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CRIME ORGANIZADO
Os quatro principais pontos de transporte do Brasil são utilizados por traficantes de cocaína
Pirataria e tráfico se unem em portos
DANIELA FALCÃO
da Sucursal de Brasília
Os quatro principais portos brasileiros -Tubarão
(ES), Rio de Janeiro, Rio Grande (RS)
e Santos (SP)-
vêm sendo usados como escala na
rota internacional de tráfico de
drogas, sobretudo de cocaína.
Esses portos também são os que
registram maior incidência de pirataria (assaltos a navios).
Em 13 de janeiro deste ano, a
Guarda Costeira norte-americana
apreendeu 4,3 toneladas de cocaína em um navio graneleiro panamenho que havia saído de Vitória
(ES). Foi uma das dez maiores
apreensões de cocaína feita no
país, de acordo com o Departamento de Transportes.
Antes de partir para os EUA, o
Cannes (nome do navio) ficou parado oito meses no porto de Tubarão devido a disputas trabalhistas, sem que a PF (Polícia Federal)
suspeitasse de que embaixo da
carga de minério de ferro estivessem as 4,3 toneladas de cocaína.
"O navio era enorme e, mesmo
se tratando de tanta cocaína, era
muito difícil descobrir sem ter informação prévia", afirma o delegado Fernando Queiroz Segóvia,
chefe do Serviço de Polícia Marítima e Aeroportuária da PF.
Na terça-feira, quatro deputados da CPI da Narcotráfico irão
ao Espírito Santo para investigar a
situação do porto de Vitória.
"Denúncias apuradas em outros Estados indicam que os portos do Espírito Santo teriam se
transformado num dos principais
pontos da rota internacional para
o tráfico de drogas e para o contrabando de armas", disse o deputado Fernando Ferro (PT-PE).
"Uma peneira"
Falta de fiscalização na área portuária e proximidade dos países
produtores são apontadas como
as principais razões da alta incidência de casos de pirataria e narcotráfico nos portos brasileiros.
No ranking dos portos mais
usados no transporte de drogas
ilícitas, o Brasil aparece como um
dos quatro países da América do
Sul de "alto risco", ao lado do Suriname, Colômbia e Venezuela.
O ranking anual é elaborado pela Bimco (Baltic and International
Maritime Council), um dos três
organismos internacionais especializados no monitoramento da
segurança em portos.
Relatório deste ano da DEA
(Drug Enforcement Agency),
agência norte-americana dedicada ao combate ao narcotráfico,
reforça as suspeitas de que os portos brasileiros são a principal ligação entre os países produtores e a
Europa e Estados Unidos. De
acordo com a DEA, a situação é
mais crítica em três portos: Santos, Rio Grande e Rio de Janeiro.
Caso de Santos
Assalto ocorrido em Santos no
mês de junho mostra como o trabalho da PF nos portos é complicado, já que, muitas vezes, os comandantes do navio preferem
não comunicar o roubo à polícia
para que as investigações não
prendam o navio nos portos.
Por volta das 22h30, o navio cargueiro Jork, com bandeira de Antígua, foi abordado por dez homens armados. Os ladrões exigiram que fosse aberto contêiner
que havia sido embarcado em
Porto Cabello (Venezuela) e que,
de acordo com os registros oficiais, deveria estar vazio.
Entretanto, ao abrirem o contêiner, os ladrões retiraram vários
caixotes, que foram colocados em
um barco a motor usado na fuga.
Na avaliação da Bimco, esse tipo
de assalto é um indício de que
muitos casos de pirataria envolvem também tráfico de drogas.
"As circunstâncias desse incidente, em que um contêiner supostamente vazio continha carga
desconhecida, e em que os ladrões sabiam qual contêiner
abrir, dão mérito às suspeitas de
que o roubo está ligado ao narcotráfico", diz relatório da Bimco.
A PF está investigando o caso,
mas ainda não tem pistas concretas."Como vamos investigar se
não sabemos nem sequer o que
estava no contêiner e se a maioria
das testemunhas já estava longe
quando fomos comunicados?",
afirma o delegado-chefe da PF em
Santos, Ariovaldo Peixoto dos
Anjos.
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