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Dirceu desabafa e escancara duelo
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
"Essas duas semanas que nós
passamos, hein. Que semanas",
disse o ministro José Dirceu (Casa
Civil) ao colega Antonio Palocci
Filho (Fazenda), sem perceber
que os microfones para a entrevista dos dois já estavam ligados
para captar a voz.
O desabafo de Dirceu é uma demonstração do clima político de
disputa que dominou o governo
nas duas últimas semanas.
Nesse período, houve um debate de bastidor entre ele e Palocci
pelo tamanho e a necessidade do
corte orçamentário, além da contrariedade do ministro da Fazenda com declarações do ministro-chefe da Casa Civil.
Dirceu queria evitar o anúncio
do corte, deixando para ser feito
mais adiante ou executado na
prática. Palocci bateu-se por um
sinal ao mercado e levou. Mas o
chefe da Casa Civil também conseguiu evitar que os cortes, pelo
menos agora, atingissem os investimentos.
Na semana anterior, o ministro
da Fazenda ficou incomodado
com uma declaração de Dirceu
dando conta de que ele apoiava
um projeto que estendia benefícios da Zona Franca de Manaus
para outros Estados. Palocci era
contra. As ações de Dirceu geraram dúvidas no mercado em relação à força de Palocci.
Na entrevista, os dois usaram
diversas vezes o termo "coesão" e
suas variações para se referir às
ações de governo. Foi um sinal
para tentar transmitir unidade, a
pedido do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, que os designou para falar da primeira reunião do
novo ministério.
O ministro da Fazenda, sempre
sorridente e calmo nas entrevistas, respondeu de forma mais dura do que a usual aos questionamentos dos jornalistas. Elevou
um pouco o tom de voz, brincou
menos, falou mais apressadamente e demonstrou contrariedade ao repetir que a política econômica não muda e que o combate à
inflação é a primeira precondição
para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto).
Algo irritado, pediu aos jornalistas que apresentassem exemplo
de país que teve crescimento econômico com inflação.
Ao elencar suas atribuições,
Dirceu disse que perdeu a coordenação política, mas teve "ampliada" a coordenação de governo. O
ministro, enquadrado por Lula
por ter se comportado como chefe de governo, deverá ter atuação
mais discreta e para dentro da
máquina pública.
O presidente não gostou do estilo de Dirceu, que posou de chefe
de governo quando ele estava em
viagem ao exterior. Durante a semana em que Lula voltou a dar
expediente, submergiu. Chegou a
faltar a cerimônias públicas. Só
ontem, quando Lula quis dar um
sinal político de união na equipe,
ele voltou aos holofotes.
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