São Paulo, sábado, 06 de agosto de 2005

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Recuo de Jefferson confunde colegas

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

Parlamentares de diferentes partidos tentam, sem sucesso, detectar os motivos que levaram o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) a voltar a defender o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, depois de ter dito à Folha, no dia 19 de julho, e ter insinuado ao Conselho de Ética da Câmara, na terça, que Lula estava envolvido em negociações para quitar dívidas de campanha do PT e do PTB.
Há a suspeita de que ele ainda possa tentar algum tipo de acordo com o Planalto, apesar de ter explodido todas as pontes com o PT e com o deputado José Dirceu.
Na conversa com a Folha, no seu apartamento de Brasília, Jefferson disse que estava ficando inviável manter o discurso de que Lula é um "homem decente e íntegro", porque ninguém mais acreditava que Lula não sabia de nada dos escândalos à sua volta.
O deputado citou, especificamente, a negociação com a Portugal Telecom e disse que Lula orientou a ida de dois emissários a Lisboa. Ele deu os nomes dos emissários, a data da viagem e até o número dos vôos. Nada disso ele viria a repetir, dias depois, na sua intervenção no Conselho de Ética, no depoimento de Dirceu.
Na versão do petebista para a Folha, a cronologia foi esta: no dia 19 de outubro de 2004, Lula recebeu o diretor-presidente da Portugal Telecom, Miguel Horta e Costa. No mesmo mês, Jefferson procurou o ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, que é do PTB, dizendo que os candidatos do partido às eleições municipais estavam em situação de desespero. O ministro procurou Lula, que se comprometeu a ajudar a resolver a questão.
A Folha perguntou a Jefferson: "O presidente, então, sabia de tudo?". Ele respondeu: "Claro!". Não aceitou, porém, que a conversa fosse gravada. A Folha decidiu não publicar porque ele não assumiria as declarações.
Depois disso, foram publicadas notas em diferentes jornais anunciando que Jefferson vinha dizendo a interlocutores que daria uma guinada na sua postura, para envolver Lula nas denúncias.
No domingo, 24 de julho, a assessora de Jefferson ligou para a Folha avisando que ele estava "pronto" para assumir as declarações, inclusive gravando entrevista em Gramado (RS), na terça-feira seguinte. Na segunda, desistiu.
No dia do depoimento de Dirceu, a assessora ligou para a Folha avisando que ele iria "abrir" a história da Portugal Telecom. Foram pelo menos três conversas com a assessora naquele dia, liberando a publicação de toda a história.
A dúvida dos parlamentares é por que Jefferson recuou da decisão de envolver Lula. Segundo ele, suas declarações foram "mal-entendidas" no Conselho de Ética.


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