São Paulo, Terça-feira, 05 de Outubro de 1999
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Ex-governador é acusado por CPI


ABNOR GONDIM
enviado especial a Rio Branco

PAULO MOTA
da Agência Folha, em Rio Branco

O ex-governador Orleir Cameli corre o risco de ter sua prisão pedida hoje se não comparecer para depor na CPI da Assembléia Legislativa do Acre que apura as operações que resultaram na liquidação do Banacre (Banco do Estado do Acre).
Documentos do Banco Central apontam que o Banacre promoveu operações irregulares e fez renegociações de empréstimos milionários com empresas da família do ex-governador durante a administração dele (95-98).
Cameli é acusado de ser o principal responsável pelo rombo de R$ 144 milhões apurado na liquidação do banco em março passado. Esse é mais um escândalo na história do Acre, abalada pela prisão do deputado cassado Hildebrando Pascoal e de outras 27 pessoas acusadas de narcotráfico e de integrar grupo de extermínio.
Orleir Cameli é uma das pessoas citadas pela CPI do Narcotráfico como merecedoras de investigação pela Receita para definir a origem do patrimônio da família.
Em vez de privatizar o Banacre ou de recorrer ao Proes (programa de socorro aos bancos oficiais), o próprio ex-governador preferiu liquidá-lo "para não deixar rastros sobre operações escandalosas", afirma o presidente da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Banacre, deputado Evaldo Magalhães (PC do B).
Na sua avaliação, o ex-governador não deverá escapar de sofrer uma denúncia por prática de crime financeiro porque não poderia ser sócio de grupo beneficiado por empréstimos do banco oficial do Estado.
Com o apoio do governador Jorge Viana (PT), a CPI levantou documentos do BC que apontam irregularidades desde o segundo ano do governo Cameli.
Relatório do supervisor de fiscalização do BC Wagner Omanes e dos inspetores Miguel Ernesto Soares e Orlando Neotti advertiu os administradores do Banacre sobre a "tolerância" e "dispensa de encargos financeiros" em torno de operações de crédito do grupo Cameli.
Segundo o relatório, o grupo do qual "faz parte o sr. Orleir Messias Cameli" negociou duplicatas de supostos negócios feitos entre as empresas da família. "Fato que dá margem a dúvidas quanto à autenticidade das operações comerciais geradoras dos títulos descontados junto ao Banacre", diz o relatório.
O presidente da CPI afirma que, em 1997, uma das empresas do grupo Cameli foi beneficiada por um empréstimo do banco no valor de R$ 1,1 milhão. Na época, essa soma representava cerca de 60% do patrimônio líquido do banco.


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