São Paulo, segunda-feira, 06 de maio de 2002

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SOMBRA NO TUCANATO

Planalto articula reação à suspeita de propina no caso Vale

Quieto, FHC corteja PFL para evitar CPI e desgaste de Serra

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Juridicamente, não há prova de que teria ocorrido um crime. Politicamente, a prioridade é cortejar o PFL para impedir uma CPI, além de sondar personagens envolvidos para evitar surpresas e saber o que falar publicamente. Eleitoralmente, o PSDB sai ferido, mas não a ponto de ter de substituir o pré-candidato tucano ao Planalto, José Serra.
Essas são as primeiras avaliações e recomendações do presidente Fernando Henrique Cardoso a dirigentes tucanos e auxiliares em razão da reportagem da revista "Veja" que diz que Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-diretor do Banco do Brasil, pediu propina de R$ 15 milhões para ajudar o empresário Benjamin Steinbruch a formar o consórcio que comprou a Companhia Vale do Rio Doce, privatizada em 1997.
Ainda esperando o que chama de "decantação do caso" e aguardando o comportamento de seus personagens, emissários do presidente entraram em contato com Steinbruch (amigo de familiares de FHC) e com Carlos Jereissati, empresário que disse ter contribuído financeiramente, via Ricardo Sérgio, para a eleição de Serra ao Senado na campanha de 1994. À primeira vista, os dois não colocarão lenha na fogueira, dando eventuais provas, como gravação.
O ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros é visto como um problema, pela mágoa por ter saído do governo após a divulgação, em 1998, do grampo do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) sobre a privatização.
Se Mendonção resolver atirar em Ricardo Sérgio ou em Steinbruch, o que deve ocorrer (leia texto na pág. A6), pode causar problemas. Daí a cautela de FHC para se manifestar, a fim de evitar dar uma versão que caia no vazio no dia seguinte. Até o final da noite de ontem, o Palácio do Planalto não fez comentário sobre o caso.
O ministro Paulo Renato Souza (Educação), que confirmou o suposto pedido de propina, sofreu críticas duras dentro do PSDB. FHC avalia que ele já fez um estrago e que deveria demitir-se.
Apesar das declarações de que Ricardo Sérgio não fala em nome de tucanos e de que não existe mais relação entre ele e Serra, há contato entre membros do partido e o ex-arrecadador de recursos das campanhas de FHC (1994 e 1998) e Serra (1990 e 1994). Ricardo Sérgio não pretende atirar no governo ou no PSDB.

Congresso
Em conversas reservadas, o presidente diz que, se não surgirem fatos novos, o estrago maior é político, mas, na sua avaliação, contornável. Ele crê que o cacife do PFL cresceu, pois o partido será fundamental para que não prospere uma CPI em ano eleitoral.
A orientação é tratar bem os 97 deputados e 16 senadores do partido. Para que saia logo uma CPI, é preciso que ela seja mista e tenha um terço das assinaturas na Câmara (171) e no Senado (27). Na Câmara, a oposição tem entre 120 e 140 deputados, a depender do tema. No Senado, esse grupo é de 19 membros e também não vota unido sempre. Ou seja, uma CPI não vinga sem apoio do PFL.

Serra e PMDB
Em relação a Serra, a recomendação de FHC é indicar nesta semana o vice peemedebista para a sua chapa, a fim de sair da defensiva e não dar combustível à movimentação de setores do PFL e do PSDB pela troca de candidato. FHC acha que Serra passa por um mau momento, que maio será um mês de turbulência para ele e que é preciso minimizar os atritos.
Estava prevista uma reunião ontem em São Paulo entre o PSDB e o PMDB para confirmar o deputado federal Henrique Alves (RN) como vice. O encontro, porém, podia ser adiado.


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