São Paulo, sábado, 06 de abril de 2002

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GRANDE IRMÃO

Desenho animado americano exibe episódio com erros factuais e preconceitos sobre o país

"Os Simpsons" escarnecem do Brasil

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

"Os Simpsons", desenho animado cômico criado pelo cartunista Matt Groening, levou ao ar em seu mais recente episódio, exibido nos Estados Unidos no último domingo, uma trama com uma visão preconceituosa e com erros factuais sobre o Brasil, especificamente a cidade do Rio de Janeiro.
"Blame it on Lisa" (Culpe a Lisa, em inglês) começa com Marge, a matriarca do casal de classe média que mora na cidade fictícia de Springfield, reclamando da conta de telefone, que traz várias ligações para o Brasil.
Descobre-se logo que a autora dos telefonemas é Lisa, a filha intelectual da família.
Ela está "patrocinando" um órfão brasileiro, que se chama Ronaldo e mora numa favela carioca. Na fita em que agradece o dinheiro recebido, o menino diz que conseguiu comprar uma porta para seu orfanato e que agora não é mais atacado "pelos macacos".
Ronaldo some, e a família Simpson decide ir ao Rio de Janeiro localizá-lo.
Logo ao chegar, Homer, o pai, é sequestrado por um taxista carioca, que pede um resgate de US$ 50 mil (quando recebe o dinheiro, o bandido olha para as notas coloridas de real e diz: "Meu Deus, nosso dinheiro é mesmo gay!").

Gays e Xuxa
Todos os personagens masculinos que aparecem no episódio têm tendências bissexuais, o que leva Marge a comentar, enquanto assiste a um desfile de Carnaval: "Homer iria adorar essa sexualidade confusa".
Na televisão do hotel, Bart, o filho-problema, assiste a um programa infantil apresentando por uma loira seminua, no qual lascivas dançarinas literalmente se esfregam no cenário e seduzem as crianças da platéia.
A referência indireta é à apresentadora de TV Xuxa Meneghel, que sofreu críticas da imprensa norte-americana pelo conteúdo supostamente sexualizado de seu programa infantil ao tentar lançar uma versão da atração na televisão dos Estados Unidos nos anos 90.
Além do preconceito generalizado, há erros factuais grosseiros. Os sequestradores de Homer, por exemplo, vão de barco do Rio de Janeiro para a Floresta Amazônica, que seria vizinha da cidade (isso talvez explique os macacos na favela). Mais: um dos personagens do episódios se chama Hernando.
A confusão com o universo latino-americano não pára aí: todos os "brasileiros" do desenho têm sotaque espanhol e um indefectível bigodinho, a família Simpson entra numa "fila de conga" (o ritmo caribenho) para ir do aeroporto até o hotel e uma escola ensina a macarena (a dança colombiana).

Maconha medicinal
O seriado é exibido pela Fox, o braço televisivo do empresário australiano Rupert Murdoch, e retransmitido pela TV paga brasileira e pelo SBT com alguns meses de atraso em relação à matriz americana -o episódio em questão está previsto para ir ao ar em outubro.
A série -que retrata de forma irônica a vida de uma típica família de classe média americana- está em sua 13º temporada, o que a torna um dos mais antigos seriados ainda no ar, e figura entre as cinco principais audiências da Fox.
O episódio "Blame it on Lisa" foi assistido por cerca de 11,1 milhões de telespectadores e ficou em 28º lugar entre todos os programas exibidos na TV americana na semana retrasada.
Não é raro a família fictícia de Springfield se meter em alguma polêmica. No episódio que vai ao ar amanhã nos Estados Unidos, por exemplo, Homer se torna um viciado em maconha medicinal.
A emissora americana diz que a posição oficial da Fox é não interferir no conteúdo criativo de seus programas de ficção, como é o caso de "Os Simpsons".
Já a assessoria de imprensa do escritório de Matt Groening disse à Folha que o autor não vai ser pronunciar sobre o caso antes de ouvir a reação oficial do governo brasileiro.
A Folha apurou que Groening contou com a ajuda de um colaborador brasileiro que apenas corrigiu a grafia em português dos nomes utilizados no episódio, como "Aeroporto Internacional de (sic) Galeão", "escola de samba" e "Orfanato dos Anjos Imundos".


OS SIMPSONS - desenho animado exibido pelo SBT, de segunda a sexta, às 14h45, e pelo canal pago Fox, aos domingos, às 20h30, e de segunda a sexta, às 20h30 e à meia-noite



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