|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIO GASPARI
O tucano paulista
virou carcará
Os 11 ataques da bandidagem paulista aos postos de
PMs, carros, delegacias e sedes
de batalhões resultaram na
morte de dois policiais. Tomara
que sirvam para desfazer a
aliança do tucanato paulista
com a banda da polícia que se
especializou em produzir eventos. Os sábios do cosmopolitismo estão representados na
questão da segurança pública
paulista pelo secretário Saulo de
Castro Abreu Filho. O doutor já
mostrou a solidez de suas convicções quando tomou a defesa
da permanência de um delegado de carreira, famoso torturador dos porões da ditadura, no
serviço de inteligência de sua
polícia (leia-se central de grampos).
O doutor Saulo faz o gênero
"pega, mata e come", divulgado
nacionalmente em março de
2002, quando felicitou policiais
que montaram uma operação
na qual 12 marginais foram
mortos. Esse gênero destina-se a
propagar a impressão de que há
uma relação entre o número de
bandidos mortos e a melhoria
da qualidade da segurança no
Estado. Nos primeiros três meses
deste ano, a polícia paulista matou 122 pessoas, 69% acima da
estatística do ano anterior. Nesse mesmo período, houve cerca
de 60 mil roubos, recorde (por
pouco) em relação a 2002. A ousadia dos bandidos ao atacar a
polícia repete o que já devia estar aprendido: essa política mata gente, deforma a máquina da
segurança pública e não resolve
problema nenhum. Se resolvesse, não existiria bandidagem no
Brasil.
O governo paulista enfeitou a
biografia do tucanato chique
com a cicatriz da dispensa de
um ouvidor da polícia que denunciou uma "política de matança" e acusou a Secretaria da
Segurança de boicotá-lo. Nas
palavras do funcionário, Fermino Fecchio: "Na hora em que a
Corregedoria da PM, que é obrigada por lei a me mandar documentos, não manda, você não
consegue a reposição de funcionários e não tem material para
trabalhar, o que posso dizer? Só
posso chamar isso de boicote".
Em setembro, quando o empresário José Nelson Schincariol
foi morto na garagem de sua casa, a polícia interrogou um garçom e ele confessou-se assassino.
Dias depois, prenderam-se os
autores do crime. O cidadão que
confessara o crime disse que foi
torturado. O doutor Saulo informou à patuléia que a tortura
não é da tradição da polícia
paulista e ofereceu a seguinte
pérola: "Ele [o cidadão] confessou alguma coisa mediante tortura, violência, grave ameaça?
Não. Ninguém o torturou". Não
há por que duvidar do secretário, mas além de pagar impostos, a choldra pode perguntar: E
por que o cidadão confessou um
homicídio que não praticou sem
ter sido torturado ou ameaçado? Síndrome de Darlene? Queria virar celebridade?
Na segunda-feira, noticiário
da Secretaria da Segurança informava que o doutor Saulo recebeu, na sexta, a medalha
"Cinquentenário do Canil". Explicando os ataques contra a polícia, o secretário teve o seu instante de George Bush. Assim como o presidente americano atribui os atentados de Bagdá ao
desespero da resistência iraquiana, o doutor Saulo viu nos
ataques da bandidagem "uma
demonstração de força que não
se tem". Anthony Garotinho ganhou um competidor.
Texto Anterior: Constituição: Relator da Carta afirma desconhecer alterações Próximo Texto: Imagem oficial: Agência de Duda ganha conta da Petrobras Índice
|