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Delegado diz que PF evitou conflito
agrário no Paraná
MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA
O delegado da Polícia Federal
que coordenou a Operação Março Branco no Paraná, Fernando
Francischini, disse ontem que a
prisão dos integrantes do grupo
acusado de se armar para enfrentar o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra)
"abortou uma situação de confronto no campo", marcada para
ocorrer entre hoje e amanhã, na
região de Ponta Grossa (PR).
"Conversas de escutas telefônicas nos indicaram que o grupo
iria fazer uma ação grande na região nesta quinta [hoje] ou sexta-feira, para tirar os sem-terra de
duas áreas", disse Francischini.
O delegado comandou 60 policiais numa operação conjunta
com a PM do Paraná, que prendeu anteontem o tenente-coronel
Waldir Copetti Neves e mais sete
pessoas -quatro PMs da reserva,
um ex-PM e dois civis- em Curitiba, Ponta Grossa e Cascavel. Eles
são acusados de criar uma organização criminosa que prestava segurança a fazendeiros e agia na intimidação dos sem-terra para que
saíssem das invasões.
A PF diz ter recolhido provas
suficientes de que o grupo era financiado por fazendeiros da região. Eles fariam pagamentos de
"cotas mensais", na maioria de R$
800, pelos serviços da milícia de
Neves. Diretamente acusado, o
Sindicato Rural de Ponta Grossa
negou que faça uso da organização armada.
Segundo Francischini, o grupo
armado tinha plano de agir em
março, mas resolveu esperar
abril, quando os acompanhamentos estariam esvaziados com o
deslocamento de parte dos invasores para marchas pela reforma
agrária em Brasília e Goiânia, programadas para este mês.
O delegado disse que os despejos não autorizados seriam realizados numa fazenda de posse do
tenente-coronel e no acampamento Emiliano Zapata, onde há
40 famílias invasoras.
Nas casas dos acusados foram
apreendidas 16 armas de fogo, incluindo armamento de uso restrito -como cinco escopetas calibre 12 e duas carabinas- e munição fabricada fora do país. Neves
vai responder por tráfico internacional de armas. A PF o acusa de
trazer as armas ilegalmente do
Paraguai.
O secretário da Segurança Pública do Paraná, Luiz Fernando
Delazari, disse que o coronel "utilizava o cargo e a estrutura da PM
para organizar um grupo de extermínio e de pistolagem".
Ele afirmou que a prisão do oficial antecipa "uma limpeza na
PM, retirando de cena quadrilheiros travestidos de policiais". Além
dos processos na esfera federal, o
oficial vai responder a um Conselho Disciplinar da PM e será demitido, segundo Delazari.
A investigação da Polícia Federal sobre a organização armada
começou há dez meses com um
pedido do governador do Paraná,
Roberto Requião (PMDB), ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz
Bastos.
Colaborou JOSÉ MASCHIO, da Agência
Folha, em Londrina
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