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Sindicalista contesta versão de Fayad
FELIPE WERNECK
da Sucursal do Rio
Preso político durante o regime
militar, Luiz Roberto Tenório,
atual presidente do Sindicato dos
Médicos do Município do Rio,
contestou as declarações do general Ricardo Fayad na carta em que
ele pede licença do cargo de subdiretor de Saúde do Exército, do
qual foi em seguida exonerado.
Fayad, que é acusado de ter participado de atos de tortura durante
o regime militar, diz na carta estar
sendo "alvo de uma campanha difamatória" que teria origem em
"desavenças que remontam à
época das universidades".
Preso em 1972 no DOI-Codi, Tenório disse que teve seu tímpano
direito perfurado após uma sessão
de tortura e foi levado a Fayad.
"Senti um alívio quando vi Fayad, que havia sido meu colega de
turma na universidade", disse Tenório. "Em vez de me ajudar, ou
avisar minha família, ele foi comunicar ao torturador que continuasse, porque eu teria muito o
que falar."
"Tivemos um relacionamento
normal no curso de medicina,
apesar das divergências políticas.
Ele era de direita, mas convivemos
por seis anos sem nenhum atrito
pessoal", disse Tenório.
Em sua carta, Fayad diz que "as
diferenças pessoais e ideológicas
daquela época geraram em algumas pessoas profundos ressentimentos que encontram, nos dias
de hoje, a oportunidade para desaguar em declarações que não representam a realidade dos fatos".
Tenório disse não ter problemas
com "o Fayad colega de turma",
mas com "o médico torturador sádico da ditadura militar".
O general diz na carta ter "a imagem atingida por pessoas que não
conseguem superar seus antigos
posicionamentos ideológicos".
Tenório disse que não há perseguição ou revanchismo contra Fayad. "Revanchismo seria eu contribuir para sua tortura ou assassinato, como ele fez na ditadura.
Agora ele pode botar um pijama e
fazer análise para o resto da vida,
mas eu acredito que ele não tenha
sentimento de culpa pelo que fez",
afirmou.
Presa política em 1969 e 1972, Ilma Noronha, 47, afirma que Fayad autorizava os atos de tortura,
após avaliar a capacidade de resistência dos presos. "Ele era o profissional que estava ali para dosar
a tortura e para cuidar para que
não ficassem marcas no corpo."
Fayad não foi encontrado para
comentar as críticas.
Sua nomeação para o cargo de
subdiretor de Saúde do Exército
gerou uma crise no governo Fernando Henrique Cardoso.
Entidades de defesa dos direitos
humanos fizeram atos em São
Paulo e no Rio contra a nomeação
de Fayad. A saída encontrada para
o caso foi o pedido de licença do
general, que automaticamente foi
exonerado.
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