São Paulo, terça-feira, 06 de janeiro de 2004

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ENCONTRO

Petista e tucano são homenageados por atuação na transição de governo

Lula e FHC recebem prêmio em meio a farpas e elogios

GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso foi marcado por trocas de elogios e de farpas.
Lula e FHC receberam ontem, em Brasília, o Prêmio Notre Dame 2003 pela participação de ambos na transição de governo no final de 2002. A cerimônia aconteceu no Palácio do Itamaraty.
O presidente da Universidade de Notre Dame, reverendo Edward Malloy, disse que Fernando Henrique e Lula "são exemplos para a América Latina".
Esse foi o primeiro encontro público de FHC e Lula no Brasil após a posse, no dia 1º de janeiro de 2003. Quando os convidados de FHC e Lula começaram a chegar ao auditório do Itamaraty, ficou claro que tucanos e petistas ficariam sentados em lados opostos do auditório, o que ocorreu.
FHC iniciou seu discurso afirmando que fugiria do improviso para não se alongar.
"Tentarei ser realmente breve e evitarei improvisos."
Já Lula deu início à sua fala afirmando que leria apenas a última frase do seu discurso escrito.
"O ambiente está para o improviso", justificou.
O tom dos discursos foi marcado por elogios ao fato de a transição ter contribuído para a consolidação da democracia no Brasil. A última transmissão de cargo feita por presidentes democraticamente eleitos ocorreu em 1960.
Elogios à parte, FHC afirmou que os principais problemas do país ainda não foram resolvidos.
"As incertezas econômicas, as dificuldades para fazer frente às necessidades de uma população ainda muito carente de meios de vida e de ocupação, a angústia gerada pela falta de segurança pública, a violência crescente impulsionada pelo crime organizado e pelas drogas, a repulsa pela impunidade e tantos outros problemas continuam a desafiar os esforços dos governos e da sociedade."
Ainda ao falar sobre a contribuição de ambos para a consolidação da democracia, FHC deixou claro que isso ocorreu apesar de a equipe de Lula ser formada por "pessoas que fizeram uma oposição tenaz" ao seu governo.
Lula, que pelo protocolo foi o último a discursar, ressaltou o fato de ele e FHC terem conseguido isolar as disputas eleitorais do campo pessoal. "Muitas vezes as pessoas confundem o calor de uma disputa política com disputas pessoais". O presidente disse que a transição democrática foi um "aviso" ao mundo. "A transição, da forma como foi feita, foi uma espécie de aviso ao mundo sobre a nossa competência para exercer a democracia."
Lula e FHC receberam US$ 10 mil cada um e indicaram instituições para receber um prêmio de igual valor. O petista escolheu o Fome Zero, e o ex-presidente, a Comunitas, uma organização não-governamental fundada por sua mulher, Ruth Cardoso.
Antes da premiação, Lula e FHC reuniram-se por cerca de dez minutos em uma sala do Itamaraty.


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