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MATO GROSSO DO SUL
Tribo de Dourados pode invadir área
ROBERTO SAMORA
da Agência Folha, em Dourados
A qualquer momento, pode
estourar um conflito pela posse
da terra em Mato Grosso do Sul
entre índios e colonos, assentados no local há décadas. Hoje
termina o prazo dado pelos guaranis-caiuás da aldeia Panambizinho, em Dourados (MS), para
que o governo lhes entregue
uma área da qual foram retirados na década de 30, e eles ameaçam com invasão.
O confronto pode envolver todas as comunidades indígenas
do município -que abriga três
aldeias, com mais de 9.000 índios. Na aldeia Panambizinho,
vivem cerca de 270 índios, que
moram espremidos em dois lotes de 30 hectares, cercados por
propriedades que compõem a
produtiva Colônia Agrícola Nacional de Dourados. Eles reivindicam mais 1.180 hectares.
A reivindicação ganhou mais
força depois que o próprio governo federal reconheceu, em
1995, que as terras são indígenas.
Inconformados com a morosidade da Justiça em resolver o
problema, os índios prometem
hoje pôr fim a uma trégua estabelecida há alguns meses, depois
que os ânimos se acirraram após
o suicídio coletivo de três índios.
"Se ninguém tomar providência até o dia 5 (hoje), nós vamos
resolver", declarou Valdomiro
Aquino, líder indígena de Panambizinho. Aquino, um dos
que melhor fala português na aldeia -que preserva fortes traços culturais e religiosos guaranis-, disse não se importar se
os colonos resistirem à invasão.
"O problema é deles. Se resistirem, nós também não recuamos. Depois de domingo, vai ser
igual a doença brava (Aids): pegou não tem mais jeito."
Os colonos pensam de forma
parecida. "Nós não vamos sair
daqui. Vamos defender o que é
nosso. Não perdemos nada na
Justiça. Se invadirem, vai dar
pau. Se vierem armados, não estaremos com as mãos vazias",
afirmou Dionésio Marques Rosa, 41, representante da colônia.
Os guaranis têm mais do que
argumentos históricos para dizer que a área lhes pertence. Eles
contam com uma portaria do
Ministério da Justiça, assinada
pelo então ministro Nelson Jobim, em Panambizinho, em 26
de julho de 1995.
A portaria, que o ministro assinou apoiando o papel nas costas
de um índio, reconheceu um
laudo feito pela Funai (Fundação Nacional do Índio) atestando que as terras ocupadas pelos
colonos pertenceram aos índios.
A partir dessa data, estabeleceu-se uma disputa na 1ª Vara
da Justiça Federal, em Campo
Grande. Colonos entraram na
Justiça para impedir a demarcação das terras pela Funai e evitar
a perda de suas propriedades.
Eles estão no local há décadas,
alguns desde 1943, quando o
presidente Getúlio Vargas criou
a colônia com um decreto.
A decisão judicial sobre quem
tem o direito sobre a terra deve
sair este mês, o que explica em
parte porque os índios estabeleceram o dia de hoje como data limite para a solução do governo.
O outro motivo, mais relevante, foi um acordo feito em 4 de
outubro entre representantes
dos 60 mil índios de Mato Grosso do Sul, em encontro intertribal ocorrido em Panambizinho.
Diante do aumento no número de suicídios na aldeia, os índios decidiram no encontro que,
se nada fosse feito, realizariam o
que chamam de "autodemarcação". Essa operação, já arquitetada entre as lideranças indígenas de Mato Grosso do Sul, consiste na ocupação da área por
cerca de 5.000 índios. A data ainda não foi definida. A Polícia Federal informou que está alerta.
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