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JANIO DE FREITAS
Antes da reta final
Nesta altura do ano eleitoral, e ainda por um bom
tempo, tudo o que se diga sobre as
condições e perspectivas dos concorrentes à Presidência não pode
passar de especulação. Nem as
pesquisas podem proporcionar
muito mais do que aparências
melhores às especulações. Em outros primeiros semestres de anos
eleitorais pós-ditadura, Brizola
apareceu como imbatível, os índices de Afif Domingos lhe prometiam presença na reta final, Lula
cansou de ser a aposta mais fácil,
para não falar na promissora
aprovação à pessoa de Ulysses
Guimarães, entre outros muitos
casos de vitoriosos derrotados.
Vamos, pois, à especulação.
Posso admitir a propalada tendência de que a disputa decisiva
se trave entre Lula e Serra, mas
prefiro especular sobre fases anteriores à disputa final. Muito mais
do que nas eleições anteriores, por
exemplo, as propostas administrativas vão, a meu ver, influir na
escolha do eleitor. E postas sob
nova ótica, desconfiada e mais rigorosa em relação aos truques de
marqueteiros, afinal reconhecidos pelo que são: tapeações.
Já na eleição anterior estava
evidente a ansiedade do eleitorado por propostas de superação da
política econômica de Fernando
Henrique/Malan. Oito anos de
exclusivismo antiinflacionário
deixavam cansaço geral. Serra ou
não se deu conta disso ou não teve
coragem de enfrentar o tema problemático. Calou. E pagou.
Ninguém soube o quê, afinal de
contas, distinguiria as políticas de
Serra e o esgotado mesmismo do
governo Fernando Henrique.
Mas nem era tão difícil, para Serra e seus marqueteiros, elaborar a
saída do tipo "Fernando Henrique estabilizou a moeda, fez as reformas etc., e sobre essa base vou
construir o grande crescimento
assim e assado". Serra preferiu
andar nas pontas dos pés para
não incomodar Fernando Henrique e os fernandistas do setor financeiro. Lula aproveitou.
Para nada. O cansaço que era
de oito anos é agora de 12. Com
um adendo: o numeroso eleitorado que aderiu ao lulismo de sempre e decidiu a eleição está, hoje,
frustrado e indignado. O que é
uma indicação preliminar de
maior exigência na escolha do voto, pelos padrões de renovação e
de confiabilidade que as propostas ofereçam.
Se essa especulação vier a demonstrar algum fundamento, há
motivo para Lula preocupar-se,
seja qual for a indicação atual
das pesquisas. Nas quais, de resto,
ele é o único em ativa exposição
eleitoreira pessoal e de propaganda paga pelo Tesouro Nacional.
Em que medida o candidato Lula
ainda será acreditado -eis a
questão. Dele e do PT.
De outra parte, não se sabe o
que pensa e tem a propor, como
saída para o círculo vicioso e viciado em que está o Brasil, nenhum dos possíveis concorrentes
de Lula. Mas se acontecer de alguns terem de fato o que dizer a
respeito, aí começariam a ganhar
mais sentido as especulações sobre a disputa final.
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