São Paulo, quarta-feira, 06 de março de 2002

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CRISE NA SUCESSÃO

Bornhausen se diz sem margem de manobra pela permanência

Roseana ameaça desistir se PFL não deixar governo FHC

Lula Marques/Folha Imagem
Roseana Sarney e o ministro tucano Arthur Virgílio (Secretaria Geral), após almoço na casa da governadora do Maranhão


KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

LIEGE ALBUQUERQUE
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

A governadora do Maranhão, Roseana Sarney, ameaçou ontem abandonar a sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto se o seu partido, o PFL, não romper com o governo e entregar os três ministérios que ainda tem.
A tendência do partido é sair, apesar de o presidente Fernando Henrique Cardoso também ter ameaçado, em reunião anteontem à noite com os ministros do PFL, tirar os cargos de segundo escalão da sigla se o partido formalizar o rompimento.
"Fui atingida na minha dignidade. Sem o apoio do partido, não tenho condições de seguir como candidata", disse a pefelista em reuniões com a bancada do PFL. Ela repetiu frases semelhantes nos diversos encontros de ontem.
Depois de almoçar com o ministro Arthur Virgílio (Secretaria Geral), que foi à casa de Roseana em Brasília a pedido de FHC, ela afirmou: "Está na mão do partido a minha pré-candidatura".
Virgílio fez um apelo para que Roseana defendesse a permanência do PFL no governo, mas ela se mostrou irredutível. Ela deu um ultimato ao partido por avaliar que, se ele continuar no governo, demonstrará que teme ser contaminado pelo episódio Murad, passando a impressão de que não crê na sua pré-candidatura.
Roseana repetiu nas reuniões que acredita que o pré-candidato do PSDB a presidente, o senador José Serra (SP), e o grupo de tucanos mais próximo dele tentaram tirar proveito da operação da Polícia Federal que apreendeu documentos e cerca de R$ 1,3 milhão na sede da Lunus, em São Luís (MA), na sexta. A empresa é dela e do marido e supersecretário no Maranhão, Jorge Murad.
Ou seja, Roseana avalia que, se for para deixar o páreo presidencial, é melhor fazê-lo com cacife nas pesquisas e procurando minar Serra. No cenário mais provável da última pesquisa Datafolha, Lula teve 27%; Roseana, 24%; Garotinho, 14%; Serra, 12%; Ciro Gomes (PPS), 10%, e Enéas Carneiro (Prona), 3%.
Aos pefelistas, Roseana disse que o partido precisa confiar nela. A governadora diz que pretende abrir seu sigilo bancário, telefônico e fiscal para mostrar que não teme a investigação do Ministério Público que causou a busca e apreensão na sua empresa.

Segundo escalão
A tendência do PFL é entregar os ministérios, mas há bancadas que ainda resistem à saída do governo devido à ameaça de retaliação de FHC. O presidente do PFL, o senador licenciado Jorge Bornhausen (SC), que gostaria de continuar no governo, confidenciou a interlocutores que ficou sem margem de manobra para evitar o rompimento.
A tendência é a Executiva do PFL decidir em reunião amanhã que abandona o governo em solidariedade a Roseana, mas dizendo que não haverá boicote no Congresso. A idéia, com isso, é tentar manter os cargos de segundo escalão, fundamentais em ano eleitoral, argumentando com FHC que foi dada satisfação a Roseana, mas que a governabilidade federal não foi avariada.
O PFL tem aproximadamente 2.000 cargos na administração direta e indireta, segundo o sociólogo Antônio Augusto de Queiróz, do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar). Mas as jóias da coroa do PFL são órgãos importantes, como a Caixa Econômica Federal, o INSS (Instituto Nacional de Seguro Social) e a Eletrobrás.
A tentativa do PFL de segurar o segundo escalão precisa ser combinada com FHC. Na reunião de anteontem com os ministros do PFL que ainda estão no governo, FHC disse que a entrega dos ministérios seria vista, no Brasil e na comunidade internacional, como um voto de desconfiança no governo e nele pessoalmente.
O presidente falou que o rompimento poderia gerar até uma crise econômica. Por isso, FHC disse que não bastaria deixar apenas os ministérios, o que ocorreria inevitavelmente até o fim do mês devido ao prazo de desincompatibilização dos que queiram se candidatar. E disse que o PFL passaria a ser tratado como adversário.


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