São Paulo, Terça-feira, 05 de Outubro de 1999
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ADMINISTRAÇÃO

Esquema envolveria 78 cidades do PI e 2 do CE

PF acusa prefeituras de desvio de verba com notas falsificadas

da Sucursal de Brasília

Prefeituras do Piauí e do Ceará são acusadas em relatório da Polícia Federal de participar de um esquema de emissão de notas fiscais frias para encobrir desvios de verbas federais nas áreas de saúde e educação.
O relatório, baseado em oito meses de escuta telefônica autorizada pela Justiça, aponta o envolvimento de 78 prefeitos do Piauí e 2 do Ceará no esquema. O documento será entregue hoje ao ministro José Carlos Dias (Justiça).
O coronel reformado da Polícia Militar José Viriato Correia Lima é acusado de comandar o esquema. O delegado da Polícia Civil José Wilson Torres de Sousa é acusado de manter "estreito relacionamento com o coronel Correia Lima" e de "participar das atividades de vendas de notas frias".
O esquema, que envolveria policiais civis e militares, teria adquirido contornos de crime organizado, já que os acusados estariam praticando lavagem de dinheiro público, enriquecendo ilicitamente, cometendo assassinatos, sonegando impostos e traficando armas de uso proibido.
Segundo o relatório, a emissão de notas frias para encobrir desvio de verbas públicas é a causa do assassinato de oito prefeitos nos últimos anos. O prefeito que ficasse devendo a Correia Lima era morto.
As viúvas desses prefeitos chegaram a pedir ajuda à CPI do Judiciário, pois afirmam que a Justiça estadual é omissa. Segundo elas, os responsáveis são conhecidos e não são punidos pelo Judiciário local. Na época, não revelaram nomes.
O relatório acusa o governador do Estado, Francisco de Assis de Moraes Souza, o Mão Santa, de omissão em relação ao crime organizado por não ter afastado do cargo o comandante da Polícia Militar, Valdílio de Souza Falcão.
O relatório da PF diz que Falcão "é conhecedor das irregularidades praticadas pelo coronel Correia Lima e seu bando. Não toma providências porque é agraciado com favores do coronel".
Segundo a PF, as notas frias, emitidas por empresas fantasmas criadas por Correia Lima, eram preenchidas por policiais, com o conhecimento de Falcão.

Outro lado
A Folha procurou o coronel reformado Correia Lima em Teresina. Um homem que se identificou como "Lopes" disse ter comprado a linha de Correia Lima e não saber como encontrá-lo.
A reportagem também procurou, por telefone, o delegado José Wilson Torres de Sousa. Ele não estava em casa e o número do celular fornecido estava fora da área.
No comando da PM, a Folha foi informada de que o comandante estava viajando.
O secretário de Comunicação do Piauí, João Madison Nogueira, disse à Folha que o governador está tomando providências para combater o crime no Estado, tanto que reformou (aposentou) o coronel Correia Lima e abriu concurso para policiais.
(FLÁVIA DE LEON)


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