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Manifestantes xingam primeiro-ministro francês
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar de todo o esforço do cerimonial do governo brasileiro, o
primeiro-ministro da França,
Lionel Jospin, foi vaiado e xingado por manifestantes que ocupavam a Esplanada dos Ministérios
em favor da CPI da corrupção. O
grupo, de aproximadamente 80
pessoas das mais de 10 mil que integraram a marcha, portava bandeiras do MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra)
e do PC do B.
"Vai embora, seu safado e ladrão do dinheiro brasileiro", gritou um manifestante.
Jospin ainda tentou se explicar
para uma manifestante que havia
lhe feito um aceno. Desviando da
própria segurança, ele se aproximou dela e disse, em francês:
"Bom dia, sou francês". A manifestante ficou calada.
A mulher de Jospin, Sylviane,
que acompanhava o primeiro-ministro na rápida visita que ele
fez à Catedral Metropolitana de
Brasília, disse que não se assustou
com o episódio.
"Manifestações são normais
num país democrático. Na França, as manifestações estão por toda parte", afirmou. O primeiro-ministro, por sua vez, saiu dizendo que a cidade, mesmo com as
manifestações, era "magnífica".
Todo o cerimonial foi montado
para evitar que Jospin -e especialmente o presidente Fernando
Henrique Cardoso- tivesse de
cruzar com os manifestantes.
Tanto que os dois deram uma volta e usaram a pista de trás da Esplanada para terem acesso à lateral do Palácio do Itamaraty, onde
tiveram um almoço oficial.
A Polícia Militar colocou estrategicamente vários banheiros
móveis no gramado próximo ao
Itamaraty, formando uma espécie
de barreira visual entre os manifestantes e o palácio.
A PM também deixou que eles
dessem a volta em frente à praça
dos Três Poderes e passassem em
frente ao Palácio do Planalto
-volta normalmente proibida,
pois as manifestações são desviadas em frente ao Congresso.
Dessa forma, no momento em
que FHC e Jospin recebiam os
cumprimentos oficiais dentro do
palácio, os manifestantes estavam
do outro lado da Esplanada.
Na saída, FHC e Jospin usaram
a mesma porta lateral. Nessa hora, no entanto, foi possível ouvir o
líder do PT, Luiz Inácio Lula da
Silva, discursando contra o governo no carro de som.
Apesar do clima tenso entre
membros da segurança e do cerimonial, FHC e Jospin demonstraram descontração.
Na entrevista que precedeu o almoço, Jospin riu quando foi questionado pela Folha sobre a forma
como lidaria com a disputa entre
a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), e o presidente FHC para capitalizar politicamente sua
visita ao Brasil.
"Não fui informado sobre isso,
mas não devo expressar preferências", disse o primeiro-ministro.
Jospin não falou sobre Marta
-que o receberia para um jantar
particular em casa, ontem-, mas
fez vários elogios a FHC.
(WILLIAM FRANÇA e LULA MARQUES)
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