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São Paulo, quinta-feira, 06 de março de 2003

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CAMPO MINADO

Sem-terra depredam vidraças de prédio de instituto em Cuiabá; em Goiânia, mulheres lideram invasão

MST invade prédios do Incra em 2 Estados

Carlos Costa/"Diário da Manhã"
Sem-terra, a maioria mulheres, dançam no prédio do Incra de Goiânia, que foi invadido ontem por cerca de 300 integrantes do MST


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AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE
DA AGÊNCIA FOLHA

O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) retomou as invasões a prédios do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). As invasões ocorreram em Cuiabá e Goiânia. Os sem-terra reclamam da demora na desapropriação de terras no governo de Luiz Inácio Lula da Silva em Mato Grosso e da indicação do superintendente do Incra em Goiás.
Na invasão em Cuiabá, anteontem, as vidraças das portas de entrada do prédio foram quebradas. A Polícia Militar precisou ser chamada para conter um confronto entre militantes do MST e do grupo dissidente MTA (Movimento dos Trabalhadores Rurais Assentados e Acampados), que se manifestou contra a invasão.
Em Goiânia, cerca de 300 integrantes do MST, a maioria mulheres, invadiram ontem a sede do Incra.
O superintendente-adjunto do Incra em Mato Grosso, Juari Catarino Arantes, disse que 300 sem-terra estão no prédio. Segundo o MST, são 500 os invasores. Do lado de fora, o grupo rival do MTA mantém 250 pessoas em barracas.
"O Incra mente demais e não encaminha nossos processos de desapropriação", disse o coordenador estadual do MST, Altamiro Stochero, 38. Os líderes do MST esperavam para o dia 27 passado a resposta sobre as desapropriações de oito fazendas e dizem que o MTA é beneficiado por um esquema de "corretagem de terras".
"Existe um conluio de funcionários do Incra com corretores e fazendeiros para desapropriar áreas que não servem para a reforma agrária", afirmou Stochero.
Arantes disse que investiga se há o esquema relatado pelo MST.
O coordenador estadual do MTA, José de Oliveira, 48, afirmou que a entidade criada há um ano e dois meses, a partir de dissidência com o MST, conseguiu em Brasília no mês passado a desapropriação de 21 mil hectares. Ele nega benefício num suposto esquema de corretores de fazenda.
Como Incra atendeu à reivindicação do MTA, o grupo, que já havia invadido duas vezes o prédio, era contra uma nova invasão.
As mulheres que lideraram a invasão da sede do Incra em Goiânia reivindicam maior agilidade no acompanhamento dos processos de desocupação de terras, paralisados desde a reformulação na estrutura do órgão, há 60 dias, e questionam a indicação do novo superintendente regional do Incra em Goiás. O MST diverge de pontos no direcionamento da política agrária federal em Goiás.
A nomeação do advogado Ailtamar Carlos da Silva, ligado à Fetaeg (Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Goiás), para a superintendência do órgão desagradou aos sem-terra. "Um dos critérios para a escolha [do superintendente] é o consenso dos movimentos sociais. O PT-GO indicou um nome [Silva] e não chamou o MST para conversar", disse Elizângela Moura, da direção estadual do MST.
A invasão essencialmente feminina faz parte ainda da programação do MST para o Dia da Mulher. "Estamos organizando estudos e debates para serem feitos ao longo desta semana. Para nós, é um calendário de luta, o dia 8 de março não é uma mera data comemorativa", declarou Elizângela.
Segundo o superintendente regional do Incra em exercício, José Saulo Derze Craveiro, a orientação do órgão é evitar confronto com as sem-terra. O presidente estadual do PT, deputado federal Rubens Otoni, negou divergências entre o partido e os sem-terra.
(HUDSON CORRÊA e ADRIANA CHAVES)


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