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ELIO GASPARI
Empresários nas escolas
Uma boa notícia para um domingo de Carnaval: um grupo de empresários procurou a
Prefeitura de São Paulo oferecendo-se para colaborar com a melhoria da rede municipal de ensino. É uma iniciativa que oferece
mais cérebro do que bolso. Os empresários pretendem trabalhar na
busca de soluções para problemas
administrativos e logísticos. Certamente botarão dinheiro no projeto, mas o programa não começará por aí. Numa escola cujo horário de funcionamento é determinado pelos bandidos, não há
dinheiro que melhore a qualidade do ensino.
Nos anos 80, o presidente George Bush 1º lançou um apelo ("A
nação está em perigo") que mobilizou centenas de empresas e homens de negócios para melhorar
o nível das escolas americanas.
De todas as experiências, uma
das melhores foi a do ex-presidente da IBM Louis Gerstner. Ele descobriu que dinheiro era um fator
secundário para medir a capacidade de mudar um quadro que
parecia perdido. Trabalhou duro
criando mecanismos de incentivo
para estudantes, professores e diretores de escolas. Na semana
passada, um grupo de empresários do Estado de Massachusetts
apresentou ao governo um plano
para reerguer as cem piores escolas do Estado. Projeto para três
anos, com metas para nove. Numa região onde a educação transformou uma economia industrial
decadente num pólo de alta tecnologia de saúde, cultura e educação, essa tarefa que soa simples
pode custar em torno de US$ 500
milhões, sem que se saiba quem
vai desembolsar esse ervanário.
A nação petista explodiu o Provão. Perdeu-se com ele o único
instrumento de aferição da qualidade do ensino. Servia para as escolas de nível superior e era pouco, mas era alguma coisa. Pelo lado da exposição do que vai mal, a
coisa não funcionou. Talvez possa
funcionar pela exposição do que
vai bem. Se é impossível acordar a
banda adormecida, pode-se estimular a banda que gosta de trabalhar. Foi esse o caminho escolhido por Gerstner.
O Jornal Pessoal vai a Harvard
Na tarde de 21 de dezembro, o empresário Ronaldo Maiorana
agrediu e ameaçou de morte o
jornalista Lúcio Flávio Pinto num
restaurante de Belém do Pará.
Maiorana é um dos donos e diretor do maior grupo de comunicações da região Norte. Edita o jornal "O Liberal", que publica esta
coluna há cerca de dez anos. Lúcio
Flávio Pinto, com 55 anos e 39 de
profissão, mantém desde 1988 o
"Jornal Pessoal", um periódico
mensal que lhe vale admiradores,
encrencas e inimigos. Maiorana
teve uma má idéia e meteu-se numa das grandes encrencas do jornalismo nacional.
O empresário já disse que se arrependeu do espancamento. Segundo ele, foi um "ato impensado". Segundo o auto de corpo de
delito, resultou em "edema traumático na região zigomática direita" do jornalista.
O nome de Lúcio Flávio Pinto
acaba de ser encaminhado à comissão julgadora do prêmio Maria Moors Cabot, da Universidade
Columbia. Trata-se do mais conhecido prêmio do jornalismo interamericano. Mais: por sugestão
do cientista político Biorn Maybury-Lewis (ex-professor da Universidade Federal do Pará), ele foi
convidado para uma passagem
pela Universidade Harvard. Lá,
contaria suas experiências profissionais. A visita será patrocinada
pelo Centro David Rockefeller para Estudos Latino-Americanos
(onde o signatário passa este semestre). Lúcio Flávio informou
que só poderá viajar aos Estados
Unidos em abril.
Para que as pessoas interessadas
em azucrinar o jornalista saibam
a intensidade da frente fria que
têm pela frente, foi-lhe dito que
poderá vir quando quiser, inclusive no dia em que achar que sua segurança está ameaçada.
Duda para o IBGE
Se o doutor Nelson Machado, ministro interino do Planejamento, está realmente
interessado em melhorar o
serviço do IBGE, procurando "normatizar e regularizar
o fluxo de informações estruturais" (seja lá o que for o
que isso queira dizer), poderia evitar que fossem à breca
o Censo Agropecuário e a
Pesquisa Censitária, que
atualiza os números de
2000. Por falta de normas e
de regularidade no financiamento do IBGE, o fluxo de
verbas estruturais para essas
pesquisas está obstruído. É
verdade que, no melhor dos
mundos, o IBGE seria presidido por Duda Mendonça,
mas isso parece difícil. Mais
uma razão para se dar ao IBGE a independência que a
banca pede a Lula para o
Banco Central.
Bagdá neles
O leitor Luiz Fernando Thomé lembra que a Viúva freqüentemente paga viagens
de parlamentares que vão
observar eleições no além-mar. Ele pergunta: quantos
doutores foram ao Iraque,
onde temia-se que o pau comesse? A Viúva economizaria um bom dinheiro se todos os parlamentares e ministros que vão ao exterior
observar a paisagem, fazer
palestras ou assinar convênios fossem obrigados a
passar três dias em Bagdá.
O impagável é pago
A dívida social "impagável"
que Lula recebeu de Tomé
de Souza e do cacique Cunhambebe pode ser do mesmo tamanho que a dívida
cobrada pelos banqueiros a
18,5% ao ano. Ganha uma
viagem a Cuba no AeroLula
quem responder qual das
duas o companheiro paga
direitinho, sem cortes da
ekipekonômica, cerimoniais
de Patrus Ananias ou outros
problemas de cadastro.
Chance Zero
A chance de o governo americano (este, o próximo ou os
passados) apoiar a criação
de um imposto sobre transações financeiras para acabar
com a fome no mundo é
igual ou menor que zero. Por
um motivo muito simples: 11
em 10 americanos acham
que os organismos internacionais querem lhes tomar
dinheiro para sustentar burocratas em Nova York, Paris e Roma ou maganos e larápios no Terceiro Mundo.
O pior é que estão mais certos do que errados.
CPI dos Gigantes
Pode parecer exagero, mas
na disputa para a presidência da Câmara estão os ingredientes básicos da receita
que poderá servir ao país a
próxima CPI da Comissão
do Orçamento. Na última
CPI, em 1993, celebrizaram-se os "Anões do Orçamento". A reprise poderá trazer
"Os Gigantes".
Na veia
Lula não gosta de sangue,
mas, ultimamente, toda vez
que vê uma fotografia do vice-rei Anthony Garotinho,
perde algum tempo procurando-lhe a jugular.
Teatro amigo
É puro teatro a humildade
com que os representantes
do governo argentino encaminham a renegociação de
sua dívida externa. Se o presidente Néstor Kirchner emplacar o calote, seus negociadores serão mais festejados que seleção campeã do
mundo. A postura franciscana serve para mostrar que
os argentinos não pretendem exportar tecnologia caloteira. Ainda não há sinais
de que a transação será
bem-sucedida, mas, caso isso aconteça, antes do fim do
semestre o risco-Argentina
poderá estar poucos pontos
acima do risco-Brasil.
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