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CELSO PINTO
Mercado fica mais cético
Todos concordam que o fluxo
de pagamentos externos, neste
mês, está tranquilo. O câmbio,
contudo, continua pressionado, a
R$ 1,83 por dólar. Um título da
dívida externa do Brasil, o C-Bond, caiu a níveis próximos aos
da crise da Rússia e a Bolsa já perdeu 12,5% desde o final de junho.
Qual a lógica? Existe uma razão
geral e algumas explicações específicas.
A razão geral é uma clara piora
das expectativas do mercado em
relação, principalmente, ao cenário político. A percepção é que
tanto o principal expoente do
PFL, Antonio Carlos Magalhães,
quanto do PMDB, Jader Barbalho, continuam jogando para si e
complicando a vida do governo.
A proposta do "imposto da pobreza" de ACM é vista como mais
uma pedra no caminho da reforma tributária -cuja aprovação
o mercado já considerava muito
improvável. Duvida-se do senso
de urgência dos partidos e do próprio governo em relação à aprovação das reformas. Não importa
se a visão é correta ou não. É ela
que está movendo o mercado.
Existe enorme ceticismo, também, em relação à sustentabilidade da situação fiscal, principalmente no próximo ano. Muitas
receitas não se repetirão e a aprovação das reformas é altamente
improvável. Certa ou errada, essa
é a visão dominante.
A esse ceticismo interno, somam-se incertezas externas. Teme-se um aumento nos juros
americanos, turbulências na Argentina e confusão provocada pelo ""bug do milênio". A retração
dos investidores externos em relação a países emergentes não é nova. Ela já vinha acontecendo há
alguns meses; apenas se agravou
desde julho.
A Bolsa sofre, também, com a
CPMF, uma das responsáveis pela queda de 23,5% no movimento
entre junho e julho. A migração
para mercados externos era previsível e não faltaram alertas.
As cotações do C-Bond refletem
esta retração externa e as incertezas sobre o Brasil. Ontem, o papel
era cotado a 59,5 centavos por dólar, ao nível do final do ano passado e não muito longe da cotação durante a crise russa. A esta
cotação, o prêmio do C-Bond em
relação aos títulos americanos
chega perto de 11 pontos percentuais.
É verdade que existe uma diferença importante. No ano passado, os títulos da dívida brasileira
de prazo menor que o C-Bond
rendiam ainda mais. Hoje, os papéis mais curtos rendem menos, o
que faz mais sentido. A chamada
"curva de juros" dos papéis brasileiros está mais adequada.
O Brasil não está sozinho na
piora recente. Os papéis argentinos, que no passado chegaram a
pagar até seis pontos percentuais
menos que os do Brasil, hoje estão
muito próximos: conforme o papel, a diferença é de um ponto ou
menos. O México, ao contrário,
paga hoje quase a metade do prêmio pago pelo Brasil.
O que é incoerente na situação
atual é que os próprios bancos são
os primeiros a projetar uma situação de contas externas muito
razoável neste ano. A entrada de
investimentos diretos têm superado as expectativas mais otimistas
e podem cobrir, ou chegar muito
perto, do déficit em conta corrente.
Isso quer dizer que o Brasil não
precisa de capital especulativo
nos próximos meses e que o câmbio não deveria estar pressionado. Por esse lado, não há razão
para não reduzir um pouco mais
os juros. Pelo lado inflacionário,
tampouco existem sinais de pressão, exceto a gerada pelos preços
administrados pelo governo (liderados pelos derivados de petróleo).
Mesmo supondo que os juros internos não devem ser muito diferentes dos juros pagos pelo Brasil
no exterior mais a expectativa de
desvalorização futura, não está
claro que já se tenha chegado a
algum "piso" hipotético. Se não
existem razões para os juros subirem, então existe espaço para
uma retomada, ainda que gradual, do crescimento, o que é uma
boa notícia.
Mesmo as previsões catastróficas do lado fiscal parecem exageradas. O equilíbrio de médio prazo ainda é precaríssimo, mas a situação do ano que vem está longe
de ser desastrosa, embora exija,
provavelmente, algumas medidas
adicionais.
Restam as incertezas políticas e
essas são difíceis de dissipar. O
que fica cada vez mais claro é
que, se o governo não produzir fatos positivos na área das reformas
nos próximos meses, corre o risco
de ser engolido pelas expectativas
negativas, apesar da melhora em
vários aspectos da situação econômica.
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