|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRISE NO GOVERNO/ VIOLAÇÃO DE SIGILO
Marcelo Netto é acusado de vazar informações sobre extrato de caseiro; para advogado, como jornalista, ele tem "dever de informar"
Ex-assessor se cala na PF e não é indiciado
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ex-assessor especial do ex-ministro Antonio Palocci, Marcelo
Netto pediu tempo para responder à Polícia Federal se teve ou
não acesso aos extratos bancários
do caseiro Francenildo dos Santos
Costa, mas seu advogado entende
que, na condição de assessor de
imprensa da Fazenda, Netto não
tem "em tese" responsabilidade
de guardar o sigilo das informações. Ele não foi indiciado pela PF.
O criminalista Eduardo Toledo
disse que seu cliente responderá
às perguntas da Polícia Federal
tão logo tenha acesso ao inquérito
que apura a violação do sigilo
bancário do caseiro. Netto é investigado pelo vazamento das informações sobre depósitos e saques na conta de Costa.
O ex-assessor de Palocci compareceu ontem de manhã à sede
da Polícia Federal, mas optou por
ficar em silêncio antes de reconhecer detalhes do inquérito. "Digo que o Marcelo é inocente, mas
ele, só ele, vai poder dizer se viu
ou não os extratos, não seria ético
de minha parte responder por
ele", afirmou Toledo, que acreditava no indiciamento de seu cliente, o que não ocorreu ontem, ao
contrário de Palocci e do ex-presidente da Caixa Econômica Federal Jorge Mattoso -ambos foram
indiciados após depor.
Em entrevista após a passagem
de Netto na Polícia Federal,
Eduardo Toledo desenvolveu o
raciocínio segundo o qual jornalistas que exercem funções públicas respondem também ao código de ética da profissão. "O Marcelo é um jornalista e jornalistas
têm o dever de informar", disse.
Ainda de acordo com o advogado criminalista, a suposta quebra
de sigilo bancário do caseiro teria
ocorrido antes da divulgação dos
dados à imprensa. "O crime, se
aconteceu, se configurou no momento em que houve acesso aos
dados fora das hipóteses legais."
Netto chegou ontem à sede da
PF em Brasília às 7h50. Entrou pela porta da frente, ao contrário da
maioria dos investigados que se
apresentaram para prestar depoimento até agora. Em regra, eles
têm entrado pela garagem.
O único comentário do jornalista que consta do depoimento é
que ele estaria muito abalado com
os últimos acontecimentos. Para a
PF, ainda não há elementos no inquérito que permitam enquadrar
o jornalista em prática de crime.
Toledo afirmou que seu cliente
é "inocente" e tratou como "natural" o fato de Netto ter acompanhado reuniões na casa de Palocci
em que foram tratados assuntos
relacionados ao caseiro.
Os dois principais personagens
indiciados pela quebra do sigilo
bancário -Palocci e Mattoso-
insistem em que suas participações no episódio se limitaram ao
cumprimento de uma rotina de
detecção de movimentações bancárias atípicas. Mattoso diz que
entregou os extratos a Palocci,
que sustenta ter destruído os documentos sem vazá-los.
Netto estava presente na residência do ex-ministro no momento em que os extratos foram
entregues. O advogado explicou
assim a presença do cliente na casa: "Ele fez o que fazia nos últimos
dez meses, desde o início da crise
no Ministério da Fazenda", numa
referência ao envolvimento de Palocci em denúncias de corrupção.
Toledo negou que Netto busque
proteção do governo em troca de
silêncio. "Não há pedido de blindagem. Há uma nuvem cinzenta
que a cada dia envolve mais pessoas, mas a defesa não permitiria
uma situação dessas, não há conluio entre os investigados."
(MARTA SALOMON E ANDRÉA MICHAEL)
Texto Anterior: Em nome do ex-ministro: Advogado acumula defesas polêmicas Próximo Texto: Ascensão e queda: Sob Collor, jornalista presidiu Radiobrás Índice
|