São Paulo, segunda, 6 de abril de 1998

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SUCESSÃO ESTADUAL
Adversários ferrenhos do governador Cameli agora dividem palanque para distribuir presentes
Campanha no Acre vira "salada política"

LUCIO VAZ
enviado especial ao Acre


As eleições deste ano uniram adversários políticos antes inconciliáveis e criaram uma "salada política" no Acre do governador Orleir Cameli (PFL).
"Cameli é o sátrapa (poderoso, dominador, déspota) amazonense clássico. Transgride leis, ignora licitações, deposita dinheiro público em sua conta pessoal, negocia com empresa colombiana suspeita de envolvimento com o narcotráfico, trabalha com caixa dois".
A declaração não é de nenhum petista ou tucano em palanque de oposição.
Pode ser encontrado nos anais do Senado Federal. Foi feita pelo senador Nabor Junior (PMDB-AC), no dia 31 de outubro de 1995. Hoje, Nabor participa das entregas do programa "O Pão Nosso" e é elogiado por Cameli.
O programa distribui produtos para populações carentes no Acre. Nos eventos em que comparece, Cameli pede votos para sua reeleição ao governo do Estado.
No dia 24 de outubro de 1995, em aparte no Senado, o senador Flaviano Melo (PMDB-AC) avisou: "Estamos tentando audiência com o ministro Nelson Jobim (então ocupante da pasta da Justiça) para apresentar formalmente o pedido de intervenção (no Acre). Com certeza, o presidente da República pedirá autorização ao Congresso para decretar a intervenção".
No comício realizado em Sena Madureira (150 km de Rio Branco) no dia 15 de março deste ano, Cameli fez um pedido aos eleitores: "Precisamos eleger Flaviano Melo senador da República". Flaviano estava no palanque e participou da entrega de equipamentos.
O PFL de Cameli e o PMDB de Flaviano estão com uma coligação praticamente fechada para as eleições deste ano. O governador acha tudo isso natural.
"Eu, como não entendo de política, não entendo essas coisas. Mas, como a música é essa, eu tenho De dançar. Aqui tem uma história que diz: a política do Acre muda igual às nuvens. Todo mundo faz aliança com todo mundo", disse.
Cameli diz que o fato de estar se unindo a velhos inimigos é apenas uma prática que evita a divisão de poder. "Nós não podemos ficar feito cachorro, querendo dividir pedaços. Aqui no Acre, de primeiro, eram o PMDB e o PDS. Eram duas onças disputando um pedaço de carne. Uma estava no poder e a outra estava rosnando e perseguindo as pessoas", disse.



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