São Paulo, terça-feira, 06 de abril de 2004

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JUDICIÁRIO

Novo presidente do tribunal, Vidigal sai em defesa do governo petista

OAB usa posse no STJ para atacar Lula

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Diante de Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Roberto Busato, atacou e cobrou ontem resultados do governo durante a posse do novo presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça), ministro Edson Vidigal.
Referindo-se à política econômica, disse: "A exemplo de toda a nação, entendemos que é preciso mais ousadia e determinação no encaminhamento das mudanças. Não cremos que a ortodoxia em curso nos levará às transformações pretendidas pela sociedade".
Lula não discursou, mas foi defendido por Vidigal, que disse que o homem público só está isento de críticas quando não faz nada.
O ministro citou William Shakespeare e a frase "se não queres ser vítima da calúnia, não digas nada, não faças nada, sejas absolutamente nada". E acrescentou: "Esse é, presidente, o risco que se corre na vida pública quando se quer fazer as coisas bem feitas, bem longe da mediocridade."
Para Busato, Lula foi vitorioso nas eleições porque a população brasileira queria mudanças, mas elas não estariam ocorrendo por causa de interesses contrariados de "segmentos reacionários".
Vidigal substituiu Nilson Naves na presidência do STJ. Salvio de Figueiredo tornou-se o vice. Os presidentes do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), e oito governadores estavam presentes.
Essa não é a primeira vez que um presidente da República comparece a uma posse de tribunal, que se transforma em ato de protesto contra o governo. O próprio Lula, na posse do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Maurício Corrêa, em junho de 2003, ouviu calado o ministro conclamar mobilização dos juízes contra a reforma da Previdência.
Em 2001, Fernando Henrique Cardoso assistiu a duro discurso do ex-presidente da OAB Rubens Approbato, que criticou o abuso na edição de medidas provisórias, na posse de Marco Aurélio de Mello na presidência do STF. Ciente desse risco, Vidigal comprometeu-se a sair em defesa de Lula caso viessem críticas da OAB.
O novo presidente do STJ também defendeu o papel "conciliador" do Poder Judiciário e criticou a morosidade da Justiça.
Minutos após a posse de Vidigal, Corrêa protestou contra o tom conciliador do discurso do colega. "Harmonização e convivência pacífica sempre foram o nosso propósito. Falar nisso neste momento é muito fácil. Eu queria ver [ele] falar isso na hora em que o governo queria dizer que não havia integralidade nem paridade [da aposentadoria] para ninguém", disse o ministro a presidentes de tribunais de justiça.
Corrêa referia-se à sua própria posse, quando Lula o viu conclamar mobilização dos juízes para impedir a perda do direito à aposentadoria integral e à paridade de reajuste entre ativos e inativos.
"Agora é fácil dizer "vamos harmonizar, é preciso harmonizar". Por quê? Porque já limpamos o caminho para que possam passar." Na época da posse de Corrêa, os juízes desistiram de greve após acordo que preservou a aposentadoria integral e a paridade.
Em 9 de maio, o ministro será substituído por Nelson Jobim na presidência do STF, porque completará 70 anos e se aposentará.
(SILVANA DE FREITAS E IURI DANTAS)


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