São Paulo, quarta-feira, 06 de março de 2002

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Roseana atribui descoberta de dinheiro a grampo

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

OTÁVIO CABRAL
DO PAINEL, EM BRASÍLIA

A governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), disse ontem a parlamentares de seu partido que um grampo telefônico teria sido usado para descobrir a existência de dinheiro em espécie -que ela diz ser cerca de R$ 1,3 milhão- na empresa Lunus Participações, de propriedade dela e de seu marido, Jorge Murad.
Para Roseana, quem fez o grampo teria então avisado à Polícia Federal para que fosse realizada uma batida num dia específico na sede da Lunus, o que acabou acontecendo na sexta-feira passada. A governadora não deu informações objetivas a respeito do suposto grampo.

Watergate brasileiro
Quem tem afirmado a vários interlocutores sobre uma possível espionagem no Maranhão é o pai de Roseana, o senador e ex-presidente da República, José Sarney (PMDB-AP).
Sarney afirma que estiveram recentemente no Maranhão agentes da Abin (Agência Brasileira de Inteligência, o serviço secreto federal coordenado pelo Palácio do Planalto).
O ex-presidente da República teria, segundo relato de interlocutores, nomes de alguns desses agentes. Ele chega a comparar o episódio com o caso Watergate, que em 1974 resultou na renúncia de Richard Nixon do cargo de presidente dos EUA -nesse episódio, houve espionagem na sede do Partido Democrata no edifício Watergate e Nixon (Republicano) tinha conhecimento da operação.
Há duas semanas, Sarney e o senador Edison Lobão (PFL-MA) tiveram uma reunião com o presidente Fernando Henrique Cardoso para reclamar da suposta presença de agentes da Abin.
FHC negou e chamou ao encontro o general Alberto Cardoso (Segurança Institucional), que também afirmou ser improcedente a informação. Segundo Roseana, esses agentes continuam em ação no Maranhão.
Na explicação que Roseana deu a respeito do dinheiro encontrado na Lunus, segundo parlamentares que ontem ouviram a governadora, fica subentendido que ela atribui à Abin a escuta clandestina de telefones na empresa.
A governadora tentou demonstrar tranquilidade a respeito dos documentos e do dinheiro apreendidos na Lunus. Sobre o dinheiro, repetiu em suas várias reuniões com pefelistas durante o dia que " não é crime" ter dinheiro em espécie numa empresa. E que a batida da PF para fazer a apreensão possivelmente queria constrangê-la com esse fato.
Roseana disse que apresentará documentos que comprovarão a origem do cerca de R$ 1,3 milhão encontrado na Lunus. Nenhum parlamentar ouvido pela Folha, no entanto, soube precisar quais seriam esses papéis e quando exatamente seriam divulgados.
Ela também prometeu levar esses papéis ao procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, à presidente do Coaf, Adrienne Senna, e ao superintendente da PF, Agílio Monteiro.
Até o momento, a explicação para o dinheiro tem sido que a Lunus é uma empresa do ramo imobiliário e costuma receber pagamentos em espécie.
Como a Lunus estaria para fazer grande compra de material de construção para iniciar as obras de um condomínio com 60 chalés em Barreirinhas, na região conhecida como Lençóis Maranhenses, teria preferido acumular caixa -Roseana usa a expressão "capital de giro"- em vez de fazer um depósito bancário.
Além disso, também seria costume a empresa fazer o pagamento de operários em dinheiro.



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