São Paulo, sábado, 07 de fevereiro de 2004

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CASO SANTO ANDRÉ

Câmeras podem identificar responsável

Promotor tenta achar motoqueiro que entregou cópias das escutas

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O promotor Roberto Wider Filho, que investiga o assassinato do prefeito Celso Daniel (PT), recorreu a três câmeras de vídeo instaladas na entrada do prédio onde mora, em São Paulo, para tentar descobrir o rosto do motoqueiro que entregou, de forma anônima, cópias das escutas telefônicas do caso Santo André.
Na sexta-feira passada, Wider e outros dois promotores do caso, José Reinaldo Carneiro e Amaro Thomé Filho, receberam simultaneamente em suas casas CDs com as escutas telefônicas do caso Santo André, que foram consideradas ilegais pela Justiça Federal. Eles encaminharam o material para análise de impressão digital.
As fitas, gravadas pela Polícia Federal após a morte de Daniel, em janeiro de 2002, reproduzem conversas entre petistas e pessoas ligadas ao empresário Sérgio Gomes da Silva -acusado pela Promotoria de ser o mandante do crime. Em novembro, a Folha divulgou que os diálogos não incriminam Gomes da Silva. Revelam mais que, na época, havia uma preocupação política em proteger a candidatura presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva.
As imagens captadas pelas câmeras de vídeo do prédio do promotor serão analisadas nesta semana. Para a Promotoria, a reprodução dos CDs do caso Santo André é uma estratégia para atrapalhar o trabalho da acusação.
Anteontem, advogados de Gomes da Silva requisitaram à Justiça a inclusão do material no processo judicial. O objetivo, segundo a defesa, é levar para o processo um material "ao qual todos já tiveram acesso".
O Ministério Público que, em janeiro chegou a falar em "revalidar" as escutas, não aceita essa inclusão por entender que o material foi editado. Não há conversas entre o ministro José Dirceu (Casa Civil) com o chefe-de-gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, cujo celular, à época, estava grampeado. Os dois, segundo o próprio Carvalho, se falavam todos os dias. Os CDs omitem ainda diálogos entre jornalistas, advogados e petistas. Há registro desses diálogos em documentos da Justiça.
O PT não concorda com o trabalho da Promotoria. Para o partido, a morte de Daniel foi crime urbano -não existia a intenção deliberada de matar o prefeito.
Os promotores concluíram que Daniel foi morto ao tentar frear um suposto esquema de corrupção na prefeitura. Parte do dinheiro, segundo testemunha, financiou campanhas políticas do partido -o que o PT nega.
Em janeiro, a Folha publicou que, após a morte de Daniel, outras seis pessoas vinculadas ao crime foram assassinadas em circunstâncias não esclarecidas. Esses crimes estão sob investigação.


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