São Paulo, sábado, 07 de fevereiro de 2004

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CASO SANTO ANDRÉ

Advogado de Sérgio Gomes da Silva diz que depoimento contradiz as versões das outras testemunhas

Nova testemunha contesta empresário

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

A nova testemunha do Ministério Público que diz ter presenciado o momento do seqüestro do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), contradiz o depoimento do empresário Sérgio Gomes da Silva, acusado pelo crime, e de outros homens presos pelo assassinato do petista.
Indicada durante depoimento do juiz federal João Carlos da Rocha Mattos, preso pela Operação Anaconda, o nome da testemunha está em segredo de Justiça. Por celular, a Folha conversou ontem com ela, que disse estar com medo e pediu para não ser identificada. Ela se recusou a falar sobre o crime.
A Folha apurou que, em seu depoimento, a testemunha disse ter visto um homem com um celular na mão ao lado de uma Pajero parada no meio da rua Antonio Bezerra (zona sul de São Paulo), por volta das 23h. Ela estava no caminho inverso ao do prefeito.
Ao se aproximar, disse ter visto um "homem grisalho tombado" no banco da frente do carro e vários homens armados próximos da Pajero. Ela não parou seu carro e, para passar pela rua, precisou que um dos homens armados, que estavam perto do homem com celular nas mãos, desse um passo para frente.
Apenas no dia seguinte, a testemunha disse ter tomado conhecimento do seqüestro do prefeito. Ao ver a foto de Daniel, afirmou, reconheceu o "homem grisalho" como sendo Daniel e Gomes da Silva como o homem do celular.
A cena narrada pela testemunha contradiz a versão apresentada por Gomes da Silva e por outros presos acusados do seqüestro e da morte de Celso Daniel.
Segundo o empresário, no momento em que a Pajero parou, homens armados arrancaram Daniel do carro. Gomes da Silva ainda estava no banco do motorista quando viu o prefeito ser levado pelos criminosos. Teve tempo para pegar um revólver, que estava em uma pasta atrás do banco, e, ao descer do carro, Daniel já havia sido levado.
Os presos da favela Pantanal, que já apresentaram várias versões nos últimos dois anos, afirmaram que Daniel foi o primeiro a sair do carro -uns dizem que foi forçado, outros que saiu para tentar dialogar.
Outras testemunhas ouvidas no caso não viram Daniel ou os criminosos. Disseram que viram Gomes da Silva, fora da Pajero, com uma arma em punho e extremamente nervoso. Alguns contaram que ele chorava muito e pedia ajuda aos moradores.
Procurado pela Folha, Roberto Podval, advogado de Gomes da Silva, afirmou que não iria comentar um depoimento judicialmente sigiloso. De uma forma genérica, afirmou que a versão da nova testemunha contradiz todas as demais testemunhas já apresentadas pelo Ministério Público.
"Não digo que a testemunha mentiu, ela não teria motivo para isso, mas cada testemunha contou uma versão sob o seu prisma e todas essas versões são diferentes, inclusive a do Sérgio, que estava sob uma rajada de metralhadora", afirmou Podval.
O promotor Roberto Wider Filho não quis falar sobre a nova testemunha. "Expor uma testemunha que está assustada, cuja identidade é mantida em sigilo judicial, é um absurdo", afirmou.


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