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PREVIDÊNCIA
Norma do Congresso diz que não há tal garantia sobre o teto, mas ministros devem considerá-la inconstitucional
STF tende a reconhecer direito adquirido
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O esforço do governo de fixar o
teto do funcionalismo para cortar
supersalários deverá ser inócuo
porque o STF (Supremo Tribunal
Federal) tende a reconhecer o direito adquirido desses servidores
e preservar a remuneração.
Muitos ministros do STF dizem,
reservadamente, que não será
possível descontar os salários
constituídos ao longo dos anos de
forma regular, mesmo que supere
R$ 19.115,19, o valor do teto. Prevêem uma enxurrada de mandados de segurança dos servidores.
Para evitar essa interpretação, o
Congresso já inseriu na Constituição uma norma pela qual não há
direito adquirido sobre o teto,
mas há risco de o Supremo considerá-la inconstitucional. Na reunião de anteontem, o ministro
Marco Aurélio de Mello foi categórico: "As situações legitimamente alcançadas estão ao abrigo
da Constituição, sendo totalmente impróprio cogitar de redução,
em face do teto criado".
O chamado direito adquirido é
um princípio constitucional pelo
qual são validadas as situações
anteriores a uma determinada
norma que tiverem sido criadas
regularmente por leis ou atos considerados legais.
A decisão do STF de liberar o
pagamento de uma verba acima
do teto foi mal recebida por inúmeros juízes, para quem os ministros deliberaram em causa própria. Dizem que o tribunal impediu a aplicação do teto ao menos
em outras duas vezes.
A Folha teve acesso a e-mails
trocados entre magistrados com
ataques à posição do STF por ter
autorizado o pagamento extrateto
do jeton, de até R$ 5.870, a três
ministros que também atuam no
TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Anteontem, o STF decidiu que o
teto é de R$ 19.115,19, mas abriu
essa exceção. A emenda constitucional da previdenciária proibiu a
exclusão de "vantagens pessoais
ou de qualquer outra natureza".
"A Suprema Corte decidiu que a
Constituição vale para os outros,
não para os seus ministros", diz
um dos e-mails. "O teto moralizador pelo qual nós, juízes, sempre
lutamos mais uma vez morreu
afogado pela voracidade dos nossos ministros na defesa dos seus
próprios interesses", diz outro.
As mensagens foram passadas à
Folha com a condição de o nome
de seus autores não ser revelado.
São juízes da União e atuam na
primeira instância. O presidente
do STF, Maurício Corrêa, disse
que não comentaria os ataques.
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