São Paulo, quarta-feira, 06 de novembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Acerto prevê que petistas presidam a Câmara e peemedebistas, o Senado

PT e PMDB fecham acordo para comandar Congresso

Márcia Gouthier/Folha Imagem
Os deputados José Dirceu e Michel Temer, presidentes do PT e do PMDB, em reunião em Brasília


RAYMUNDO COSTA
RAQUEL ULHÔA
FABIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

PT e PMDB fecharam ontem um acordo sobre as eleições para as presidências da Câmara e do Senado, que pode se desdobrar num futuro apoio dos peemedebistas ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Pelo acordo, o PT se compromete a apoiar o candidato que a bancada do PMDB no Senado indicar, em troca do apoio ao candidato do PT na Câmara.
Para a cúpula do PMDB, o gesto soou como se Lula tivesse tirado as mãos do ombro de José Sarney (PMDB-AP), que vinha articulando sua candidatura dentro e fora do partido. A direção da sigla prefere Renan Calheiros (AL).
Aliado ao PMDB, o novo bloco dos partidos da situação, a partir de 2003, teria 268 deputados. Mas esse número pode chegar a 294, com adesões esperadas de todos os partidos, inclusive dos pefelistas que pretendem migrar para o PL, partido do senador José Alencar, o vice-presidente de Lula.
Difícil é assegurar a unidade do PMDB. A direção da sigla saiu fortalecida de uma reunião da Executiva Nacional do partido realizada ontem em Brasília, na qual recebeu o aval dos governadores para prosseguir as negociações.
Alguns, como Jarbas Vasconcelos (PE), preferiam o PMDB na oposição. Ele disse que daqui a dois anos haverá eleições municipais e em muitos lugares, como Pernambuco, Rio Grande do Sul e Distrito Federal, o PT é o principal adversário dos peemedebistas.
Já Luiz Henrique (SC) e Germano Rigotto (RS) defenderam o apoio do partido à governabilidade, mas sem participação no governo. Para não rachar, o PMDB evitou usar a palavra "oposição" e "apoio" numa nota asséptica divulgada ao final do encontro. No último item, destacou que vai aguardar as propostas do governo e "aprovar aquelas que coincidirem com os interesses do país e nosso programa partidário".

Aplausos
A cautela do PMDB tem várias explicações. A direção da sigla ainda quer avaliar a solidez dos entendimentos com o PT, os primeiros passos do novo governo e ver se Renan consegue viabilizar sua candidatura no Senado.
A hipótese de criação de um bloco de oposição com PSDB, PFL e PPB está arquivada, mas pode ser retomada a qualquer momento. Depende dos desdobramentos da articulação.
Jarbas foi aplaudido na reunião do PMDB ao fazer um discurso duro contra Sarney. "Sarney não é PMDB. O PMDB é esse povo que está aqui [apontando para os governadores e integrantes da Executiva". Negociando pela imprensa e fora dos canais tradicionais ele não conta com o meu apoio."
Só a deputada Rita Camata (ES), que foi candidata a vice de José Serra, também mereceu aplausos ao chegar para a reunião. Com a derrota na eleição, seu mandato na Câmara terminará em 2003.
A palavra governabilidade foi repetida por dez entre dez peemedebistas. Com nuances diferentes. O PMDB vai ouvir as bancadas e reunir seu Conselho Político para tirar uma posição definitiva em relação ao governo Lula. José Dirceu, o presidente do PT, está satisfeito com os resultados alcançados até agora: "A partir de uma agenda mínima para o país, é construída a governabilidade".


Colaborou GUSTAVO PATÚ, da Sucursal de Brasília


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