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JANIO DE FREITAS
Tempo de acordo
A nova linha de pressão do
grande empresariado sobre Luiz Inácio Lula da Silva,
para abrir um canal de influência na fisionomia e na conduta
do futuro governo, é insistir na
urgência de que o presidente
eleito inicie a formalização do
acordo social, reunindo a ele os
representantes empresariais e
dos assalariados.
Os empresários repetem, com
variação do motivo invocado, a
onda de pressão que lançaram,
inspirados por Pedro Malan, cobrando de Lula os seus nomes
para a Fazenda e o Banco Central, quando nem o primeiro
turno fora disputado ainda. Hoje como àquela altura, esses empresários fazem um jogo político
legítimo em defesa dos seus interesses. Mas esquecem-se de que
não foram vencedores. Poderão
sê-lo, e até ser os maiores beneficiários, se o projeto do governo
Lula, de crescimento econômico
e aumento das condições gerais
de consumo, der certo. Para isso,
porém, as táticas devem reconhecer as novas realidades.
Um projeto sério, de entendimento social, tem seus tempos
próprios que, mesmo não sendo
isolados de outros, não podem
deixar-se apressar ou retardar,
sob risco de perder o principal. O
próprio presidente da Fiesp, Horacio Lafer Piva, em sua cobrança de urgência menciona dificuldades, como a inevitabilidade de perdas, que podem arruinar o entendimento, se não forem muito ponderadas por todas as partes.
O entendimento só poderá ser
discutido com eficácia se atendidas duas pré-condições administrativas. Uma é o conhecimento, pela equipe técnica do
presidente eleito, das muitas
caixas pretas onde se guarda o
verdadeiro legado do atual governo. Fernando Henrique Cardoso disse há pouco que não há
segredos, mas tanto existem
que, tão logo delineado o sistema de duas equipes para transição, o governo estabeleceu a
confidencialidade das informações, incluindo a advertência de
punição para o vazamento de
"dados sigilosos".
A outra pré-condição é que a
equipe de governo se estruture,
fazendo primeiro o seu entendimento interno sobre políticas,
meios e métodos. Seria muito
mais difícil, supondo-se que fosse possível, chegar ao acordo entre empresários, assalariados e
governo se este é apenas uma
idéia, e não um organismo vivo
e com pleno domínio de si. O
preferível é que a capacidade
negociadora do presidente não
se consuma no vazio, inútil vazio.
Entendimento a sério leva
tempo.
Devedor
Ao lançar a reivindicação de
110% de aumento para os deputados federais, o deputado Severino Cavalcanti tornou-se duplamente devedor.
Disse ele, uma frase pouco
aproveitada no noticiário: "Deputados têm que procurar empresas, para dar condições para
manter suas famílias". Em seu
socorro, outros deputados saíram-se com a explicação de que
Severino Cavalcanti referiu-se a
empresas dos próprios deputados. Mas ninguém "procura" a
própria empresa.
Severino Cavalcanti foi claro e
deve a indicação dos deputados
que sabe receberem dinheiro de
empresas. Tal informação seria
devida por qualquer parlamentar. No caso de Severino Cavalcanti a dívida é mais grave: ele é
ex-corregedor da Câmara -e
investigador e juiz de primeira
instância do comportamento
moral dos deputados.
Severino Cavalcanti deve
também uma explicação. Se os
R$ 8.280 mais auxílios e mordomias são tão pouco, a ponto de
obrigá-lo a morar com a filha,
por que voltou a se candidatar e
reeleger-se?
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