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CONTRAPONTO
Motorista não participava do ato
Polícia "quis dar lição", diz atingido
da Sucursal de Brasília
Jesus Ferreira Machado, 26,
ganhava R$ 338 como motorista de uma empresa que prestava serviços à Novacap.
Na quinta-feira passada, foi
impedido de entrar na sede por
causa da manifestação e recebeu ordens para aguardar o fim
do ato do lado de fora. Foi atingido por uma bala de borracha
disparada pela Polícia Militar
de Brasília que o deixou cego
do olho esquerdo.
Leia a seguir, trechos da entrevista que concedeu à Folha
no Hospital de Base de Brasília,
na manhã de sábado.
(AUGUSTO GAZIR E DANIELA FALCÃO)
Folha - Você estava participando da manifestação?
Jesus Ferreira Machado -Não,
eu estava distante, a uns 50 metros. Aí, a tropa de choque chegou, veio para cima dos manifestantes com bombas de gás
lacrimogêneo, atirando.
Folha - Quando começou a
confusão, o que você fez?
Machado - Eu continuei lá,
não imaginava que corria risco.
Quando vi que estava chegando perto de mim, saí correndo,
como todo mundo. Mas foi aí
que me acertaram pelas costas,
me acertaram o olho, com um
tiro de borracha. Caí no chão
com a força do tiro, pus a mão
no olho e já estava tudo cheio
de sangue: o nariz, a boca. Eu
senti o olho para fora, pedi ajuda a uns colegas.
Folha - Não deu para fugir?
Machado - Foi muito rápido.
Mesmo depois de ter desobstruído a passagem, a polícia
continuou correndo atrás do
pessoal, atirando. A polícia e o
governo quiseram dar uma lição nos manifestantes, para
mostrar que eles não querem
manifestação. Até porque,
quando eu fui atingido, já não
tinha mais ninguém no portão.
Folha - Quais são seus planos?
Machado - Só Deus sabe.
Perdi minha visão, meus planos de motorista estão mais difíceis agora. Estou concluindo
o 2º grau para ser técnico em
contabilidade. Fiz isso com a
esperança de arrumar emprego de motorista em outra empresa para o salário melhorar.
Folha - O secretário da Segurança foi afastado, você
acha suficiente?
Machado - Não, acho que a
punição tem de ser bem mais
dura, porque ninguém vai poder devolver minha visão.
Folha - Você vai pedir indenização ao governo?
Machado - Vou sim, apesar
de que nenhum dinheiro nesse
mundo vai colocar a minha visão de volta. Mas eles vão ter de
indenizar. Infelizmente eu votei no Roriz, porque eu achei
que ele era o governador que
iria dar um jeito em Brasília,
mas parece que votei errado.
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