São Paulo, quinta-feira, 05 de agosto de 2004

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JANIO DE FREITAS

A má defesa

A inabilidade do governo Lula diante de acusações ou suspeições pode dever-se em parte à inexperiência, mas sobretudo trai um autoritarismo latente e mal disfarçado.
Até agora, as acusações que atingiram os presidentes do Banco Central e do Banco do Brasil, Henrique Meirelles e Cássio Casseb, não são irrespondíveis, não os comprometeram de maneira irremediável. A um e a outro cabe demonstrar suas condições de esvaziá-las, admitindo-se que ambos as tenham.
O que não cabe, nesse caso como em circunstâncias semelhantes, é vir o presidente da República a incumbir-se de negar as irregularidades atribuídas aos dois auxiliares. A função presidencial não pode ser a de advogado de defesa. O que é sua responsabilidade é providenciar esclarecimentos e adotar a decisão adequada, que tanto pode ser a exoneração como a ordem para que os envolvidos prestem ao país as informações devidas.
Maior e pior é a impropriedade se, declaradamente como portador de conceitos do presidente, o chefe da Casa Civil expõe essa posição do governo, falando das referências contrárias a Henrique Meirelles: "Não se pode colocar o Banco Central, que é a autoridade monetária do país e do qual dependem a credibilidade e a estabilidade do país, na situação em que está colocado. O governo não aceita essa situação".
No tom pode haver a contribuição pessoal de José Dirceu, mas, primeiro, Henrique Meirelles não é o Banco Central. Além disso, de onde o presidente e o chefe da Casa Civil tiram a idéia, incompatível com as liberdades democráticas, de que o Banco Central e seu presidente não são passíveis de contestação, crítica ou acusações? Só de uma fonte podem tirá-la: o autoritarismo.
Se "o governo não aceita essa situação", ou se habitue a ela ou tente mudar o regime.
Um mínimo de habilidade e de respeito democrático pela opinião pública evitam, com o pronto esclarecimento ou a pronta medida saneadora, as enrascadas em que o governo se mete a cada caso incômodo. Está aí o desgaste com a compra ridícula de R$ 70 mil em convites como ajuda do Banco do Brasil ao caixa do PT. O assunto precisou entrar na segunda semana, até que a Presidência concluísse pela necessidade de alguma ação reparadora, porque as saídas falsas não iludiram mídia e opinião pública. Este, aliás, é o primeiro estouro da mistura de cargo oficial (diretor do BB, por exemplo) com gente (Henrique Pizzolato, entre outros) das finanças do PT. Outros estão por vir.

Resposta
Os leitores da Folha puderam ler a recomendação de recente entrevistado, cujo filho foi vítima de seqüestro-relâmpago em São Paulo, para que outras possíveis vítimas reajam a assaltantes e sequestradores.
Uma universitária de 21 anos recebeu um tiro fatal, anteontem no Rio, porque estava no carro com o namorado, policial, que resolveu reagir a um assalto comum hoje em dia. Serviria de consolo que o assaltante assassino também tenha morrido?


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