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Governo atropela oposição e pede CPI que inclui anos FHC
Planalto deu aval à investigação sobre cartões, desde que antecessor também vire alvo
Em nota, PSDB diz que não "compactuará com farsa" e com "CPI para transformar em pizza investigação" sobre cartões corporativos
VALDO CRUZ
MARIA CLARA AMARAL
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao considerar inevitável uma
CPI dos Cartões Corporativos,
o governo mudou sua estratégia e decidiu se antecipar à oposição: propôs uma comissão
apenas no Senado para investigar gastos de cartões e despesas
eventuais de presidentes e ministros nos últimos dez anos, o
que incluiria o segundo mandato de FHC. O pedido foi protocolado ontem à noite na Mesa
Diretora do Senado.
A manobra, que teve o aval de
Lula, foi desencadeada ontem
na abertura dos trabalhos do
Congresso. Assim que a sessão
começou, o líder do governo no
Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), começou a circular pelo
plenário em busca das 27 assinaturas necessárias. Conseguiu
35, inclusive da oposição.
Surpreendida, a oposição criticou a manobra. "O PSDB não
compactuará com nenhuma
farsa, com nenhuma tentativa
de setores governistas de, pretensamente antecipando-se às
oposições, propor CPI para
transformar em "pizza" uma investigação sobre o escândalo
dos cartões corporativos", disse
o PSDB, em nota.
Enquanto os tucanos defendem uma comissão mista -Câmara e Senado- para investigar o uso de cartões desde 2001, o governo propôs uma restrita
aos senadores, englobando não
só os cartões mas também os
gastos dos chamados fundos de
suprimentos ou conta B, que
bancam pagamentos de despesas eventuais livres de licitação.
"O governo sabia que a CPI
era inevitável e se antecipou, só
que seu objetivo é criar confusão para preservar o sigilo dos
gastos do presidente e da primeira-dama", disse o senador
Alvaro Dias (PSDB-PR).
Logo cedo, Jucá se reuniu no
Palácio do Planalto com os ministros José Múcio Monteiro
(Relações Institucionais), Dilma Rousseff (Casa Civil), Paulo
Bernardo (Planejamento) e
Jorge Hage (Controladoria Geral da União). Na reunião, mencionou-se que em 2002, último
ano de FHC, o governo teria
gasto com as contas B
R$ 229 milhões e, com cartões,
R$ 3,6 milhões.
No ano passado, foram R$ 77
milhões com cartões e R$ 98
milhões com as contas B, utilizadas por ministros e servidores para bancar despesas que
podem ser efetuadas com dispensa de licitação. "Vamos ver
quem gastou mais", desafiou
Jucá, já no Congresso. Descansando no Guarujá, Lula foi contatado por telefone por Dilma e
deu seu aval à manobra.
"A oposição queria a CPI. Então, vamos fazê-la. E podemos
investigar até os gastos do presidente, mas não só do atual governo", disse Jucá. Criticado
por limitar a CPI ao Senado, o
líder disse que naquela Casa a
correlação de forças é mais
equilibrada, enquanto na Câmara o Planalto tem maioria.
Esse discurso esconde o temor do governo de tentar controlar uma CPI na Câmara, onde fica sujeito a pressões de deputados governistas e o custo
político sai mais caro com distribuição de cargos e verbas.
Para evitar problemas, o governo quer acelerar as negociações
com o PMDB em torno dos cargos do setor elétrico.
"O governo deu um tiro pé.
Todo mundo sabe como uma
CPI começa, mas ninguém sabe
como termina", disse o senador
Efraim Morais (DEM-PB).
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