São Paulo, sexta-feira, 06 de abril de 2001

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OPERAÇÃO ABAFA

Baiano segura carlistas; peemedebista insinua retirar assinatura

Rivais, Jader e ACM ajudam a enterrar CPI da corrupção

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

No mesmo dia em que a oposição levou cerca de 10 mil pessoas às ruas de Brasília em ato público pela CPI da corrupção, Jader Barbalho (PMDB-PA), presidente do Senado, e Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), ex-presidente da Casa, deram declarações contra a instalação da comissão.
A convergência dos arquiinimigos Jader e ACM contra CPI foi uma coincidência que, na prática, pôs uma pá de cal nas pretensões da oposição e reforçou o êxito da operação abafa deflagrada pelos aliados do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Jader admitiu ontem pela primeira vez retirar seu nome do pedido da CPI. Alegou que sua assinatura perdeu o sentido depois que parecer do Ministério Público do Pará descartou investigá-lo por desvios de recursos do Banpará (Banco do Estado do Pará).
A decisão da Promotoria foi tomada anteontem com base em parecer de 1992 do Banco Central, no qual o BC não conseguiu apontar os beneficiados pelos desvios do dinheiro.
ACM, por sua vez, também recuou da CPI. Abrindo caminho para uma eventual saída honrosa que lhe permita, depois de ter assinado o requerimento, fazer afundar de vez a comissão, o baiano disse: "Minha bancada não vai assinar nada que o (deputado) Walter Pinheiro esteja à frente".
Líder do PT na Câmara, Pinheiro é o responsável por cabalar o apoio dos deputados à CPI. Até o momento, o requerimento só conta com a assinatura de seis carlistas na Casa. No Senado, além de ACM, os dois outro senadores baianos -Waldeck Ornélas e Paulo Souto, ambos do PFL carlista- assinaram.

Governista insatisfeito
Apesar de sua declaração, que esvazia ainda mais a CPI, Jader manifestou insatisfação com o governo. Reclamou que o relatório do BC deveria ter sido divulgado antes. "Estou indignado. Se eu estava desde 92 nominalmente excluído do relatório pelo próprio BC, então se tratava de uma batalha de Itararé (batalha que nunca existiu), mas que serviu para desgastar minha imagem", disse.
O procurador-geral de Justiça do Pará, Geraldo Rocha, só anuncia hoje o destino das investigações sobre o caso Banpará. Ele ainda analisa o parecer do promotor Vicente Miranda Filho, divulgado anteontem e que pediu o arquivamento do caso.
Rocha deverá se pronunciar também sobre a prescrição dos crimes identificados pelo BC. A tradição no Ministério Público é o procurador-geral acatar a posição do promotor que analisou o caso.

Álibi baiano
ACM procurou maquiar seu recuo diante da CPI repetindo ameaças contra o governo. "Se quiser, tenho 40 assinaturas. Mas não estou trabalhando para isso".
O senador usou o fato de Walter Pinheiro ter recebido uma comitiva de 21 deputados estaduais da Bahia que foram a Brasília apresentar denúncias contra ele, ACM, para investir contra o deputado e, ao mesmo tempo, jogar um balde de água gelada na CPI.
A ofensiva contra o deputado serviu ainda para ACM aplainar o terreno da conversa do governador da Bahia, César Borges, com FHC, prevista para hoje em Brasília. Borges deve reivindicar repasses de verbas ao Estado.

Painel do Senado
É pouco provável que ACM seja processado por quebra de decoro parlamentar em virtude do novo laudo apresentado anteontem pelo foneticista Ricardo Molina. No laudo, Molina afirma que o senador realmente disse, em conversa com procuradores da República, que teve acesso a uma lista com os senadores que votaram contra ou a favor da cassação do ex-senador Luiz Estevão (PMDB).
Para os senadores do Conselho de Ética, ACM só será processado se ficar provado que o sistema de votação secreta foi violado.


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