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JANIO DE FREITAS
A má defesa
A inabilidade do governo
Lula diante de acusações
ou suspeições pode dever-se em
parte à inexperiência, mas sobretudo trai um autoritarismo
latente e mal disfarçado.
Até agora, as acusações que
atingiram os presidentes do
Banco Central e do Banco do
Brasil, Henrique Meirelles e
Cássio Casseb, não são irrespondíveis, não os comprometeram
de maneira irremediável. A um
e a outro cabe demonstrar suas
condições de esvaziá-las, admitindo-se que ambos as tenham.
O que não cabe, nesse caso como em circunstâncias semelhantes, é vir o presidente da República a incumbir-se de negar
as irregularidades atribuídas
aos dois auxiliares. A função
presidencial não pode ser a de
advogado de defesa. O que é sua
responsabilidade é providenciar
esclarecimentos e adotar a decisão adequada, que tanto pode
ser a exoneração como a ordem
para que os envolvidos prestem
ao país as informações devidas.
Maior e pior é a impropriedade se, declaradamente como
portador de conceitos do presidente, o chefe da Casa Civil expõe essa posição do governo, falando das referências contrárias
a Henrique Meirelles: "Não se
pode colocar o Banco Central,
que é a autoridade monetária
do país e do qual dependem a
credibilidade e a estabilidade do
país, na situação em que está colocado. O governo não aceita essa situação".
No tom pode haver a contribuição pessoal de José Dirceu,
mas, primeiro, Henrique Meirelles não é o Banco Central. Além
disso, de onde o presidente e o
chefe da Casa Civil tiram a
idéia, incompatível com as liberdades democráticas, de que o
Banco Central e seu presidente
não são passíveis de contestação, crítica ou acusações? Só de
uma fonte podem tirá-la: o autoritarismo.
Se "o governo não aceita essa
situação", ou se habitue a ela ou
tente mudar o regime.
Um mínimo de habilidade e
de respeito democrático pela
opinião pública evitam, com o
pronto esclarecimento ou a
pronta medida saneadora, as
enrascadas em que o governo se
mete a cada caso incômodo. Está aí o desgaste com a compra
ridícula de R$ 70 mil em convites como ajuda do Banco do
Brasil ao caixa do PT. O assunto
precisou entrar na segunda semana, até que a Presidência
concluísse pela necessidade de
alguma ação reparadora, porque as saídas falsas não iludiram mídia e opinião pública.
Este, aliás, é o primeiro estouro
da mistura de cargo oficial (diretor do BB, por exemplo) com
gente (Henrique Pizzolato, entre outros) das finanças do PT.
Outros estão por vir.
Resposta
Os leitores da Folha puderam
ler a recomendação de recente
entrevistado, cujo filho foi vítima de seqüestro-relâmpago em
São Paulo, para que outras possíveis vítimas reajam a assaltantes e sequestradores.
Uma universitária de 21 anos
recebeu um tiro fatal, anteontem no Rio, porque estava no
carro com o namorado, policial,
que resolveu reagir a um assalto
comum hoje em dia. Serviria de
consolo que o assaltante assassino também tenha morrido?
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