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TRANSIÇÃO
Segundo economista, futuro governo ainda não têm "propriamente projeto"
PT dança conforme música do governo, afirma Furtado
RAFAEL CARIELLO
MURILO FIUZA DE MELO
DA SUCURSAL DO RIO
O economista Celso Furtado,
autor do clássico "Formação Econômica do Brasil", disse ontem
no Rio, após encontrar o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da
Silva, que "não há propriamente
um projeto [de política econômica] ainda" entre os principais assessores econômicos do PT. "O
projeto está na cabeça do Lula",
disse Furtado, 82.
A declaração foi feita em entrevista em seu apartamento em Copacabana (zona sul do Rio), minutos após a saída de Lula. Também participou do encontro a
economista da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e ex-deputada pelo PT Maria da Conceição Tavares, 72.
Questionado pela Folha sobre
qual seria a linha de pensamento
econômico de assessores de Lula,
como Aloizio Mercadante e Guido Mantega, o ex-ministro do Planejamento do governo João Goulart (1961-1964) e criador da Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste) disse
que a equipe econômica petista
está "dançando conforme a música que o governo toca". "Estão
tentando encontrar uma maneira
de atravessar esse momento."
A música que o governo toca,
segundo Furtado, é a de um país
que "sobrevive de constantes endividamentos", o que torna "a
margem de manobra e o espaço
para inovar reduzidos". Essa
"música", afirma o ex-ministro,
pode quebrar o país.
"Se não romper, se aguentar os
constrangimentos, [o país] pode
ser levado à falência. Se ele [Lula]
resistir [a mudar o modelo], como fez a Argentina [antes da desvalorização do peso], pode ser levado à falência", disse Furtado.
Para ele, a manutenção do superávit fiscal acordado com o FMI
(3,75% do PIB) daria continuidade ao "atual processo de endividamento" e prejudicaria "todo o
plano de investimentos sociais"
do PT. A saída, diz, está em "tentar encontrar uma fórmula menos traumática". "Se o Brasil faz
uma moratória, a reação será
muito violenta." "Não excluo a hipótese de que ele rompa com esses constrangimentos. Só ele é
que vai saber de que maneira",
disse, acrescentando que Lula
"buscará o entendimento".
Já Maria da Conceição afirmou
que os constrangimentos macroeconômicos não dificultarão
as políticas sociais de Lula. "Todo
mundo não tem, com qualquer
constrangimento, capacidade financeira para casa popular? Tem.
E como é que não pode matar a
fome se há alimentos apodrecendo? E isso são reais, não é dólar."
Ela disse que foram discutidos
com Lula assuntos "que interessam ao povo", como "desenvolvimento do Nordeste, saneamento,
caderneta de poupança popular e
a habitação popular". Tavares defendeu os moldes do programa de
combate à fome anunciado por
Lula e criticado pelo senador
Eduardo Suplicy.
"Suplicy tem questões monotemáticas. Você tira a renda mínima, ele não pensa mais nada. O
programa da fome foi feito por
dezenas de pessoas do ramo. Ele
acha que dando uma renda mínima está resolvido. Ninguém mais
acha isso. Todo mundo sabe que
tem que ter cooperativa, crédito
para os assentamentos, crédito
popular." Questionada se teria
um cargo no governo do PT, a
economista respondeu: "Não. Tenho 72 anos. Detesto Brasília. Irei
para o subterrâneo".
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