São Paulo, segunda, 6 de abril de 1998

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Sindicalista contesta versão de Fayad

FELIPE WERNECK
da Sucursal do Rio

Preso político durante o regime militar, Luiz Roberto Tenório, atual presidente do Sindicato dos Médicos do Município do Rio, contestou as declarações do general Ricardo Fayad na carta em que ele pede licença do cargo de subdiretor de Saúde do Exército, do qual foi em seguida exonerado.
Fayad, que é acusado de ter participado de atos de tortura durante o regime militar, diz na carta estar sendo "alvo de uma campanha difamatória" que teria origem em "desavenças que remontam à época das universidades".
Preso em 1972 no DOI-Codi, Tenório disse que teve seu tímpano direito perfurado após uma sessão de tortura e foi levado a Fayad.
"Senti um alívio quando vi Fayad, que havia sido meu colega de turma na universidade", disse Tenório. "Em vez de me ajudar, ou avisar minha família, ele foi comunicar ao torturador que continuasse, porque eu teria muito o que falar."
"Tivemos um relacionamento normal no curso de medicina, apesar das divergências políticas. Ele era de direita, mas convivemos por seis anos sem nenhum atrito pessoal", disse Tenório.
Em sua carta, Fayad diz que "as diferenças pessoais e ideológicas daquela época geraram em algumas pessoas profundos ressentimentos que encontram, nos dias de hoje, a oportunidade para desaguar em declarações que não representam a realidade dos fatos".
Tenório disse não ter problemas com "o Fayad colega de turma", mas com "o médico torturador sádico da ditadura militar".
O general diz na carta ter "a imagem atingida por pessoas que não conseguem superar seus antigos posicionamentos ideológicos".
Tenório disse que não há perseguição ou revanchismo contra Fayad. "Revanchismo seria eu contribuir para sua tortura ou assassinato, como ele fez na ditadura. Agora ele pode botar um pijama e fazer análise para o resto da vida, mas eu acredito que ele não tenha sentimento de culpa pelo que fez", afirmou.
Presa política em 1969 e 1972, Ilma Noronha, 47, afirma que Fayad autorizava os atos de tortura, após avaliar a capacidade de resistência dos presos. "Ele era o profissional que estava ali para dosar a tortura e para cuidar para que não ficassem marcas no corpo."
Fayad não foi encontrado para comentar as críticas.
Sua nomeação para o cargo de subdiretor de Saúde do Exército gerou uma crise no governo Fernando Henrique Cardoso.
Entidades de defesa dos direitos humanos fizeram atos em São Paulo e no Rio contra a nomeação de Fayad. A saída encontrada para o caso foi o pedido de licença do general, que automaticamente foi exonerado.



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