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CRIMES FINANCEIROS
Proposta é do norte-americano Stanley Morris, que veio ao Brasil participar de seminário
Mudar leis combate lavagem de dinheiro
FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília
A melhor forma de combater a
lavagem de dinheiro é fazer leis e
mudá-las constantemente, aperfeiçoando-as. A cada nova legislação, a operação de lavagem fica
mais cara e mais difícil. Isso impede que criminosos se adaptem a
regras que permaneçam inalteradas por muito tempo.
Essa é a principal das dez recomendações do especialista norte-americano em crimes financeiros
Stanley Morris.
De 94 até se aposentar em 98,
Morris foi diretor do FinCEN (Financial Crimes Enforcement Network), uma agência ligada ao Departamento do Tesouro (equivalente ao Ministério da Fazenda no
Brasil) e o principal órgão do governo dos EUA para combater a
lavagem de dinheiro.
Hoje, Morris é consultor e dirige
o programa do Conselho da Europa que examina tendências de
lavagem de dinheiro. Ele também
é membro da Transparência Internacional, uma ONG que prepara um ranking anual sobre corrupção em todo o mundo.
Morris esteve no Brasil semana
passada participando de um seminário sobre crimes financeiros.
Falou à Folha e mostrou "os dez
mandamentos" para combater a
lavagem de dinheiro. A seguir,
um resumo das propostas:
1) Criminalizar a lavagem de dinheiro - os EUA só fizeram isso
em 1986. É muito importante que
a operação de lavagem de dinheiro seja considerada um crime
com punições pesadas, pois isso
dá aos governos as ferramentas
necessárias no combate às operações financeiras ilícitas;
2) Criar regras rígidas para instituições financeiras e outros potenciais agentes que facilitem a lavagem de dinheiro - essas instituições precisam ser obrigadas a seguir regras rigorosas. Isso inclui o
rastreamento de operações consideradas suspeitas. Nos EUA, os
bancos são obrigados a informar
sobre todas as transações em dinheiro acima de US$ 10 mil;
3) Especializar pessoal do governo - é importante que os funcionários públicos envolvidos no
combate à lavagem de dinheiro
sejam treinados sobre os intricados sistemas financeiros nacionais e internacionais;
4) Criar uma Unidade de Inteligência Financeira - esse serviço
secreto sobre as atividades econômicas é necessário para receber
todas as informações coletadas
pelas agências do governo;
5) Evitar a ação dividida dentro
do governo - todas as agências e
órgãos do governo devem atuar
de maneira conjunta, evitando o
conflito de interesses políticos. É
preciso haver liderança por parte
do governo, incentivando essa sinergia entre os seus comandados;
6) Garantir a troca de informações - a informação sobre grandes
operações de lavagem de dinheiro
nunca está em um mesmo lugar.
É fundamental, portanto, que as
diversas agências do governo e
instituições financeiras compartilhem as informações. Mais importante ainda é estabelecer acordos de cooperação para ter informações de outros países;
7) Aprovar leis para congelar,
arrestar e confiscar bens relacionados ao crime - é insuficiente
apenas arrestar os bens derivados
de ações criminosas. Os criminosos podem ter outros bens e continuar a agir. Além de tomar os
bens de criminosos, é necessário
que existam leis permitindo ao
governo buscar a origem do dinheiro que ajudou os criminosos
a comprar suas propriedades;
8) Dificultar os crimes - o sistema financeiro tem de ser reforçado de maneira a dificultar a ação
de quem faz lavagem de dinheiro.
No passado, nos EUA, antes das
regras atuais, o custo da lavagem
de dinheiro nunca era superior a
5% do valor lavado. Hoje, pode
chegar a 30%. Ainda é possível lavar dinheiro, mas fica mais caro.
Portanto, mais difícil;
9) Aprender com as experiências dos outros - muitos países
hoje se preocupam com lavagem
de dinheiro. Ninguém, entretanto, conseguiu ainda se livrar desse
tipo de crime. É útil conhecer todas as experiências em andamento, incentivando o intercâmbio
com outros governos no exterior;
10) Adaptar, ajustar e revisar
-esse é talvez o mandamento mais
importante. O sucesso das operações de lavagem de dinheiro
acontece porque os criminosos
são articulados e sempre estão se
aperfeiçoando, adaptando-se às
regras que os governos impõem.
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