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Recuo de Jefferson confunde colegas
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Parlamentares de diferentes
partidos tentam, sem sucesso, detectar os motivos que levaram o
deputado Roberto Jefferson
(PTB-RJ) a voltar a defender o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, depois de ter dito à Folha, no
dia 19 de julho, e ter insinuado ao
Conselho de Ética da Câmara, na
terça, que Lula estava envolvido
em negociações para quitar dívidas de campanha do PT e do PTB.
Há a suspeita de que ele ainda
possa tentar algum tipo de acordo
com o Planalto, apesar de ter explodido todas as pontes com o PT
e com o deputado José Dirceu.
Na conversa com a Folha, no
seu apartamento de Brasília, Jefferson disse que estava ficando inviável manter o discurso de que
Lula é um "homem decente e íntegro", porque ninguém mais
acreditava que Lula não sabia de
nada dos escândalos à sua volta.
O deputado citou, especificamente, a negociação com a Portugal Telecom e disse que Lula
orientou a ida de dois emissários a
Lisboa. Ele deu os nomes dos
emissários, a data da viagem e até
o número dos vôos. Nada disso
ele viria a repetir, dias depois, na
sua intervenção no Conselho de
Ética, no depoimento de Dirceu.
Na versão do petebista para a
Folha, a cronologia foi esta: no dia
19 de outubro de 2004, Lula recebeu o diretor-presidente da Portugal Telecom, Miguel Horta e
Costa. No mesmo mês, Jefferson
procurou o ministro do Turismo,
Walfrido Mares Guia, que é do
PTB, dizendo que os candidatos
do partido às eleições municipais
estavam em situação de desespero. O ministro procurou Lula, que
se comprometeu a ajudar a resolver a questão.
A Folha perguntou a Jefferson:
"O presidente, então, sabia de tudo?". Ele respondeu: "Claro!".
Não aceitou, porém, que a conversa fosse gravada. A Folha decidiu não publicar porque ele não
assumiria as declarações.
Depois disso, foram publicadas
notas em diferentes jornais anunciando que Jefferson vinha dizendo a interlocutores que daria uma
guinada na sua postura, para envolver Lula nas denúncias.
No domingo, 24 de julho, a assessora de Jefferson ligou para a
Folha avisando que ele estava
"pronto" para assumir as declarações, inclusive gravando entrevista em Gramado (RS), na terça-feira seguinte. Na segunda, desistiu.
No dia do depoimento de Dirceu, a assessora ligou para a Folha
avisando que ele iria "abrir" a história da Portugal Telecom. Foram
pelo menos três conversas com a
assessora naquele dia, liberando a
publicação de toda a história.
A dúvida dos parlamentares é
por que Jefferson recuou da decisão de envolver Lula. Segundo ele,
suas declarações foram "mal-entendidas" no Conselho de Ética.
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