São Paulo, terça-feira, 06 de janeiro de 2004

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Racha no PMDB dificulta apoio total

RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A entrega de dois ou três ministérios ao PMDB não assegura a totalidade de votos do partido ao Planalto. A exemplo do que ocorria no governo de Fernando Henrique Cardoso, uma parcela deve se posicionar sistematicamente contra, e a maioria deve negociar caso a caso cada votação.
"Todo dia é um dia novo, de conquista nova, de adesão dos mesmos", diz o deputado Moreira Franco (PMDB-RJ), que, na condição de assessor especial de FHC, acompanhou as barganhas diárias de seu partido a um posto privilegiado no Planalto.
Ontem mesmo já surgiram reações, algumas de setores inesperados. O senador Amir Lando (PMDB-RO), que é líder do governo no Congresso, protestou contra a condução da reforma: "Trata-se de uma negociação isolada do Planalto com alguns setores do PMDB, que não está sendo ouvido institucionalmente".
A queixa de Lando se deve ao fato de o Planalto conversar com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e os líderes no Senado, Renan Calheiros (AL), e na Câmara, Eunício Oliveira (CE), deixando de lado até o presidente da sigla, Michel Temer (SP), que deve ser chamado quando tudo estiver resolvido.
Setores do PMDB atribuem a insatisfação de Lando ao fato de ele provavelmente ser preterido nas escolhas do presidente. São dez os candidatos declarados a um lugar na Esplanada.
Mesmo dividido, o apoio do PMDB ao governo é um bom negócio para o partido: pelo menos 70% de seus 77 deputados devem acompanhar o Planalto nas votações. No Senado, onde o partido tem 22 senadores, esse índice será maior, pelo menos no início.
O "núcleo duro" da oposição está situado na Câmara dos Deputados e tem como líderes Geddel Vieira Lima (BA) e Eliseu Padilha (RS), além do próprio Moreira.
"Setores do PMDB estão deixando-se levar pelo cheiro dos cargos, e não pelas bandeiras tradicionais do partido", diz Geddel.
A entrada do PMDB no governo, no entanto, não significa o fim de um processo de criação de maiorias, mas o começo. Apesar de alguns cargos do segundo e do terceiro escalão, as bancadas não se sentem representadas no governo do PT. Caberá aos ministros tentar a acomodação de interesses de deputados e senadores.
Por isso, além dos ministérios, o PMDB reivindica cargos em estatais e nas diretorias do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal. Quer também "verticalizar" seus ministérios, ou seja, ocupar todos os postos importantes das pastas, inclusive nos Estados.
No caso do Ministério das Cidades, por exemplo, isso significaria desalojar os "companheiros" já acomodados por Olívio Dutra.
Há expectativa também sobre o espaço que o governo deixará para Michel Temer e Orestes Quércia. Temer tanto pode engrossar como ajudar a esvaziar a oposição. Quércia anda desconfiado desde que seu afilhado político Marcelo Barbieri foi levado a pedir demissão de uma assessoria de José Dirceu (Casa Civil).


Colaboraram FERNANDA KRAKOVICS, da Sucursal de Brasília, e RICARDO WESTIN, da Redação


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