São Paulo, sexta-feira, 06 de abril de 2001

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Manifestantes xingam primeiro-ministro francês

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar de todo o esforço do cerimonial do governo brasileiro, o primeiro-ministro da França, Lionel Jospin, foi vaiado e xingado por manifestantes que ocupavam a Esplanada dos Ministérios em favor da CPI da corrupção. O grupo, de aproximadamente 80 pessoas das mais de 10 mil que integraram a marcha, portava bandeiras do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e do PC do B.
"Vai embora, seu safado e ladrão do dinheiro brasileiro", gritou um manifestante.
Jospin ainda tentou se explicar para uma manifestante que havia lhe feito um aceno. Desviando da própria segurança, ele se aproximou dela e disse, em francês: "Bom dia, sou francês". A manifestante ficou calada.
A mulher de Jospin, Sylviane, que acompanhava o primeiro-ministro na rápida visita que ele fez à Catedral Metropolitana de Brasília, disse que não se assustou com o episódio.
"Manifestações são normais num país democrático. Na França, as manifestações estão por toda parte", afirmou. O primeiro-ministro, por sua vez, saiu dizendo que a cidade, mesmo com as manifestações, era "magnífica".
Todo o cerimonial foi montado para evitar que Jospin -e especialmente o presidente Fernando Henrique Cardoso- tivesse de cruzar com os manifestantes. Tanto que os dois deram uma volta e usaram a pista de trás da Esplanada para terem acesso à lateral do Palácio do Itamaraty, onde tiveram um almoço oficial.
A Polícia Militar colocou estrategicamente vários banheiros móveis no gramado próximo ao Itamaraty, formando uma espécie de barreira visual entre os manifestantes e o palácio.
A PM também deixou que eles dessem a volta em frente à praça dos Três Poderes e passassem em frente ao Palácio do Planalto -volta normalmente proibida, pois as manifestações são desviadas em frente ao Congresso.
Dessa forma, no momento em que FHC e Jospin recebiam os cumprimentos oficiais dentro do palácio, os manifestantes estavam do outro lado da Esplanada.
Na saída, FHC e Jospin usaram a mesma porta lateral. Nessa hora, no entanto, foi possível ouvir o líder do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, discursando contra o governo no carro de som.
Apesar do clima tenso entre membros da segurança e do cerimonial, FHC e Jospin demonstraram descontração.
Na entrevista que precedeu o almoço, Jospin riu quando foi questionado pela Folha sobre a forma como lidaria com a disputa entre a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), e o presidente FHC para capitalizar politicamente sua visita ao Brasil.
"Não fui informado sobre isso, mas não devo expressar preferências", disse o primeiro-ministro.
Jospin não falou sobre Marta -que o receberia para um jantar particular em casa, ontem-, mas fez vários elogios a FHC.
(WILLIAM FRANÇA e LULA MARQUES)


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