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São Paulo, quinta-feira, 06 de fevereiro de 2003

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NO AR

Os irrelevantes

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

- Mudou alguma cabeça?
Era a pergunta da Fox News, estampada na tela algumas horas após o pronunciamento do secretário de Estado americano, Colin Powell, no Conselho de Segurança da ONU.
A própria emissora tratou de responder, afirmando que "as reações foram as esperadas". França, Rússia, China e Alemanha querem mais inspeção.
Também os democratas, oposição a George W. Bush nos EUA, querem mais inspeção, não guerra.
Sem falar do papa João Paulo 2º, opositor da guerra por temer a escalada do sentimento anticristão entre os muçulmanos. Ele anunciou ontem que vai se reunir com o vice-primeiro-ministro do Iraque.
Sem falar de Nelson Mandela, que voltou a chamar Bush de arrogante e disse que só vai dar ouvidos aos inspetores da ONU, não ao secretário de Estado, que não diz "como eles conseguiram essas informações".
Da Casa Branca, segundo a Fox News, veio o comentário:
- Só os "inconvencíveis" continuarão sem se convencer.
Os "inconvencíveis", que Powell ameaçou transformar em "irrelevantes", parecem estar crescendo em número e coragem, nos últimos dias.
 
Foi uma "apresentação audiovisual", no registro da Fox News, e um "drama na ONU", segundo a CNN.
O espetáculo de Colin Powell incluiu gestos vigorosos, ameaças imperiais e muitos grampos e imagens de satélite.
Apresentou gravações de supostos funcionários iraquianos combinando como enganar os inspetores. Disse que uma fonte citou supostos testes de armas químicas em condenados à morte. Falou de "terroristas com ligações com a Al Qaeda" vivendo no Iraque.
Disse, num escorregão, que os colegas de Conselho de Segurança deveriam acreditar nele, porque suas afirmações estavam sustentadas em fontes "sólidas".
Mais não disse, deixando no ar, ao fim da apresentação, o questionamento de Mandela quanto à fonte, afinal, do grandioso espetáculo audiovisual.
 
Alexandre Garcia, o porta-voz sem preconceito, disse:
- Os radicais podem ser 30% do PT, mas não são 30% da bancada de 92 deputados e 14 senadores. Desses, os rebeldes não são 5%: uma senadora e três ou quatro deputados, é o que calcula a cúpula do partido. E são rebeldias previsíveis, que sabem que ser rebelde dá notoriedade.
Em suma, eles são poucos e só querem aparecer na Globo.


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