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ESTRANGEIROS
Papéis de consultor podem ter se extraviado
Belga espera há um ano e meio por visto
da Reportagem Local
A professora brasileira Cláudia
Cristina Porto, 29, e seu marido, o
belga Marc Raymound Bernard
Schmitz, 31, foram informados há
cerca de dois meses pela Polícia
Federal (PF) de que os documentos entregues para a obtenção de
visto permanente que permita a
retirada de carteira de identidade
de estrangeiro com residência no
país podem ter sido extraviados.
""Falaram que a gente tem de dar
entrada de tudo de novo. Eu me
nego a fazer isso. Já fiz tudo corretamente. É obrigação deles
achar", declara a professora.
Casados na Bélgica em 93 e pais
de uma brasileira de oito meses,
desde novembro de 97 os dois
tentam regularizar a situação de
Schmitz na PF. O pedido de visto
permanente é o primeiro passo
para a retirada da identidade.
Em busca da documentação necessária para dar início ao processo, o casal pagou R$ 450 a um escritório despachante localizado
na avenida Prestes Maia, próximo
ao prédio da PF em São Paulo.
Encerrado o prazo de um ano e
meio previsto pelo despachante
para a entrega da carteira de identidade, Schmitz procurou a polícia e recebeu a notícia de que não
há dados disponíveis sobre o andamento de sua solicitação.
Entre os papéis entregues por
ele -todos com tradução juramentada-, estão: atestado de
bons antecedentes, registro de
nascimento, certidão de casamento e informações fornecidas
pelo consulado belga.
No final do ano passado, Cláudia procurou o escritório que havia contratado em busca de ajuda, mas foi informada de que o
despachante encarregado de seu
caso não trabalhava mais no local.
O casal afirma que vem enfrentando dificuldades financeiras
devido à falta dos documentos.
De posse apenas de um protocolo que indica a existência do
pedido de fixação de residência
no país, Schmitz, consultor em
relações públicas, diz já ter perdido duas oportunidades de emprego em empresas multinacionais localizadas no Brasil.
Ele também afirma não ter tido
acesso a carteira de motorista e a
contas bancárias.
""Dou aulas de inglês como
uma condenada para poder sustentar a casa. Ele dá uma ou outra
aula também para poder me ajudar. Caso contrário, a gente não
sobrevive", declara Cláudia.
O protocolo, cuja validade pode
ser prorrogada, é substituído pela
Carteira de Identidade de Estrangeiros Permanentes do RNE (Registro Nacional de Estrangeiros)
no momento em que o governo
federal concorda com a permanência definitiva do imigrante.
De caráter provisório, essa tira
de papel é o único documento que
o estrangeiro pode apresentar na
tentativa de demonstrar que não
está ilegalmente no Brasil.
Schmitz não sabe sequer se foi
aceito no país, já que, segundo o
casal, seu pedido de residência
ainda não teve resposta do Ministério da Justiça, que a publica no
""Diário Oficial da União".
""Estamos há dois anos nessa situação. Até quando vamos esperar? O Marc está semiclandestino
aqui e tem até pesadelos de que
não vai poder ficar. Gostaria de
morar aqui e criar minha filha,
mas, se até o final do ano isso não
se resolver, vamos voltar para a
Bélgica", diz Cláudia.
Segundo o delegado Luciano
Pestana Barbosa, chefe do setor
de operação da Delegacia de Polícia Marítima, Aeroportuária e de
Fronteiras da PF, não há impedimento legal para que Schmitz trabalhe no país, tire carteira de motorista e abra contas em banco.
""Isso depende desses respectivos órgãos. A única coisa é que o
Ministério do Trabalho não emitirá carteira de trabalho enquanto
ele não tiver a identidade."
No país de origem de seu marido, a professora recebeu uma carteira de identidade provisória
dois dias depois de casada. O documento definitivo foi entregue
três meses mais tarde.
A PF já abriu em Bauru (345 km
de São Paulo) inquérito para apurar suposta prática de corrupção
por policiais encarregados do
atendimento a estrangeiros.
A abertura do inquérito foi motivada por reportagem da Folha
em que foram relatados casos de
estrangeiros que, como Schmitz,
vêm tendo dificuldades de obter
as carteiras de identidade.
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