São Paulo, sábado, 07 de fevereiro de 2004

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Dirceu desabafa e escancara duelo

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

"Essas duas semanas que nós passamos, hein. Que semanas", disse o ministro José Dirceu (Casa Civil) ao colega Antonio Palocci Filho (Fazenda), sem perceber que os microfones para a entrevista dos dois já estavam ligados para captar a voz.
O desabafo de Dirceu é uma demonstração do clima político de disputa que dominou o governo nas duas últimas semanas.
Nesse período, houve um debate de bastidor entre ele e Palocci pelo tamanho e a necessidade do corte orçamentário, além da contrariedade do ministro da Fazenda com declarações do ministro-chefe da Casa Civil.
Dirceu queria evitar o anúncio do corte, deixando para ser feito mais adiante ou executado na prática. Palocci bateu-se por um sinal ao mercado e levou. Mas o chefe da Casa Civil também conseguiu evitar que os cortes, pelo menos agora, atingissem os investimentos.
Na semana anterior, o ministro da Fazenda ficou incomodado com uma declaração de Dirceu dando conta de que ele apoiava um projeto que estendia benefícios da Zona Franca de Manaus para outros Estados. Palocci era contra. As ações de Dirceu geraram dúvidas no mercado em relação à força de Palocci.
Na entrevista, os dois usaram diversas vezes o termo "coesão" e suas variações para se referir às ações de governo. Foi um sinal para tentar transmitir unidade, a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que os designou para falar da primeira reunião do novo ministério.
O ministro da Fazenda, sempre sorridente e calmo nas entrevistas, respondeu de forma mais dura do que a usual aos questionamentos dos jornalistas. Elevou um pouco o tom de voz, brincou menos, falou mais apressadamente e demonstrou contrariedade ao repetir que a política econômica não muda e que o combate à inflação é a primeira precondição para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto).
Algo irritado, pediu aos jornalistas que apresentassem exemplo de país que teve crescimento econômico com inflação.
Ao elencar suas atribuições, Dirceu disse que perdeu a coordenação política, mas teve "ampliada" a coordenação de governo. O ministro, enquadrado por Lula por ter se comportado como chefe de governo, deverá ter atuação mais discreta e para dentro da máquina pública.
O presidente não gostou do estilo de Dirceu, que posou de chefe de governo quando ele estava em viagem ao exterior. Durante a semana em que Lula voltou a dar expediente, submergiu. Chegou a faltar a cerimônias públicas. Só ontem, quando Lula quis dar um sinal político de união na equipe, ele voltou aos holofotes.


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