São Paulo, #!L#Domingo, 06 de Fevereiro de 2000


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JANIO DE FREITAS
São bocas-ricas, muito ricas

A sem-cerimônia na distribuição de cargos e no uso dos orçamentos está em um ponto que nem os mais céticos imaginariam. Por hoje, um só exemplo, aproveitando-se já estar em negra evidência.
Na Petrobras, predadores não são só os tubos que vomitam petróleo onde não devem. A eficiência da estrutura de direção está mais do que demonstrada por tantos anos de êxito da empresa, mas não aos olhos do seu atual presidente, Henri Philippe Reichstul. O trançado de diretorias e superintendências só lhe serviu para pinçar um dos funcionários-diretores e dele fazer o bode expiatório das suas próprias e das trapalhadas de sua administração no desastre da Guanabara. Para o demais, Reichstul inventou um corpo de assessores, composto de gente sua, ao qual está entregue a palavra decisiva em questões que, como tudo na Petrobras, envolvem fortunas imensas.
As qualidades predatórias desse grupo de felizardos são bem representadas, para compreensão pública, por um deles. Embora a Petrobras seja empresa tipicamente do Rio de Janeiro, solo produtor da sua maior riqueza e da administração geral, o dito assessor foi, é claro, importado de São Paulo para o Rio -como outrora aconteceu com os gaúchos no governo de Getúlio e hoje acontece com os paulistas em todo o governo de Fernando Henrique. Bem conhecido em várias redações paulistas, mas não propriamente por algum trabalho admirável, o assessor Alexandre Machado está com a incumbência de sua vida: a destinação das gigantescas verbas de promoção e similares da Petrobras.
Resumo: o Centro Cultural Banco do Brasil, cuja excelência não tem equivalente no Brasil, está com a vida em risco, porque ameaçado de perder o co-patrocínio da Petrobras; a sinfônica Petrobras Pró Música, do primeiro nível entre as orquestras brasileiras e com atividade incomparável, está em risco, sob ameaça de perder o patrocínio da Petrobras; o Seis e Meia, uma programação de grande êxito na preservação da música popular brasileira, está em risco, ameaçado de perder o patrocínio da Petrobras.
Os programas culturais e congêneres da Petrobras no Rio estão todos sob ameaça de não-renovação. Caso essas atividades não aceitem concessões injustificáveis, ainda não está divulgado o destino pretendido para as verbas por Alexandre Machado e sua assessoria -ah, sim, assessor especial de Reichstul também contrata assessoria externa, e, claro, originária de São Paulo. Mas essa outra forma de predação agora praticada na Petrobras está suscitando o que há muito não se via no Rio: a mobilização de vários políticos e alguns empresários em defesa da cidade.
Henri Philippe Reichstul disse que levou cinco dias para dar uma primeira palavra sobre o desastre na Guanabara porque "a ficha custou a cair". Com tamanha agilidade, quando a ficha cair, e se der conta dos vários aspectos de sua administração predatória, Reichstul já terá caído, ele próprio, no centro de um bravo escândalo.


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