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CAMPO MINADO
Ministro rebate declaração de Rolf Hackbart, que defendeu a revogação da MP de FHC contra invasões de terra
Dirceu desautoriza novo chefe do Incra
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro José Dirceu (Casa
Civil) afirmou ontem que não
existe uma orientação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para revogar a medida provisória
que pune as invasões de terra.
A declaração do ministro foi
uma resposta ao novo presidente
do Incra (Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária),
Rolf Hackbart, que assumiu o cargo anteontem e criticou a MP, editada ainda no governo Fernando
Henrique Cardoso.
"O presidente da República não
deu orientações à Casa Civil sobre
isso", afirmou Dirceu. Segundo
ele, o governo tem uma posição
clara -e contrária- às invasões
de terra no país.
As críticas de Hackbart à medida provisória desagradaram aos
ruralistas. Ontem, o próprio presidente do Incra, colocado no cargo para "pacificar" o campo, divulgou nota na qual afirmou que
a prioridade de sua gestão não será combater a MP.
Na nota, Hackbart ressaltou que
não é prioridade do órgão trabalhar para alterar a medida provisória que pune as invasões de terra. O presidente do Incra reafirmou que o governo do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva vai cumprir a legislação atual.
"O Incra é o órgão executor da
reforma agrária. A legislação atual
existente é mais do que suficiente
para executar a reforma agrária e
o Incra vai continuar cumprindo
a legislação atual", afirmou Hackbart de acordo com a nota divulgada ontem.
Ele disse ainda que qualquer
eventual proposta de alteração da
legislação agrária vigente no país
teria de vir de uma determinação
do governo como um todo, e não
do Incra. Ele disse ainda que, se isso viesse a ocorrer, o governo teria
ainda de ouvir toda a sociedade
civil e o Congresso Nacional.
"A legislação atual é mais do
que suficiente para executar a reforma agrária", afirmou em nota.
Segundo o presidente do Incra, o
órgão buscará um diálogo com fazendeiros e movimentos sociais e
qualquer alteração na lei será feita
com o Congresso.
Segundo Dirceu, existe hoje um
litígio judicial sobre a MP, e o governo irá aguardar o desfecho do
trâmite. Hackbart substitui o geógrafo Marcelo Resende na direção
do Incra. Resende também defendia a revogação da medida.
Contra invasões
Para conter as invasões do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o governo Fernando Henrique Cardoso editou, em
4 de maio de 2000, a MP 2.027-38,
que impede vistoria de áreas invadidas e decreta que elas ficarão
congeladas por dois anos para desapropriação. A MP ainda não foi
convertida em lei.
A medida provisória reduziu o
número de invasões de 390 em
2000 para 194 em 2001. Em sua
posse, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto,
disse que não é tarefa de um governo democrático "sufocar a capacidade de mobilização dos movimentos sociais", sinalizando o
posicionamento que o governo
adotaria a respeito da MP.
Na prática, o governo Lula não
tem cumprido a medida. Os imóveis rurais invadidos por sem-terra no primeiro semestre deste ano
não estão impedidos de ser vistoriados. Além disso, nenhum dos
sem-terra que participaram das
invasões foi excluído ou impedido de entrar nos programas de reforma agrária do governo.
A estratégia do governo tem sido a de não aplicar a MP, para
agradar aos sem-terra, mas também não revogá-la, para não contrariar os ruralistas.
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