São Paulo, quinta-feira, 07 de abril de 2005

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Delegado diz que PF evitou conflito agrário no Paraná

MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

O delegado da Polícia Federal que coordenou a Operação Março Branco no Paraná, Fernando Francischini, disse ontem que a prisão dos integrantes do grupo acusado de se armar para enfrentar o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) "abortou uma situação de confronto no campo", marcada para ocorrer entre hoje e amanhã, na região de Ponta Grossa (PR).
"Conversas de escutas telefônicas nos indicaram que o grupo iria fazer uma ação grande na região nesta quinta [hoje] ou sexta-feira, para tirar os sem-terra de duas áreas", disse Francischini.
O delegado comandou 60 policiais numa operação conjunta com a PM do Paraná, que prendeu anteontem o tenente-coronel Waldir Copetti Neves e mais sete pessoas -quatro PMs da reserva, um ex-PM e dois civis- em Curitiba, Ponta Grossa e Cascavel. Eles são acusados de criar uma organização criminosa que prestava segurança a fazendeiros e agia na intimidação dos sem-terra para que saíssem das invasões.
A PF diz ter recolhido provas suficientes de que o grupo era financiado por fazendeiros da região. Eles fariam pagamentos de "cotas mensais", na maioria de R$ 800, pelos serviços da milícia de Neves. Diretamente acusado, o Sindicato Rural de Ponta Grossa negou que faça uso da organização armada.
Segundo Francischini, o grupo armado tinha plano de agir em março, mas resolveu esperar abril, quando os acompanhamentos estariam esvaziados com o deslocamento de parte dos invasores para marchas pela reforma agrária em Brasília e Goiânia, programadas para este mês.
O delegado disse que os despejos não autorizados seriam realizados numa fazenda de posse do tenente-coronel e no acampamento Emiliano Zapata, onde há 40 famílias invasoras.
Nas casas dos acusados foram apreendidas 16 armas de fogo, incluindo armamento de uso restrito -como cinco escopetas calibre 12 e duas carabinas- e munição fabricada fora do país. Neves vai responder por tráfico internacional de armas. A PF o acusa de trazer as armas ilegalmente do Paraguai.
O secretário da Segurança Pública do Paraná, Luiz Fernando Delazari, disse que o coronel "utilizava o cargo e a estrutura da PM para organizar um grupo de extermínio e de pistolagem".
Ele afirmou que a prisão do oficial antecipa "uma limpeza na PM, retirando de cena quadrilheiros travestidos de policiais". Além dos processos na esfera federal, o oficial vai responder a um Conselho Disciplinar da PM e será demitido, segundo Delazari.
A investigação da Polícia Federal sobre a organização armada começou há dez meses com um pedido do governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.


Colaborou JOSÉ MASCHIO, da Agência Folha, em Londrina

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