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GRANDE IRMÃO
Desenho animado americano exibe episódio com erros factuais e preconceitos sobre o país
"Os Simpsons" escarnecem do Brasil
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
"Os Simpsons", desenho animado cômico criado pelo cartunista Matt Groening, levou ao ar
em seu mais recente episódio,
exibido nos Estados Unidos no
último domingo, uma trama
com uma visão preconceituosa e
com erros factuais sobre o Brasil,
especificamente a cidade do Rio
de Janeiro.
"Blame it on Lisa" (Culpe a Lisa, em inglês) começa com Marge, a matriarca do casal de classe
média que mora na cidade fictícia de Springfield, reclamando
da conta de telefone, que traz várias ligações para o Brasil.
Descobre-se logo que a autora
dos telefonemas é Lisa, a filha intelectual da família.
Ela está "patrocinando" um
órfão brasileiro, que se chama
Ronaldo e mora numa favela carioca. Na fita em que agradece o
dinheiro recebido, o menino diz
que conseguiu comprar uma
porta para seu orfanato e que
agora não é mais atacado "pelos
macacos".
Ronaldo some, e a família
Simpson decide ir ao Rio de Janeiro localizá-lo.
Logo ao chegar, Homer, o pai,
é sequestrado por um taxista carioca, que pede um resgate de
US$ 50 mil (quando recebe o dinheiro, o bandido olha para as
notas coloridas de real e diz:
"Meu Deus, nosso dinheiro é
mesmo gay!").
Gays e Xuxa
Todos os personagens masculinos que aparecem no episódio
têm tendências bissexuais, o que
leva Marge a comentar, enquanto assiste a um desfile de Carnaval: "Homer iria adorar essa sexualidade confusa".
Na televisão do hotel, Bart, o filho-problema, assiste a um programa infantil apresentando por
uma loira seminua, no qual lascivas dançarinas literalmente se
esfregam no cenário e seduzem
as crianças da platéia.
A referência indireta é à apresentadora de TV Xuxa Meneghel, que sofreu críticas da imprensa norte-americana pelo
conteúdo supostamente sexualizado de seu programa infantil ao
tentar lançar uma versão da
atração na televisão dos Estados
Unidos nos anos 90.
Além do preconceito generalizado, há erros factuais grosseiros. Os sequestradores de Homer, por exemplo, vão de barco
do Rio de Janeiro para a Floresta
Amazônica, que seria vizinha da
cidade (isso talvez explique os
macacos na favela). Mais: um
dos personagens do episódios se
chama Hernando.
A confusão com o universo latino-americano não pára aí: todos os "brasileiros" do desenho
têm sotaque espanhol e um indefectível bigodinho, a família
Simpson entra numa "fila de
conga" (o ritmo caribenho) para
ir do aeroporto até o hotel e uma
escola ensina a macarena (a dança colombiana).
Maconha medicinal
O seriado é exibido pela Fox, o
braço televisivo do empresário
australiano Rupert Murdoch, e
retransmitido pela TV paga brasileira e pelo SBT com alguns
meses de atraso em relação à
matriz americana -o episódio
em questão está previsto para ir
ao ar em outubro.
A série -que retrata de forma
irônica a vida de uma típica família de classe média americana- está em sua 13º temporada,
o que a torna um dos mais antigos seriados ainda no ar, e figura
entre as cinco principais audiências da Fox.
O episódio "Blame it on Lisa"
foi assistido por cerca de 11,1 milhões de telespectadores e ficou
em 28º lugar entre todos os programas exibidos na TV americana na semana retrasada.
Não é raro a família fictícia de
Springfield se meter em alguma
polêmica. No episódio que vai
ao ar amanhã nos Estados Unidos, por exemplo, Homer se torna um viciado em maconha medicinal.
A emissora americana diz que
a posição oficial da Fox é não interferir no conteúdo criativo de
seus programas de ficção, como
é o caso de "Os Simpsons".
Já a assessoria de imprensa do
escritório de Matt Groening disse à Folha que o autor não vai ser
pronunciar sobre o caso antes de
ouvir a reação oficial do governo
brasileiro.
A Folha apurou que Groening
contou com a ajuda de um colaborador brasileiro que apenas
corrigiu a grafia em português
dos nomes utilizados no episódio, como "Aeroporto Internacional de (sic) Galeão", "escola
de samba" e "Orfanato dos Anjos Imundos".
OS SIMPSONS - desenho animado
exibido pelo SBT, de segunda a sexta,
às 14h45, e pelo canal pago Fox, aos
domingos, às 20h30, e de segunda a
sexta, às 20h30 e à meia-noite
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