São Paulo, quinta-feira, 05 de outubro de 2000

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SÃO PAULO
Empresário quer votar em branco, mas apoiará Marta se houver risco de ela perder a eleição
Mario Amato hoje gostaria que PT vencesse eleição

FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL

"Se as pesquisas indicarem que Marta Suplicy ganhará com grande vantagem, eu votarei em branco. Mas se houver o risco de ela perder a eleição, votarei nela."
Essa intenção de voto útil na candidata do Partido dos Trabalhadores é manifestada por ninguém menos que o empresário Mario Amato, 81, ex-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Amato ficou estigmatizado quando previu, em outubro de 1989, com boa dose de exagero, que 800 mil empresários deixariam o país caso Lula ganhasse as eleições presidenciais, vencendo o então candidato Fernando Collor de Mello (PRN).
"Hoje, o PT não me amedronta. Felizmente, a maturidade obtida com a idade me faz reconhecer que onde o PT atua os escândalos de corrupção são menores ou não existem", diz Amato.
Ele não faz críticas diretas ao candidato Paulo Maluf (PPB), de quem diz que é amigo particular e de quem pessoalmente gosta. Amato é um empresário que circula com dirigentes empresariais de peso. É amigo muito próximo, por exemplo, de José Ermírio de Moraes, do grupo Votorantim.
Sua avaliação sobre o segundo turno das eleições em São Paulo, tendo ouvido outras lideranças da indústria, refletiria um certo sentimento de cansaço do empresariado diante dos sucessivos escândalos nas administrações de Paulo Maluf e Celso Pitta.
"No Rio Grande do Sul, o PT está fazendo uma grande administração. O mesmo devo dizer sobre Zeca do PT (governador do Mato Grosso do Sul)", diz o empresário.
"O Lula já não é mais aquele líder tacanho e o deputado José Genoino é um político equilibrado", diz o empresário.
Entre as lideranças petistas, Amato faz restrições apenas ao deputado federal Aloizio Mercadante, por seu estilo contundente.
"Eu voto pelo Brasil. Mas hoje, não votaria em Marta nem no Maluf", diz Amato.
Segundo ele, a pergunta que muitos empresários fazem, hoje, quando se encontram em reuniões sociais, é a seguinte: "Vamos ter que votar na Marta?"
Presidente emérito da Fiesp, Amato é uma liderança carismática, autor de várias frases infelizes.
"Somos todos corruptos", disse em 1997. A frase comparava a ação de Paulo César Farias, tesoureiro de campanha de Collor em 1989, à sonegação e sugeria que no Brasil se tolerava todo tipo de irregularidades. Eram os tempos da CPI que levou ao impeachment do presidente Collor.
Amato foi também muito criticado ao afirmar, também em 1989, que a então ministra Dorothea Werneck era "inteligente, apesar de ser mulher".
Cinco anos depois da sentença que abalou a candidatura de Lula, Amato carimbava outra definição infeliz, ao dizer que "o empresariado está vendo o Lula caminhar para a direita até com uma velocidade grande".
Mas, na mesma ocasião, chegou a manifestar publicamente seu arrependimento pela sugestão de fuga de empresários, caso o PT chegasse ao Planalto: "Fui maldoso e não fui leal com o Lula", disse.


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