São Paulo, domingo, 5 de julho de 1998

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Envolvidos se dividem sobre divulgar o episódio

da Reportagem Local

A morte de Elizabeth Conceição Mazza Nunes é um tabu entre ex-guerrilheiros da VPR, a Vanguarda Popular Revolucionária. O episódio divide militantes até hoje: há os que são a favor e os que são contra a divulgação do episódio.
Após 30 anos, quando o crime já foi prescrito, ex-guerrilheiros que participaram do enterro com Pedro Lobo se recusam a falar no assunto. Temem que a revelação de mais detalhes sobre a morte comprometa pessoas que participaram do ocultação do corpo.
João Quartim de Moraes, 56, ex-militante da VPR e professor de filosofia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), é uma das vozes contrárias à divulgação de todos os envolvidos no caso.
"Quando ACM (o senador Antonio Carlos Magalhães) é considerado um benfeitor público, é legítimo que uma confraria inorganizada de veteranos da luta armada faça um pacto de não divulgar o que sabemos sobre as circunstâncias da morte da Beth", defende.
O detalhamento, diz, pode complicar a vida de algumas pessoas.
Quartim de Moraes acha que a elucidação da verdade é positiva: "O desejo da família de saber o que aconteceu é justíssimo".
Mas há um valor mais forte, segundo ele: "Vamos supor que o Lula ganhe a eleição. Quem pode garantir que, num clima de baderna, não poderá haver um golpe? Os militares até hoje nos tratam como bandidos -esse valor é mais forte. Não vou revelar o segredo", afirma, referindo-se à autora do disparo.
Ele diz, porém, não ter a consciência tranquila: "Não tenho a consciência límpida porque nós deixamos essa família 30 anos sem saber das coisas". O que o embaraça, também, é que Elizabeth "não foi morta pela repressão".
Dulce Maia e Pedro Lobo têm uma posição oposta sobre a divulgação do episódio. "Essa história deve ser contada por causa das crianças. Ninguém sabe nada sobre os anos 60. Tentamos fazer algo pelo Brasil e as crianças precisam saber disso", diz Dulce.
Ninguém da VPR relatou o ocorrido à família porque não a conhecia, segundo Dulce. "Por razões de segurança. Nem o nome verdadeiro das pessoas nós sabíamos".

VPR
A Vanguarda Popular Revolucionária foi criada em março de 1968, ainda sem esse nome, e fez algumas das ações mais espetaculares da guerrilha, como o assalto a um hospital militar em São Paulo. A fundação oficial da organização ocorreu em dezembro de 1968.
Um mês depois, a VPR conseguiria sua mais famosa adesão: o capitão do Exército Carlos Lamarca fugiu com armas de um quartel em Quitaúna (Grande São Paulo) para se unir aos guerrilheiros.
(MCC)



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