações do grupo, como o fim do subsídio aos produtos agrícolas. Fez piada ainda sobre as diversas vezes em que se emocionou publicamente e afirmou que não é um negociador frágil: "Quem me conhece sabe que não sou de chorar em reunião. Sou de chorar de emoção no meio de vocês". (JULIA DUAILIBI e PLÍNIO FRAGA)


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