São Paulo, domingo, 06 de fevereiro de 2005

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ELIO GASPARI

Empresários nas escolas

Uma boa notícia para um domingo de Carnaval: um grupo de empresários procurou a Prefeitura de São Paulo oferecendo-se para colaborar com a melhoria da rede municipal de ensino. É uma iniciativa que oferece mais cérebro do que bolso. Os empresários pretendem trabalhar na busca de soluções para problemas administrativos e logísticos. Certamente botarão dinheiro no projeto, mas o programa não começará por aí. Numa escola cujo horário de funcionamento é determinado pelos bandidos, não há dinheiro que melhore a qualidade do ensino.
Nos anos 80, o presidente George Bush 1º lançou um apelo ("A nação está em perigo") que mobilizou centenas de empresas e homens de negócios para melhorar o nível das escolas americanas. De todas as experiências, uma das melhores foi a do ex-presidente da IBM Louis Gerstner. Ele descobriu que dinheiro era um fator secundário para medir a capacidade de mudar um quadro que parecia perdido. Trabalhou duro criando mecanismos de incentivo para estudantes, professores e diretores de escolas. Na semana passada, um grupo de empresários do Estado de Massachusetts apresentou ao governo um plano para reerguer as cem piores escolas do Estado. Projeto para três anos, com metas para nove. Numa região onde a educação transformou uma economia industrial decadente num pólo de alta tecnologia de saúde, cultura e educação, essa tarefa que soa simples pode custar em torno de US$ 500 milhões, sem que se saiba quem vai desembolsar esse ervanário.
A nação petista explodiu o Provão. Perdeu-se com ele o único instrumento de aferição da qualidade do ensino. Servia para as escolas de nível superior e era pouco, mas era alguma coisa. Pelo lado da exposição do que vai mal, a coisa não funcionou. Talvez possa funcionar pela exposição do que vai bem. Se é impossível acordar a banda adormecida, pode-se estimular a banda que gosta de trabalhar. Foi esse o caminho escolhido por Gerstner.

O Jornal Pessoal vai a Harvard

Na tarde de 21 de dezembro, o empresário Ronaldo Maiorana agrediu e ameaçou de morte o jornalista Lúcio Flávio Pinto num restaurante de Belém do Pará. Maiorana é um dos donos e diretor do maior grupo de comunicações da região Norte. Edita o jornal "O Liberal", que publica esta coluna há cerca de dez anos. Lúcio Flávio Pinto, com 55 anos e 39 de profissão, mantém desde 1988 o "Jornal Pessoal", um periódico mensal que lhe vale admiradores, encrencas e inimigos. Maiorana teve uma má idéia e meteu-se numa das grandes encrencas do jornalismo nacional.
O empresário já disse que se arrependeu do espancamento. Segundo ele, foi um "ato impensado". Segundo o auto de corpo de delito, resultou em "edema traumático na região zigomática direita" do jornalista.
O nome de Lúcio Flávio Pinto acaba de ser encaminhado à comissão julgadora do prêmio Maria Moors Cabot, da Universidade Columbia. Trata-se do mais conhecido prêmio do jornalismo interamericano. Mais: por sugestão do cientista político Biorn Maybury-Lewis (ex-professor da Universidade Federal do Pará), ele foi convidado para uma passagem pela Universidade Harvard. Lá, contaria suas experiências profissionais. A visita será patrocinada pelo Centro David Rockefeller para Estudos Latino-Americanos (onde o signatário passa este semestre). Lúcio Flávio informou que só poderá viajar aos Estados Unidos em abril.
Para que as pessoas interessadas em azucrinar o jornalista saibam a intensidade da frente fria que têm pela frente, foi-lhe dito que poderá vir quando quiser, inclusive no dia em que achar que sua segurança está ameaçada.

Duda para o IBGE
Se o doutor Nelson Machado, ministro interino do Planejamento, está realmente interessado em melhorar o serviço do IBGE, procurando "normatizar e regularizar o fluxo de informações estruturais" (seja lá o que for o que isso queira dizer), poderia evitar que fossem à breca o Censo Agropecuário e a Pesquisa Censitária, que atualiza os números de 2000. Por falta de normas e de regularidade no financiamento do IBGE, o fluxo de verbas estruturais para essas pesquisas está obstruído. É verdade que, no melhor dos mundos, o IBGE seria presidido por Duda Mendonça, mas isso parece difícil. Mais uma razão para se dar ao IBGE a independência que a banca pede a Lula para o Banco Central.

Bagdá neles
O leitor Luiz Fernando Thomé lembra que a Viúva freqüentemente paga viagens de parlamentares que vão observar eleições no além-mar. Ele pergunta: quantos doutores foram ao Iraque, onde temia-se que o pau comesse? A Viúva economizaria um bom dinheiro se todos os parlamentares e ministros que vão ao exterior observar a paisagem, fazer palestras ou assinar convênios fossem obrigados a passar três dias em Bagdá.

O impagável é pago
A dívida social "impagável" que Lula recebeu de Tomé de Souza e do cacique Cunhambebe pode ser do mesmo tamanho que a dívida cobrada pelos banqueiros a 18,5% ao ano. Ganha uma viagem a Cuba no AeroLula quem responder qual das duas o companheiro paga direitinho, sem cortes da ekipekonômica, cerimoniais de Patrus Ananias ou outros problemas de cadastro.

Chance Zero
A chance de o governo americano (este, o próximo ou os passados) apoiar a criação de um imposto sobre transações financeiras para acabar com a fome no mundo é igual ou menor que zero. Por um motivo muito simples: 11 em 10 americanos acham que os organismos internacionais querem lhes tomar dinheiro para sustentar burocratas em Nova York, Paris e Roma ou maganos e larápios no Terceiro Mundo. O pior é que estão mais certos do que errados.

CPI dos Gigantes
Pode parecer exagero, mas na disputa para a presidência da Câmara estão os ingredientes básicos da receita que poderá servir ao país a próxima CPI da Comissão do Orçamento. Na última CPI, em 1993, celebrizaram-se os "Anões do Orçamento". A reprise poderá trazer "Os Gigantes".

Na veia
Lula não gosta de sangue, mas, ultimamente, toda vez que vê uma fotografia do vice-rei Anthony Garotinho, perde algum tempo procurando-lhe a jugular.

Teatro amigo
É puro teatro a humildade com que os representantes do governo argentino encaminham a renegociação de sua dívida externa. Se o presidente Néstor Kirchner emplacar o calote, seus negociadores serão mais festejados que seleção campeã do mundo. A postura franciscana serve para mostrar que os argentinos não pretendem exportar tecnologia caloteira. Ainda não há sinais de que a transação será bem-sucedida, mas, caso isso aconteça, antes do fim do semestre o risco-Argentina poderá estar poucos pontos acima do risco-Brasil.


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