São Paulo, terça-feira, 07 de fevereiro de 2006

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JANIO DE FREITAS

Antes da reta final

Nesta altura do ano eleitoral, e ainda por um bom tempo, tudo o que se diga sobre as condições e perspectivas dos concorrentes à Presidência não pode passar de especulação. Nem as pesquisas podem proporcionar muito mais do que aparências melhores às especulações. Em outros primeiros semestres de anos eleitorais pós-ditadura, Brizola apareceu como imbatível, os índices de Afif Domingos lhe prometiam presença na reta final, Lula cansou de ser a aposta mais fácil, para não falar na promissora aprovação à pessoa de Ulysses Guimarães, entre outros muitos casos de vitoriosos derrotados.
Vamos, pois, à especulação. Posso admitir a propalada tendência de que a disputa decisiva se trave entre Lula e Serra, mas prefiro especular sobre fases anteriores à disputa final. Muito mais do que nas eleições anteriores, por exemplo, as propostas administrativas vão, a meu ver, influir na escolha do eleitor. E postas sob nova ótica, desconfiada e mais rigorosa em relação aos truques de marqueteiros, afinal reconhecidos pelo que são: tapeações.
Já na eleição anterior estava evidente a ansiedade do eleitorado por propostas de superação da política econômica de Fernando Henrique/Malan. Oito anos de exclusivismo antiinflacionário deixavam cansaço geral. Serra ou não se deu conta disso ou não teve coragem de enfrentar o tema problemático. Calou. E pagou.
Ninguém soube o quê, afinal de contas, distinguiria as políticas de Serra e o esgotado mesmismo do governo Fernando Henrique. Mas nem era tão difícil, para Serra e seus marqueteiros, elaborar a saída do tipo "Fernando Henrique estabilizou a moeda, fez as reformas etc., e sobre essa base vou construir o grande crescimento assim e assado". Serra preferiu andar nas pontas dos pés para não incomodar Fernando Henrique e os fernandistas do setor financeiro. Lula aproveitou.
Para nada. O cansaço que era de oito anos é agora de 12. Com um adendo: o numeroso eleitorado que aderiu ao lulismo de sempre e decidiu a eleição está, hoje, frustrado e indignado. O que é uma indicação preliminar de maior exigência na escolha do voto, pelos padrões de renovação e de confiabilidade que as propostas ofereçam.
Se essa especulação vier a demonstrar algum fundamento, há motivo para Lula preocupar-se, seja qual for a indicação atual das pesquisas. Nas quais, de resto, ele é o único em ativa exposição eleitoreira pessoal e de propaganda paga pelo Tesouro Nacional. Em que medida o candidato Lula ainda será acreditado -eis a questão. Dele e do PT.
De outra parte, não se sabe o que pensa e tem a propor, como saída para o círculo vicioso e viciado em que está o Brasil, nenhum dos possíveis concorrentes de Lula. Mas se acontecer de alguns terem de fato o que dizer a respeito, aí começariam a ganhar mais sentido as especulações sobre a disputa final.


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