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Fome Zero traz nova discórdia ao PT
ANDRÉA MICHAEL
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O principal programa do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da
Silva, -o Fome Zero- gerou
ontem uma divergência de versões no PT. No mesmo dia em que
o senador Eduardo Suplicy (SP) e
o economista José Graziano,
coordenador-executivo do projeto, chegaram a um consenso sobre o instrumento para o pagamento do benefício, Antônio Palocci Filho divergiu sobre o uso da
verba pela família beneficiada.
No final da tarde, Suplicy e Graziano divulgaram nota dizendo
que suas propostas de combate à
pobreza são convergentes, e não
conflitantes. Durante entrevista
em Brasília, Palocci, que comanda
a transição pelo PT, apresentou
novo uso para os cartões magnéticos do Fome Zero -sacar o dinheiro "para [o beneficiado" fazer
o que bem entender", em vez de
obrigar a compra de alimentos.
As declarações de Palocci divergem da idéia básica do programa,
que prevê, segundo Graziano, o
uso dos recursos recebidos, por
meio de cartões magnéticos, exclusivamente para alimentos.
A possibilidade de sacar o dinheiro seria uma exceção, restrita
a casos em que não fosse possível
levar o cartão nem cupons para
serem trocados por alimentos.
"É um programa de segurança
alimentar. Não existe outro meio
de funcionar se não for comprar
alimentos", disse Graziano, frisando que o Fome Zero é um pacote com 21 iniciativas, entre as
quais projetos que prevêem saque
de dinheiro propriamente dito.
"Definimos que será utilizado o
mecanismo do cartão [preferencialmente, em vez de cupons],
com duas alternativas: uma é sacar os recursos; a outra, comprar
produtos [não apenas alimentos]
com o cartão em uma rede credenciada", reafirmou Palocci,
com a ressalva de que ainda não
existe um formato fechado.
A destinação dos recursos do
Fome Zero obrigatoriamente à
compra de alimentos foi também
o que levou Suplicy a enviar uma
carta de cinco páginas a Lula, Palocci e Graziano, anteontem, fazendo ponderações sobre os prós
e contras da condicionante.
Na carta, Suplicy defende a
maior eficiência da distribuição
de dinheiro, que, segundo ele, daria maior liberdade às famílias para escolher suas prioridades, com
reflexos positivos na economia,
contribuindo para a cidadania.
A nota assinada por Graziano e
Suplicy foi a saída política para caracterizar o programa de compra
de alimentos como um primeiro
passo dentro de um plano mais
amplo de combate à miséria.
Depois de uma conversa de
uma hora e meia, cada um cedeu
um pouco, já que a alternativa seria o desgaste político do novo governo. Suplicy aceitou a existência
dos cartões. Graziano concordou
que a medida, a base do programa
Fome Zero, fosse tratada apenas
como um primeiro passo.
A nota traz dez conclusões sobre o consenso das propostas de
Suplicy e Graziano em relação ao
combate à miséria. Juntos, os dois
concederam entrevista ontem à
noite em Brasília.
"Não temos dinheiro para acabar com a pobreza, mas temos dinheiro para acabar com a fome",
declarou Graziano.
"Compreendo que em janeiro
não daria para instituir um programa de renda básica de cidadania. O cupom [dinheiro para alimentação distribuído em cartões
magnéticos] é um primeiro passo
nesse caminho, como está no programa do partido", disse Suplicy.
Colaborou FABIO ZANINI, enviado
especial a Brasília
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