São Paulo, Segunda-feira, 06 de Dezembro de 1999


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CRIME ORGANIZADO
Os quatro principais pontos de transporte do Brasil são utilizados por traficantes de cocaína
Pirataria e tráfico se unem em portos

DANIELA FALCÃO
da Sucursal de Brasília


Os quatro principais portos brasileiros -Tubarão (ES), Rio de Janeiro, Rio Grande (RS) e Santos (SP)- vêm sendo usados como escala na rota internacional de tráfico de drogas, sobretudo de cocaína.
Esses portos também são os que registram maior incidência de pirataria (assaltos a navios).
Em 13 de janeiro deste ano, a Guarda Costeira norte-americana apreendeu 4,3 toneladas de cocaína em um navio graneleiro panamenho que havia saído de Vitória (ES). Foi uma das dez maiores apreensões de cocaína feita no país, de acordo com o Departamento de Transportes.
Antes de partir para os EUA, o Cannes (nome do navio) ficou parado oito meses no porto de Tubarão devido a disputas trabalhistas, sem que a PF (Polícia Federal) suspeitasse de que embaixo da carga de minério de ferro estivessem as 4,3 toneladas de cocaína.
"O navio era enorme e, mesmo se tratando de tanta cocaína, era muito difícil descobrir sem ter informação prévia", afirma o delegado Fernando Queiroz Segóvia, chefe do Serviço de Polícia Marítima e Aeroportuária da PF.
Na terça-feira, quatro deputados da CPI da Narcotráfico irão ao Espírito Santo para investigar a situação do porto de Vitória.
"Denúncias apuradas em outros Estados indicam que os portos do Espírito Santo teriam se transformado num dos principais pontos da rota internacional para o tráfico de drogas e para o contrabando de armas", disse o deputado Fernando Ferro (PT-PE).

"Uma peneira"
Falta de fiscalização na área portuária e proximidade dos países produtores são apontadas como as principais razões da alta incidência de casos de pirataria e narcotráfico nos portos brasileiros.
No ranking dos portos mais usados no transporte de drogas ilícitas, o Brasil aparece como um dos quatro países da América do Sul de "alto risco", ao lado do Suriname, Colômbia e Venezuela.
O ranking anual é elaborado pela Bimco (Baltic and International Maritime Council), um dos três organismos internacionais especializados no monitoramento da segurança em portos.
Relatório deste ano da DEA (Drug Enforcement Agency), agência norte-americana dedicada ao combate ao narcotráfico, reforça as suspeitas de que os portos brasileiros são a principal ligação entre os países produtores e a Europa e Estados Unidos. De acordo com a DEA, a situação é mais crítica em três portos: Santos, Rio Grande e Rio de Janeiro.

Caso de Santos
Assalto ocorrido em Santos no mês de junho mostra como o trabalho da PF nos portos é complicado, já que, muitas vezes, os comandantes do navio preferem não comunicar o roubo à polícia para que as investigações não prendam o navio nos portos.
Por volta das 22h30, o navio cargueiro Jork, com bandeira de Antígua, foi abordado por dez homens armados. Os ladrões exigiram que fosse aberto contêiner que havia sido embarcado em Porto Cabello (Venezuela) e que, de acordo com os registros oficiais, deveria estar vazio.
Entretanto, ao abrirem o contêiner, os ladrões retiraram vários caixotes, que foram colocados em um barco a motor usado na fuga. Na avaliação da Bimco, esse tipo de assalto é um indício de que muitos casos de pirataria envolvem também tráfico de drogas.
"As circunstâncias desse incidente, em que um contêiner supostamente vazio continha carga desconhecida, e em que os ladrões sabiam qual contêiner abrir, dão mérito às suspeitas de que o roubo está ligado ao narcotráfico", diz relatório da Bimco.
A PF está investigando o caso, mas ainda não tem pistas concretas."Como vamos investigar se não sabemos nem sequer o que estava no contêiner e se a maioria das testemunhas já estava longe quando fomos comunicados?", afirma o delegado-chefe da PF em Santos, Ariovaldo Peixoto dos Anjos.


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