São Paulo, domingo, 5 de julho de 1998 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice NORDESTE Mulheres deixam de amamentar para trabalhar Grávida transporta pedra por R$ 50/mês
ARI CIPOLA da Agência Folha, em Soledade (PB) As frentes de trabalho criadas para amenizar a fome durante a seca estão colocando mulheres grávidas, idosas, em fase de amamentação e que possuem filhos desnutridos no trabalho de carregar pedras em açudes secos do município de Soledade (PB). As mulheres trabalham 15 horas por semana por um salário mensal de R$ 50. No mês passado, a carga de trabalho foi de 30 horas por semana. No total, são 300 mulheres entre as mil pessoas contratadas pelo governo paraibano. Entre elas, pelo menos 36 estão grávidas e 30 deixam os filhos desnutridos em casa. Uma das consequências do trabalho dessas mulheres, segundo a coordenadora do Programa de Agentes de Saúde, Walba de Arruda Nóbrega, é o aumento do número de crianças desnutridas. Em dezembro do ano passado, por exemplo, apenas 5% das crianças com até dois anos estavam desnutridas no município. Hoje, o índice é de 36,6%, segundo Nóbrega. Com o trabalho, as mães também abandonam o aleitamento materno, considerado a principal arma contra a desnutrição e a mortalidade infantil. Em Soledade, 40% das mães amamentavam suas crianças com o próprio leite até dezembro passado. No final de abril, esse número havia se reduzido quase à metade, 22%. "É preciso criar uma alternativa para as mães e gestantes, pois poderemos ter uma explosão na mortalidade infantil nos próximos meses", afirmou Nóbrega. O trabalho que elas desempenham consiste em fazer pequenos montes de pedras que estão no chão do açude seco da barragem Macambira, a um quilômetro do centro da cidade. Depois, elas transportam as pedras em carrinhos de mão até a beira de uma cerca ou cobrem buracos da barragem. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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