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São Paulo, quinta-feira, 06 de março de 2003

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IGREJA E REFORMAS

Tema da Campanha da Fraternidade é o idoso, que, segundo a entidade, muitas vezes não ganha o suficiente

CNBB critica valor das aposentadorias no país

Denilson Luís/Divulgação
Idosas seguram cartaz da Campanha da Fraternidade em missa


ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), d. Raymundo Damasceno, disse ontem, em Brasília, que as aposentadorias "devem garantir um seguro de vida para o idoso", ressalvando que hoje, às vezes, os valores pagos "não são suficientes" para a população de terceira idade viver dignamente.
D. Raymundo deu a declaração durante o lançamento da Campanha da Fraternidade, que em sua 39ª edição traz como o tema "Fraternidade e Pessoas Idosas - Vida, Dignidade e Esperança". A campanha deste ano será ecumênica, como aconteceu em 2000.
O secretário-geral da CNBB não revelou que valores seriam ideais. Afirmou que a Igreja Católica não trabalha com "quantidades" e que seus ensinamentos falam de um salário "digno para o trabalhador" fazer face aos gastos necessários com alimentação, saúde, educação e moradia para sua família.
"Cabe aos técnicos, aos economistas e aos políticos sentir o custo de vida, as dificuldades das famílias, para ver realmente qual é o salário que possa atender as suas necessidades fundamentais."
A referência à questão previdenciária surgiu quando d. Raymundo enumerou situações de preconceito em que o idoso é punido, o principal foco da campanha. Falou da infra-estrutura das cidades, do descaso dos jovens, da falta de informação e também da Previdência -assunto sobre o qual ainda não teria tratado com o novo governo.
No Brasil, há 15 milhões de pessoas com mais de 60 anos, ou seja, 8,6% da população, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A estimativa oficial é que em 2020 esse número chegue a 15%.
Segundo dados apresentados pela CNBB, enquanto a média de vida da população brasileira é de 68 anos, estima-se que esteja na faixa de 60 anos o tempo de vida com qualidade. "Só espero que a longevidade não seja o vilão da Previdência", disse o geriatra João Batista Lima Filho, coordenador da Pastoral da Terceira Idade.
O lançamento da campanha também foi um momento de críticas à atuação de governos anteriores no que diz respeito aos idosos. Lima Filho disse que a nomeação da presidente do Conselho Nacional do Idoso, Maria José Barroso, eleita em dezembro, ainda não foi publicada no "Diário Oficial" da União. "Em um país onde as políticas públicas -que também serão enfocadas pela campanha- caminham em conselhos e planos nacionais, precisamos do conselho [Nacional do Idoso] funcionando", disse Lima Filho, cobrando do Congresso a aprovação do Estatuto do Idoso.
Apesar do quadro, d. Raymundo disse esperar mais empenho do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, usando como indicativo o fato de sua prioridade ser um programa social -o Fome Zero.
A nova gestão, no entanto, foi questionada por estar discutindo a transferência do Conselho do Idoso da estrutura da Secretaria Nacional de Direitos Humanos para o Ministério da Assistência e Promoção Social.
Um público de cerca de 8.000 pessoas participou ontem da missa de celebração da abertura da Campanha da Fraternidade 2003, no Santuário Nacional de Aparecida. A cerimônia, realizada às 9h, foi presidida pelo cardeal-arcebispo de Aparecida, Aloísio Lorschedier, e celebrada por missionários redentoristas da basílica.

Colaborou a Folha Vale


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