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DNER
Governo não acompanhou perícia que calculou supostos prejuízos de empreiteiras por atraso em pagamentos
Precatório de R$ 380 mi tem defesa falha
SILVANA DE FREITAS
da Sucursal de Brasília
O processo judicial que obriga o
governo a pagar R$ 379,9 milhões
a 31 empreiteiras, o maior precatório do ano 2000, contém uma
grave falha na defesa do dinheiro
público por parte do DNER (Departamento Nacional de Estradas
de Rodagem).
O órgão não acompanhou um
momento crucial do processo: a
perícia realizada em 1995 para calcular supostos prejuízos das empreiteiras em razão de atrasos nos
pagamentos de obras de construção e recuperação de rodovias.
Também não contestou, no ano
seguinte, o valor indicado no laudo do perito.
A omissão foi apontada na sentença da juíza da causa, Maísa
Giudici, da 17ª Vara Federal de
Brasília: "O réu, embora regularmente intimado a se manifestar
quanto ao laudo, não se manifestou, deixando passar "in albis" (em
branco) prazo para tanto".
Algumas das construtoras beneficiadas são a OAS, a Norberto
Odebrecht, a Queiroz Galvão e a
Camargo Corrêa. A Queiroz Galvão receberá a maior quantia, R$
94,5 milhões.
A ação foi movida pelo Sinicon
(Sindicato Nacional da Indústria
da Construção Pesada), por causa
de atrasos nos pagamentos de faturas entre setembro de 1988 e
maio de 1993 -parte do governo
Sarney, governo Collor e parte do
governo Itamar.
A entidade sustentou que houve
quebra do equilíbrio financeiro
dos contratos assinados com o
governo federal por causa dos altos índices de inflação existentes
na época.
A perícia nesse caso é considerada prova fundamental para decidir a questão. O perito da causa,
Roberto Figueiredo Guimarães,
afirmou ter examinado 300 contratos e aditivos e 6.000 faturas.
Em março de 1996, ele recomendou o pagamento de R$ 235,6
milhões, que foram elevados no
ano passado a R$ 379,9 milhões
por causa de correção monetária
e juros de 12% ao ano.
Três meses depois, a juíza deu a
sentença, aprovando as contas
apresentadas por ele. O especialista indicado pelas empreiteiras
para acompanhar o trabalho do
perito, o advogado e contador do
Rio de Janeiro Custódio Clemente
de Souza Pinto, havia avalizado a
conclusão, e o DNER não havia se
manifestado.
Em outubro de 1995, durante a
realização da perícia, o diretor do
DNER Inaro Fontan Pereira tornou-se vice-presidente do Sinicon. O presidente da entidade,
Luiz Fernando Santos Reis, disse
que Pereira não atuou no caso.
Normalmente, a tramitação de
ações que resultam em precatórios demora décadas. Neste caso,
teve duração extremamente curta
graças à falha do DNER: começou
em setembro de 1993 e tem previsão de pagamento menos de sete
anos depois.
As empreiteiras pretendiam a
inclusão da verba já no Orçamento de 1999, mas um recurso do
DNER adiou o gasto por um ano.
Depois da sentença, o DNER recorreu a três tribunais, mas a possibilidade de obter a revisão dos
cálculos usados no laudo pericial,
na primeira instância, já havia sido perdida.
Nos três recursos, o Tribunal
Regional Federal da 1ª região, o
Superior Tribunal de Justiça e o
Supremo Tribunal Federal apenas confirmaram o direito das
empreiteiras à correção dos valores pagos com atraso.
A AGU (Advocacia Geral da
União) deverá concluir neste mês
investigação no DNER por causa
de reportagem publicada pela Folha indicando a existência de esquema no órgão que permitia
acordos para pagamento de precatórios fora da ordem cronológica prevista na Constituição.
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