São Paulo, quarta-feira, 06 de novembro de 2002

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Fome Zero traz nova discórdia ao PT

ANDRÉA MICHAEL
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O principal programa do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, -o Fome Zero- gerou ontem uma divergência de versões no PT. No mesmo dia em que o senador Eduardo Suplicy (SP) e o economista José Graziano, coordenador-executivo do projeto, chegaram a um consenso sobre o instrumento para o pagamento do benefício, Antônio Palocci Filho divergiu sobre o uso da verba pela família beneficiada.
No final da tarde, Suplicy e Graziano divulgaram nota dizendo que suas propostas de combate à pobreza são convergentes, e não conflitantes. Durante entrevista em Brasília, Palocci, que comanda a transição pelo PT, apresentou novo uso para os cartões magnéticos do Fome Zero -sacar o dinheiro "para [o beneficiado" fazer o que bem entender", em vez de obrigar a compra de alimentos.
As declarações de Palocci divergem da idéia básica do programa, que prevê, segundo Graziano, o uso dos recursos recebidos, por meio de cartões magnéticos, exclusivamente para alimentos.
A possibilidade de sacar o dinheiro seria uma exceção, restrita a casos em que não fosse possível levar o cartão nem cupons para serem trocados por alimentos.
"É um programa de segurança alimentar. Não existe outro meio de funcionar se não for comprar alimentos", disse Graziano, frisando que o Fome Zero é um pacote com 21 iniciativas, entre as quais projetos que prevêem saque de dinheiro propriamente dito.
"Definimos que será utilizado o mecanismo do cartão [preferencialmente, em vez de cupons], com duas alternativas: uma é sacar os recursos; a outra, comprar produtos [não apenas alimentos] com o cartão em uma rede credenciada", reafirmou Palocci, com a ressalva de que ainda não existe um formato fechado.
A destinação dos recursos do Fome Zero obrigatoriamente à compra de alimentos foi também o que levou Suplicy a enviar uma carta de cinco páginas a Lula, Palocci e Graziano, anteontem, fazendo ponderações sobre os prós e contras da condicionante.
Na carta, Suplicy defende a maior eficiência da distribuição de dinheiro, que, segundo ele, daria maior liberdade às famílias para escolher suas prioridades, com reflexos positivos na economia, contribuindo para a cidadania.
A nota assinada por Graziano e Suplicy foi a saída política para caracterizar o programa de compra de alimentos como um primeiro passo dentro de um plano mais amplo de combate à miséria.
Depois de uma conversa de uma hora e meia, cada um cedeu um pouco, já que a alternativa seria o desgaste político do novo governo. Suplicy aceitou a existência dos cartões. Graziano concordou que a medida, a base do programa Fome Zero, fosse tratada apenas como um primeiro passo.
A nota traz dez conclusões sobre o consenso das propostas de Suplicy e Graziano em relação ao combate à miséria. Juntos, os dois concederam entrevista ontem à noite em Brasília.
"Não temos dinheiro para acabar com a pobreza, mas temos dinheiro para acabar com a fome", declarou Graziano.
"Compreendo que em janeiro não daria para instituir um programa de renda básica de cidadania. O cupom [dinheiro para alimentação distribuído em cartões magnéticos] é um primeiro passo nesse caminho, como está no programa do partido", disse Suplicy.


Colaborou FABIO ZANINI, enviado especial a Brasília



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