São Paulo, terça-feira, 06 de setembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MST rompe trégua e deve levar 1.500 a Brasília

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) decidiu radicalizar sua relação com o governo federal. A primeira demonstração está marcada para amanhã, na Esplanada dos Ministérios, quando o movimento ameaça levar 1.500 sem-terra ao desfile do Sete de Setembro.
Ontem, ao saber da idéia dos sem-terra, um emissário do presidente Luiz Inácio Lula da Silva avisou à coordenação do MST que os camponeses não serão bem-vindos no desfile. Já o MST respondeu que vai resistir e, se preciso, entrará à força na avenida, desfilando como o último bloco da parada cívico-militar.
Para amanhã, a programação dos sem-terra já está fechada. Às 9h, no momento que começar o desfile, eles vão percorrer a Esplanada na pista contrária à do evento oficial. A seguir, farão um protesto em frente ao Itamaraty, antes de tentar se unir aos participantes civis e militares da parada.
A insatisfação dos sem-terra com o Planalto recrudesceu na semana passada, quando, em reuniões no Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e no Ministério do Desenvolvimento Agrário, foram informados que, assim como em 2003 e 2004, a meta de assentamentos tende a não ser cumprida.
Entretanto o anúncio de radicalização do MST não se deve apenas às metas. O movimento deve uma resposta às suas bases depois de ter se colocado oficialmente em favor do presidente Lula em recentes manifestações políticas ao lado de UNE e CUT. Os líderes do MST atacaram as "elites" por causa da crise política e pouparam o presidente que, até agora, não cumpriu metas de assentamentos e mantém cerca de 150 mil famílias acampadas à espera de um lote de terra.

Abaixo da meta
Até hoje, segundo a Folha apurou, pouco mais de 40 mil famílias foram efetivamente assentadas neste ano, ou seja, cerca de 35% de uma meta de 115 mil famílias até dezembro. O ministério oficialmente diz que já há terras para assentar 74 mil famílias.
Para agravar o quadro, o MST afirma que, do montante já atendido, apenas 4.000 famílias (10%) são ligadas ao movimento.
"Isso [número de famílias assentadas] é chamar a nossa turma para a briga. Com certeza vamos aquecer as nossas baterias em setembro e outubro. O governo Lula verá a nossa maior jornada de lutas, com todo o tipo de ação", disse João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST.
Até agora, neste ano, o governo Lula tem tido uma pausa dos sem-terra. O número de invasões entre janeiro e julho (142) caiu 44% em relação aos sete primeiros meses do ano passado (255). Em todo o mandato petista (até julho de 2005) ocorreram 691 invasões, com média mensal de 22, segundo a Ouvidoria Agrária Nacional.
"Vamos pra cima por causa dessa sacanagem que o governo fez com a gente ao não cumprir os acordos. Não vamos mais sentar para conversar [com o governo] enquanto as coisas não avançarem. Isso [o não-cumprimento das metas de assentamento] vai entrar na biografia do presidente Lula", afirmou Rodrigues.


Texto Anterior: Força Sindical lidera protesto contra corrupção "silencioso" em São Paulo
Próximo Texto: Rainha defende Lula, mas quer retomar invasões
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.