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JANIO DE FREITAS
São bocas-ricas, muito ricas
A sem-cerimônia na distribuição de cargos e no uso dos
orçamentos está em um ponto
que nem os mais céticos imaginariam. Por hoje, um só exemplo, aproveitando-se já estar
em negra evidência.
Na Petrobras, predadores
não são só os tubos que vomitam petróleo onde não devem.
A eficiência da estrutura de direção está mais do que demonstrada por tantos anos de
êxito da empresa, mas não aos
olhos do seu atual presidente,
Henri Philippe Reichstul. O
trançado de diretorias e superintendências só lhe serviu para pinçar um dos funcionários-diretores e dele fazer o bode expiatório das suas próprias e das
trapalhadas de sua administração no desastre da Guanabara. Para o demais, Reichstul
inventou um corpo de assessores, composto de gente sua, ao
qual está entregue a palavra
decisiva em questões que, como
tudo na Petrobras, envolvem
fortunas imensas.
As qualidades predatórias
desse grupo de felizardos são
bem representadas, para compreensão pública, por um deles.
Embora a Petrobras seja empresa tipicamente do Rio de Janeiro, solo produtor da sua
maior riqueza e da administração geral, o dito assessor foi,
é claro, importado de São Paulo para o Rio -como outrora
aconteceu com os gaúchos no
governo de Getúlio e hoje acontece com os paulistas em todo o
governo de Fernando Henrique. Bem conhecido em várias
redações paulistas, mas não
propriamente por algum trabalho admirável, o assessor
Alexandre Machado está com
a incumbência de sua vida: a
destinação das gigantescas verbas de promoção e similares da
Petrobras.
Resumo: o Centro Cultural
Banco do Brasil, cuja excelência não tem equivalente no
Brasil, está com a vida em risco, porque ameaçado de perder
o co-patrocínio da Petrobras; a
sinfônica Petrobras Pró Música, do primeiro nível entre as
orquestras brasileiras e com
atividade incomparável, está
em risco, sob ameaça de perder
o patrocínio da Petrobras; o
Seis e Meia, uma programação
de grande êxito na preservação
da música popular brasileira,
está em risco, ameaçado de
perder o patrocínio da Petrobras.
Os programas culturais e
congêneres da Petrobras no
Rio estão todos sob ameaça de
não-renovação. Caso essas atividades não aceitem concessões injustificáveis, ainda não
está divulgado o destino pretendido para as verbas por Alexandre Machado e sua assessoria -ah, sim, assessor especial
de Reichstul também contrata
assessoria externa, e, claro, originária de São Paulo. Mas essa
outra forma de predação agora
praticada na Petrobras está
suscitando o que há muito não
se via no Rio: a mobilização de
vários políticos e alguns empresários em defesa da cidade.
Henri Philippe Reichstul disse que levou cinco dias para
dar uma primeira palavra sobre o desastre na Guanabara
porque "a ficha custou a cair".
Com tamanha agilidade,
quando a ficha cair, e se der
conta dos vários aspectos de
sua administração predatória,
Reichstul já terá caído, ele próprio, no centro de um bravo escândalo.
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