São Paulo, quinta-feira, 06 de abril de 2006

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CRISE NO GOVERNO/ VIOLAÇÃO DE SIGILO

Marcelo Netto é acusado de vazar informações sobre extrato de caseiro; para advogado, como jornalista, ele tem "dever de informar"

Ex-assessor se cala na PF e não é indiciado

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ex-assessor especial do ex-ministro Antonio Palocci, Marcelo Netto pediu tempo para responder à Polícia Federal se teve ou não acesso aos extratos bancários do caseiro Francenildo dos Santos Costa, mas seu advogado entende que, na condição de assessor de imprensa da Fazenda, Netto não tem "em tese" responsabilidade de guardar o sigilo das informações. Ele não foi indiciado pela PF.
O criminalista Eduardo Toledo disse que seu cliente responderá às perguntas da Polícia Federal tão logo tenha acesso ao inquérito que apura a violação do sigilo bancário do caseiro. Netto é investigado pelo vazamento das informações sobre depósitos e saques na conta de Costa.
O ex-assessor de Palocci compareceu ontem de manhã à sede da Polícia Federal, mas optou por ficar em silêncio antes de reconhecer detalhes do inquérito. "Digo que o Marcelo é inocente, mas ele, só ele, vai poder dizer se viu ou não os extratos, não seria ético de minha parte responder por ele", afirmou Toledo, que acreditava no indiciamento de seu cliente, o que não ocorreu ontem, ao contrário de Palocci e do ex-presidente da Caixa Econômica Federal Jorge Mattoso -ambos foram indiciados após depor.
Em entrevista após a passagem de Netto na Polícia Federal, Eduardo Toledo desenvolveu o raciocínio segundo o qual jornalistas que exercem funções públicas respondem também ao código de ética da profissão. "O Marcelo é um jornalista e jornalistas têm o dever de informar", disse.
Ainda de acordo com o advogado criminalista, a suposta quebra de sigilo bancário do caseiro teria ocorrido antes da divulgação dos dados à imprensa. "O crime, se aconteceu, se configurou no momento em que houve acesso aos dados fora das hipóteses legais."
Netto chegou ontem à sede da PF em Brasília às 7h50. Entrou pela porta da frente, ao contrário da maioria dos investigados que se apresentaram para prestar depoimento até agora. Em regra, eles têm entrado pela garagem.
O único comentário do jornalista que consta do depoimento é que ele estaria muito abalado com os últimos acontecimentos. Para a PF, ainda não há elementos no inquérito que permitam enquadrar o jornalista em prática de crime.
Toledo afirmou que seu cliente é "inocente" e tratou como "natural" o fato de Netto ter acompanhado reuniões na casa de Palocci em que foram tratados assuntos relacionados ao caseiro.
Os dois principais personagens indiciados pela quebra do sigilo bancário -Palocci e Mattoso- insistem em que suas participações no episódio se limitaram ao cumprimento de uma rotina de detecção de movimentações bancárias atípicas. Mattoso diz que entregou os extratos a Palocci, que sustenta ter destruído os documentos sem vazá-los.
Netto estava presente na residência do ex-ministro no momento em que os extratos foram entregues. O advogado explicou assim a presença do cliente na casa: "Ele fez o que fazia nos últimos dez meses, desde o início da crise no Ministério da Fazenda", numa referência ao envolvimento de Palocci em denúncias de corrupção.
Toledo negou que Netto busque proteção do governo em troca de silêncio. "Não há pedido de blindagem. Há uma nuvem cinzenta que a cada dia envolve mais pessoas, mas a defesa não permitiria uma situação dessas, não há conluio entre os investigados."
(MARTA SALOMON E ANDRÉA MICHAEL)

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