São Paulo, terça-feira, 06 de janeiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BOLSA-FAMÍLIA

Emília Fernandes propõe inclusão do controle de natalidade entre as contrapartidas exigidas pelo projeto

Governo pode exigir planejamento familiar

Ormuzd Alves - 1º.jan.2003/Folha Imagem
Emília Fernandes assume a Secretaria de Políticas para Mulheres


IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo poderá incluir o planejamento familiar entre as contrapartidas exigidas das famílias beneficiadas pelo programa Bolsa-Família, unificação dos programas sociais federais. A idéia partiu da secretária de Políticas para Mulheres, Emília Fernandes, que a encaminhou para avaliação da Presidência.
"A paternidade atuante e consciente precisa ser tema discutido neste país. É impossível que mulheres e homens continuem colocando crianças no mundo para morar nas ruas, debaixo das pontes, [e viver] na prostituição, nas drogas", disse a ministra.
Para ter direito ao Bolsa-Família, os beneficiados já precisam cumprir alguns requisitos: as crianças devem ser vacinadas, frequentar a escola e ter o grau de nutrição acompanhado pelos postos de saúde. Já os pais devem fazer algum curso de alfabetização ou capacitação profissional.
A proposta de Emília Fernandes é inserir o planejamento familiar nessa lista de exigências. "Temos de ampliar esses condicionantes aos programas sociais. Por isso é que o Bolsa-Família condiciona [o benefício] à criança na escola, à mulher fazer o exame regular de saúde. Esses condicionantes é que fazem a diferença", disse.
O planejamento familiar é previsto em lei desde 1996. Estabelece como direito o acesso aos serviços de saúde, incluindo o uso de contraceptivos, como camisinha e anticoncepcional, e também a esterilização voluntária -laqueadura das trompas ou vasectomia.
Segundo a ministra, a nova exigência do Bolsa-Família "é uma forma prática e objetiva de dialogar principalmente com as famílias mais pobres, onde a informação custa mais a chegar".
Como uma de suas principais dificuldades na discussão do tema, a ministra citou a "hipocrisia" de alguns setores que condenam o uso de preservativos.
"A gravidez normalmente tem penalizado a mulher, a menina, a adolescente. Muitas vezes por falta de informação, falta de acesso a serviços de saúde e muitas vezes por hipocrisia daqueles que condenam o planejamento familiar, o preservativo, a esterilização voluntária", afirmou Emília.
Tradicionalmente contrária ao uso da camisinha e da pílula, a Igreja Católica defende apenas os métodos "naturais", como a tabela. "Qualquer artifício que não seja natural está excluído. Camisinha é controle de natalidade, e não planejamento familiar", disse José Maria da Costa, assessor nacional da Pastoral da Família.
Indagada se a legalização do aborto, tradicional bandeira do movimento feminista, está no horizonte do governo, Emília disse que o tema não é "prioridade", mas "pode ser tratado num segundo momento".

Ano da mulher
Emília prepara uma série de ações até dezembro, para comemorar o Ano da Mulher -como o ano de 2004 foi definido por lei sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ela pretende realizar uma grande campanha publicitária sobre a violência doméstica, a primeira conferência nacional da mulher e elaborar o plano nacional da mulher. A União Européia e a Organização das Nações Unidas ofereceram dinheiro para ajudar.
Enquanto isso, a ministra conseguiu imprimir uma certa rotina aos colegas. Emília Fernandes recebe a cada dois meses um relatório de cada pasta sobre as ações desenvolvidas que tenham alguma relação com as mulheres.


Texto Anterior: Trem do Paraná: Governador indicou ao menos 26 parentes
Próximo Texto: Ano de campanha: Alckmin abre gabinete em ritmo de eleição
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.